Há décadas, a apicultura confiou na crença de que o agrupamento natural de abelhas em colmeias proporciona isolamento evolutivo, essencial para a saúde das colônias durante os invernos rigorosos. No entanto, um novo estudo lança uma nova luz sobre esse conceito, questionando se essa união é realmente benéfica ou se representa, na verdade, um estado de angústia para as abelhas.
Em uma análise inovadora, o pesquisador Derek Mitchell, doutorando em Engenharia Mecânica na Universidade de Leeds, revela que a concentração de abelhas em colmeias pode ser mais um comportamento de angústia do que uma reação positiva às variações de temperatura.
Desconstruindo o mito do agrupamento benéfico
Tradicionalmente, acreditava-se que o agrupamento de abelhas durante o inverno servia como um isolante térmico eficiente. A formação de densos discos de abelhas, conhecidos como aglomerados, entre os favos de mel, era considerada uma estratégia para manter o calor produzido no núcleo da colmeia.
Com base nessa crença, a prática contemporânea dos apicultores envolve colocar colônias em armazenamento refrigerado durante o verão. O estudo de Mitchell evidencia que essa prática, baseada em antigas crenças sobre o benefício do agrupamento, pode, na verdade, resultar em desconforto e angústia para as abelhas.
Mitchell destaca que a ideia tradicional da concentração como isolamento evolutivo é baseada em observações em colmeias de madeira fina, cujas propriedades térmicas diferem significativamente das cavidades naturais de árvores.
Efeito do agrupamento na transferência de calor
O estudo revela que o agrupamento não age como um isolante eficiente, mas, pelo contrário, atua como um dissipador de calor. A compressão do aglomerado aumenta a condutividade térmica, resultando em uma transferência mais eficiente de calor do núcleo para as camadas externas, onde as abelhas têm uma temperatura corporal mais baixa.
Em vez de funcionar como uma espécie de "cobertor térmico" que isola o núcleo, a compressão do aglomerado pode resultar em uma luta constante para as abelhas manterem uma temperatura mínima e, consequentemente, uma dissipação mais eficiente do calor.
Necessidade urgente de mudanças nas práticas apícolas
Considerando as descobertas do estudo, é imperativo repensar as práticas apícolas para reduzir a frequência e a duração do agrupamento. Destaca-se a importância de uma abordagem ética para o manejo de abelhas, considerando não apenas a tradição, mas também a evolução do conhecimento científico.
Em um setor onde a tradição muitas vezes dita as práticas, o estudo de Mitchell desafia noções arraigadas sobre o bem-estar das abelhas. As implicações dessas descobertas podem orientar mudanças significativas nas colmeias e no manejo apícola. Ao abraçar uma abordagem baseada em evidências, a apicultura pode evoluir para garantir não apenas a produtividade, mas também o bem-estar genuíno das colônias, alinhando-se com as necessidades reais das abelhas em seu ambiente artificial. Este é um chamado urgente para uma apicultura mais consciente e sustentável.