Matar é um ato natural para chimpanzés, diz estudo

18 set 2014 - 16h11

Jonathan Webb

Repórter de Ciência da BBC News

Um grande estudo internacional chegou à conclusão que o ato de matar é um comportamento natural para chimpanzés, por causa da competição entre estes animais, em vez de ser causado pela interferência humana, como se cogitava.

Além dos seres humanos, estes macacos são os únicos primatas a atacar fatalmente outros de sua espécie, mas primatologistas discordavam sobre as razões deste comportamento.

Uma das hipóteses previa que isso que ocorre porque a ação do homem, como a destruição de habitats ou o ato de alimentar chimpanzés, aumentava sua agressividade.

Mas a nova pesquisa, publicada na revista Nature, sugere outro motivo.

Seleção natural

Nunca um estudo havia reunido tantos dados sobre a letalidade desses incidentes. Nele, mais de 30 cientistas analisaram dados de observação de 18 grupos que somariam 496 anos de trabalho.

Foram registrados 152 assassinatos, 58 deles testemunhados por pesquisadores - os restantes foram contabilizados com base na investigação de corpos ou das circunstâncias relativas à morte ou desaparecimento de um chimpanzé.

Ao comparar as taxas de diferentes locais, os cientistas descobriram que o nível de interferência humana (se eles tinham sido alimentados ou tiveram seu habitat restringido) tinha pouco impacto sobre o número de assassinatos.

Em vez disso, eram as características básicas de cada comunidade que faziam a diferença: o número machos de um grupo e a densidade populacional de uma área.

Os chimpanzés viviam em colônias bem definidas, com grupos de machos patrulhando as fronteiras de seu território. É nestes locais que os conflitos costumam ocorrer, especialmente se a patrulha encontrar um macaco de uma comunidade vizinha.

Esses parâmetros permitiram relacionar o grau de violência à seleção natural: matar concorrentes aumenta as chances de um macho ter acesso a recursos, como comida e território, e isso ocorre com mais frequência quando há uma competição maior entre grupos vizinhos.

Evolução

Joan Silk, da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, diz no artigo publicado na Nature que estes resultados "devem finalmente enterrar a ideia" de que a violência de chimpanzés na natureza é resultado da interferência humana.

Ela ainda afirma que nossa percepção destes animais, nossos primos na escala evolucionária, pode ser distorcida pelo fato de queremos acreditar que só comportamentos agradáveis e pacíficos estão presentes na origem da espécie humana e não também os comportamentos desagradáveis e violentos.

"Este achado não significa que humanos estão destinados à guerra só porque chimpanzés matam a seus vizinhos", diz Silk.

John Mitani, um ecologista comportamental da Universidade de Michigan e um dos autores do estudo, concorda.

"As taxas de assassinatos variam muito de um grupo para outro, então, mesmo entre eles, assassinatos não são algo inevitável. E, claro, somos humanos e podemos moldar nosso comportamento de formas que chimpanzés não podem."

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