Médico que descobriu a origem do Down pode ser canonizado

No aniversário de 20 anos da morte do cientista considerado "pai da genética moderna", conheça quem foi Jérôme Lejeune e os avanços que suas descobertas possibilitaram em relação à Síndrome de Down

3 abr 2014 - 17h06
(atualizado em 7/4/2014 às 17h01)
<p>1962: professor Jérôme Lejeune, então diretor de Genética Humana da Universidade de Paris</p>
1962: professor Jérôme Lejeune, então diretor de Genética Humana da Universidade de Paris
Foto: AFP

Cientista e santo da Igreja Católica. Ao longo da história são raros os casos em que essas qualificações se aplicaram à mesma pessoa. Até porque, para muitos, fé e ciência são incompatíveis. Por seus estudos de genética e por ser um defensor das causas da Igreja, Jérôme Jean Louis Marie Lejeune foi um dos poucos homens a transpor essa barreira.

Morto aos 68 anos, vítima de um câncer, em 3 de abril de 1994, há exatos 20 anos, o médico francês poderá ser canonizado em breve pela Igreja.

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Lejeune, o pai da genética moderna

Jérôme Lejeune nasceu em Montrouge, na França, em 1926. Foi pediatra, professor de genética e cientista, e seu nome é sempre lembrado em função de sua descoberta da origem da Síndrome de Down: uma anomalia no cromossomo 21, que gera a trissomia 21, como também é chamada.

Foi em 1958, após seis anos de carreira, que o francês conseguiu revelar fotos de cromossomos em seu laboratório e expôs uma hipótese sobre a influência deles como causa da Síndrome de Down. Na época, o cientista estudou o caso de três meninos portadores, para comprovar sua hipótese que, foi, aliás, a primeira na história a estabelecer um vínculo entre um estado de deficiência mental e uma aberração cromossômica.

Imagem de cromossomos humanos durante uma de suas fases de formação
Foto: Wikipédia

"A Síndrome de Down já havia sido descrita por John Langdon Down, quase 100 anos antes. Lejeune identificou a alteração genética responsável pelo quadro, o que possibilita a realização do diagnóstico laboratorial pelo cariótipo. Isto quase anula a possibilidade de erro diagnóstico, e também tornando viável o aconselhamento genético para os pais", explica a médica geneticista do Ambulatório de Diagnóstico da Apae de São Paulo, Dra. Fabíola Paoli. 

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Entre os prêmios e honrarias recebidas pelo professor, um especial foi entregue pelas mãos do presidente americano John F. Kennedy em 1962
Foto: AFP

Segundo a médica, as pesquisas de Jerome Lejeune, não só direcionadas para a Síndrome de Down, foram capazes de pavimentar o caminho para a descoberta de muitas outras aberrações que ocorrem com certa frequência. 

Após quase 60 anos da descoberta do francês, portadores de Down possuem uma qualidade de vida melhor - vivendo quase 50 anos a mais do que na década de 1940 (hoje, a expectativa de vida está entre 60 e 70 anos e na época era de, no máximo, 18 anos).

Outros avanços nesta área também aconteceram em relação à conscientização, estímulo e de acompanhamento das crianças com síndrome de Down. No Brasil, desde 2012, o Ministério da Saúde publicou um manual com diretrizes para a Atenção à Saúde da Pessoa com Síndrome de Down no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) - um grande passo para as famílias e os portadores. 

Um cientista contra o aborto

Por causa da descoberta da anomalia no cromossomo 21 e de outras realizadas depois, Lejeune é chamado de “pai da genética moderna”, obtendo, ainda em vida, entre várias honrarias e títulos, os de doutor Honoris Causa das universidades de Düsseldorf (Alemanha), Pamplona (Espanha), Buenos Aires (Argentina) e da Pontifícia Universidade do Chile.

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O “pai da genética moderna” era também  membro da Academia de Medicina da França, da Academia Real da Suécia, da American Academy of Arts entre outras. Ele ainda participou e presidiu comissões internacionais da ONU e OMS.

Como cientista, ganhou prêmios pelos seus trabalhos sobre as patologias cromossômicas, entre os quais o Prêmio Kennedy em 1962, que recebeu diretamente das mãos do presidente John F. Kennedy. 

Apesar de todos os títulos e descobertas importantes para a ciência, o médico francês nunca chegou a ganhar um Prêmio Nobel. Lejeune chegou a falar que perdera este prêmio por ser um cientista que se posicionava contra o aborto, aliás, afirmava ser “a favor da vida”. 

“Se um óvulo fecundado não é, por si só, um ser humano, ele não poderia se tornar um, pois nada é acrescentado a ele”, defendia o cientista.

O Papa João Paulo II visitou em 1997 o túmulo do professor Lejeune, que morreu em 1994. O cientista descobridor da trissomia 21 foi oponente do aborto e ativista da Igreja
Foto: AFP

Em 1971, quando fez um discurso contra o aborto no National Institute for Health, mandou uma mensagem à sua esposa dizendo: “hoje perdi meu Prêmio Nobel”. 

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Católico fervoroso, o geneticista era amigo pessoal do Papa João Paulo II, quem fez questão de visitar sua túmulo em Paris e que, por várias vezes, foi visto com o cientista.  

A poucos passos da santidade

Apesar de não ter recebido o prêmio Nobel, Lejeune poderá receber um dos maiores "prêmios" da humanidade: quase sete anos depois da abertura da causa de beatificação e canonização (realizada em junho de 2007) e vinte anos depois de seu falecimento, a etapa diocesana - que consiste em um trabalho de instrução e análise do "servo de Deus", realizado por voluntários, peritos, historiadores, cientistas e teólogos - foi finalizada. 

Agora, o processo de santificação passará por nova fase e será analisado no Vaticano.

Caso seja considerado santo, Jérôme Lejeune fará parte do raro time daqueles que defendiam tanto a Ciência, quanto a religião. Em mais de dois mil anos, o pai da genética moderna poderá estar entre os 12 médicos santos da Igreja. 

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Fonte: Terra
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