Ex-astronauta alemão Thomas Reiter diz que os dois grandes objetivos da Agência Espacial Europeia nos próximos anos são ir ao Planeta Vermelho e voltar à Lua. Em entrevista à Deutsche Welle, ele defende investimentos no setor.
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Thomas Reiter foi o primeiro astronauta alemão a realizar uma caminhada espacial, durante o seu tempo na estação espacial MIR de setembro de 1995 a fevereiro de 1996. Ele defende investimentos em programas espaciais e prevê a ida do homem a Marte e o retorno à Lua na próxima década.
"A partir do nível de conhecimento e das capacidades que estamos desenvolvendo, levar o homem de volta à Lua e também para Marte poderia acontecer a partir de 2025 até 2030", diz Reiter, hoje diretor do departamento de voos tripulados da Agência Espacial Europeia (ESA).
Deutsche Welle - O que podemos esperar, em termos de viagens espaciais, para os próximos anos?
Thomas Reiter -
A ESA definiu três destinos de exploração. Um deles é a órbita baixa da Terra, que, neste momento, significa a Estação Espacial Internacional (ISS), onde estamos usando a plataforma para fazer uma ampla, fundamental e aplicada investigação científica para o benefício da humanidade em geral, mas também para desenvolver nossas capacidades e tecnologias para fazer mais exploração humana.
O segundo destino é, naturalmente, a Lua. Eu realmente espero que possamos ver o retorno do homem à superfície da Lua na segunda metade da próxima década. Eu acho que isso é muito realista, mas, certamente, é algo que só pode ser feito e alcançado em um contexto internacional.
O terceiro destino é Marte. Esse é um pouco mais a longo prazo. Estamos em uma fase de exploração robótica do planeta vizinho para entender mais sobre esse ambiente, para responder a perguntas como "Houve ou há ainda vida neste planeta?". Isso também é um aspecto importante na preparação de uma futura missão humana a Marte — mas isso, eu diria hoje, vai levar algum tempo. Por agora, a ESA está preparando as missões exo-Mars (missão não tripulada para explorar Marte), que consistem de voos que serão lançados no próximo ano e, dois anos mais tarde, levarão um veículo para a superfície de Marte.
Temos também uma colaboração com os nossos parceiros da Nasa, nos Estados Unidos. Estamos construindo o chamado módulo de superfície para a espaçonave Orion. Ela vai levar os seres humanos para além da órbita terrestre baixa. O voo inaugural, ainda não tripulado, será em 2018. O primeiro voo tripulado está previsto para 2020. Então, vamos ver os seres humanos indo além órbita terrestre baixa novamente, indo ao redor da Lua.
Deutsche Welle - Qual é o prazo exato? Quando vamos ver o homem em Marte?
Thomas Reiter -
A partir do nível de conhecimento e das capacidades que estamos desenvolvendo, levar o homem de volta à Lua e também para Marte poderia acontecer na segunda metade da próxima década. Eu diria que a partir de 2025 até 2030 — nesse período de tempo, nós poderíamos ver o homem retornar à Lua. Desde que os parceiros acordem, em conjunto com a Europa, tomar esse caminho.
Deutsche Welle - A Alemanha desempenha um papel importante em diversos projetos da ESA?
Thomas Reiter -
Definitivamente, sim. A Alemanha é um dos mais fortes apoiadores do programa ISS — cerca de 37% do orçamento é financiado pela Alemanha. Então, é claro que eu conto com o maior apoio da Alemanha, mas também de todos os países-membros que estão participando do programa. Onze dos 22 países membros da ESA estão participando do projeto ISS. Alemanha tem desempenhado um papel muito importante e espero que isso continue, não só para o ISS, mas também para outras atividades de exploração.
Deutsche Welle - Os críticos dizem que os bilhões gastos em programas espaciais deveriam ser mais bem investidos aqui na Terra. O que você diria para as pessoas que se perguntam "não deveríamos usar esse dinheiro para lidar com questões terrenas, como a crise dos refugiados?"
Thomas Reiter -
Essa é, de fato, uma questão válida e importante. Claro, nós vemos que temos uma situação crítica no momento em relação aos refugiados. Quanto a questões de longo prazo, temos coisas para cuidar, como as mudanças climáticas. Esses são problemas com que a humanidade precisa lidar. Mas eu acho que nós estamos fazendo isso.
Especificamente, toda essa pesquisa e atividades que a ESA e seus parceiros estão fazendo no espaço — elas nem sempre trarão um retorno direto amanhã, mas estão preparando o futuro. Portanto, eu acho que é um bom investimento. Com qualquer investimento, precisamos focar não apenas no que vai acontecer amanhã ou daqui a uma semana, mas daqui 10 ou 20 anos. É por isso que eu acho que os nossos investimentos são importantes.