Morte e misticismo se unem nas catacumbas das 8 mil múmias de Palermo

21 mai 2014 - 06h17

Um obituário sem fim, uma religiosidade marcada por inumeráveis citações do Novo Testamento em seus muros e um encontro tête-à-tête com oito mil corpos mumificados é o que oferecem as Catacumbas dos Capuchinhos de Palermo (Sicília), um museu único no mundo.

A cidade de Palermo é conhecida por suas belas praias, seu grande patrimônio histórico e uma gastronomia deliciosa, mas também oferece um museu mortuário que põe a toda prova os nervos, medos e sensibilidades mais profundas do ser humano.

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"Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá", é uma citação do Evangelho de São João que em grandes letras pretas sobre o muro branco recebe os visitantes desta particular galeria na qual os objetos de artes são os próprios defuntos.

Ao descer alguns degraus que separam a entrada principal das seis câmaras que compõem a galeria é possível observar que o que está pendurado nas paredes deste museu não são quadros, mas mortos, múmias e mais múmias que constituem uma arrasadora ode funerária coletiva.

"Muita gente se surpreende, sabem que vêm às catacumbas mas não esperam ver os corpos assim, pendurados, tão bem conservados", explicou em entrevista à Agência Efe Fabrizio Fernández, responsável do local.

Fernández define o museu como um lugar de paz, onde é possível meditar e sentir a religiosidade e enfrentar uma morte inevitável, mas por conta da pressa da vida diária e do medo que esta mesma causa passou hoje a um lugar marginal.

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Por isso, para enfrentar o choque do momento, a câmara das "Crianças" é uma das que abre a visita, seguida pela dos "Homens", "Mulheres", "Profissionais", "Sacerdotes" e "Frades".

"Há quem venha por curiosidade, mas também quem faz a visita com um sentido especial, para sentir a vida e a morte", afirmou Fernández, que apontou o lado macabro como outra possível causa das visitas.

Muito diversos motivos devem chamar os cerca de 40 mil visitantes que se aproximam das catacumbas a cada ano e que comprovam através dos defuntos a vida de outra época não tão distante.

Como explica Fernández, o museu abriu suas portas no ano 1950 embora sua história remonte a 1599, quando os capuchinhos o estabeleceram como lugar de repouso para os frades defuntos.

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Já no século XVII e com o conhecimento de suas ideais condições para a conservação dos cadáveres, o peculiar cemitério foi aberto a "homens de bem" e pouco a pouco foi se estendendo ao resto da população até se transformar em uma tradição de Palermo.

"Eram divididos não só por sexos, mas também por categorias sociais e econômicas. Quanto à mumificação, em princípio, os corpos eram secados ao sol, depois o método de conservação foi se refinando", explicou Fernández.

Um refinamento que chegou a seu ague com Rosalía Lombardo, conhecida como a múmia melhor conservada do mundo.

Falecida em 1920, esta menina de dois anos foi mumificada por Alfredo Salafia, elogiado por estudiosos de todo o mundo por seu excelente estado de conservação, quase sem danos.

Antes de fechar a visita às Catacumbas, há uma menção especial entre as câmaras das "Mulheres virgens", que possuem um espaço próprio e que vestem excelentes peças brancas danificadas só pelo tempo.

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Também cabe ressaltar as celebridades locais do quarto dos "Mestres", entre os quais se encontram os escultores Felipe Pennino e Lorenzo Marabitti, o cirurgião Salvatore Manzella, o coronel Enea Diguiliano e inclusive, segundo conta a lenda, o filho de um rei da Tunísia que se converteu ao catolicismo.

Todos eles usam distintas e didáticas roupas, vestes que constituem o principal sinal de identidade destes indivíduos e famílias que decidiram ficar expostos para os olhos de seus descendentes e de curiosos.

  
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