O inventor asmático que ajuda a transformar poluição do ar em ladrilhos

A poluição atmosférica é uma das principais causas de problemas de saúde em todo o mundo, mas um inventor indiano espera tornar mais fácil respirar capturando a fuligem do ar e reciclando-a.

1 dez 2021 - 12h45
Um homem com uma mala caminha em direção ao Portão da Índia em Nova Déli envolto em poluição
Um homem com uma mala caminha em direção ao Portão da Índia em Nova Déli envolto em poluição
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A poluição é uma das principais causas de problemas de saúde em todo o mundo, mas um inventor indiano espera tornar mais fácil respirar limpando a fuligem do ar e ajudando a reciclá-la em ladrilhos.

Aos 10 anos de idade, morando em Mumbai, Angad Daryani costumava ter dificuldade para respirar durante as partidas de futebol por causa da forte poluição que cercava a megacidade indiana. O ar altamente poluído parecia agravar sua asma.

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"Sempre tossia por causa da poluição", diz Daryani, que hoje tem 23 anos. "Cresci com asma. Isso diminuiu minha capacidade de correr."

A Índia abriga 22 das 30 cidades mais poluídas do mundo, e o ar mata mais de 1 milhão de pessoas a cada ano no pais.

O ar das cidades da Índia frequentemente contém níveis perigosamente altos de partículas finas, conhecidas como PM2.5 e associada a doenças pulmonares e cardíacas e problemas cognitivos e imunológicos.

A poluição do ar por PM2.5 causou cerca de 54 mil mortes prematuras na capital Nova Déli em 2020, de acordo com uma análise do Greenpeace no Sudeste Asiático.

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O sistema de filtragem de ar de Angad Daryani é usado para extrair fuligem do ar e fazer ladrilhos
Foto: Angad Daryani / BBC News Brasil

"Na Índia, você percebe uma grande diferença nos níveis de energia em comparação com as cidades dos Estados Unidos", diz Daryani. "Você se cansa assim que acorda por causa da poluição."

A poluição do ar também contribui para o aquecimento global. Um dos principais componentes do PM2.5 é o carbono negro, que pode absorver 1 milhão de vezes mais energia do sol do que o dióxido de carbono.

Especialistas dizem que a redução de poluentes como o carbono negro pode ajudar a desacelerar o aquecimento global e melhorar a qualidade do ar.

Incentivado por sua própria experiência dos efeitos da poluição do ar sobre sua saúde, Daryani é um entre um número crescente de empresários que desejam limpar os céus da Índia.

Sua solução é capturar a fuligem e outras partículas poluentes em recipientes para que possam ser transformadas em algo útil, como ladrilhos usados na construção civil.

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A pandemia de coronavírus também destacou como é urgente combater a poluição do ar, tratando-a como um risco à saúde pública, bem como uma ameaça climática, diz Daryani.

"A poluição do ar mata 7 milhões de pessoas em todo o mundo todos os anos, mas não a levamos tão a sério quanto a covid-19", diz ele.

Sem tempo a perder

Incentivado por sua própria experiência com a asma, o inventor indiano Angad Daryani decidiu criar um dispositivo que purifica o ar
Foto: Angad Daryani / BBC News Brasil

No ano passado, Nova Déli registrou a maior concentração de partículas de PM2.5 até hoje, 14 vezes o limite de segurança estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em meados de novembro, as autoridades ordenaram o bloqueio da cidade para tentar reduzir os níveis de poluição.

Vários estudos sugerem que níveis persistentemente altos de poluição do ar podem ter aumentado significativamente as mortes por covid-19.

Um aumento de PM2.5 de apenas 1 micrograma por metro cúbico correspondeu a um aumento de 15% nas mortes de covid-19 em cidades dos Estados Unidos, de acordo com um estudo da Universidade Harvard.

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"Para cada pequeno incremento na poluição do ar, há um aumento substancial na mortalidade", diz Aaron Bernstein, diretor do Centro para Clima, Saúde e Meio Ambiente Global de Harvard.

Para Daryani, não há tempo a perder - a Índia deve reduzir urgentemente a poluição para proteger a saúde das pessoas.

"Até que todos os veículos sejam elétricos, levará pelo menos 30 anos. Durante esse tempo, as cidades ficarão sufocadas com a poluição", diz ele. "Temos que purificar o ar de uma maneira hiperlocal."

Sua solução para o problema é sedutoramente simples: desenvolver um sistema de baixo custo que possa capturar a poluição para que possa ser transformada em outra coisa.

Enquanto estudava engenharia no Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, Daryani projetou um sistema de purificação externa que remove partículas e outros poluentes do ar. O aparelho aspira as partículas poluentes e as coleta em um recipiente.

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Depois de projetar seu primeiro aparelho, Daryani lançou a Praan em 2017 com o objetivo de construir um purificador de ar acessível e versátil.

O objetivo é projetar o primeiro purificador sem filtro do mundo que pode limpar o máximo de ar possível, ao mesmo tempo em que se adapta à infraestrutura.

Ladrilhos elegantes

Daryani espera tornar mais fácil respirar nas cidades indianas, removendo os poluentes do ar e reciclando-os em ladrilhos de construção
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os aparelhos de Praan têm 176 cm de altura e podem ser facilmente montados em postes de rua, blocos de apartamentos e escolas.

Dois dispositivos custam menos que o último iPhone Pro, à venda na Índia por US$ 1.830 (R$ 10,3 mil), diz Daryani.Usar filtros, como em purificadores de ar domésticos, não é uma opção, pois eles precisariam ser substituídos todos os dias em uma cidade poluída, de acordo com Daryani.

Hotéis que usam purificadores internos gastam cerca de US$ 100 mil (R$ 560 mil) por ano com filtros, diz ele. "Para cidades da Ásia, percebi que precisava ser sem filtro."

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A câmara de coleta precisa ser esvaziada a cada dois a seis meses, dependendo da poluição do ar externo. Mas, em vez de apenas jogar fora os poluentes capturados, Daryani e sua equipe decidiram fazer uso deles.

O carbono capturado nos contêineres é dado a outra empresa indiana, a Carbon Craft Design, que usa os poluentes em pó para criar ladrilhos decorativos elegantes e artesanais.

Os poluentes de carbono agem como um pigmento que é combinado com resíduos de pedra de pedreiras e um agente de ligação, como argila ou cimento, antes de ser cortado em padrões delicados.

A Praan concluiu recentemente sua primeira rodada de investimentos, levantando US$ 1,5 milhão (R$ 8,44 milhões) de investidores americanos e indianos.

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Daryani planeja usar este financiamento para executar um programa piloto, instalando aparelhos em escolas, hotéis e indústrias em toda a Índia.

Ele também espera disponibilizar a tecnologia fora da Índia nos próximos anos.

Mas garantir que o dispositivo seja acessível é uma prioridade. "Muitos dos países mais poluídos do mundo estão entre os mais pobres", diz Daryani.

"Os pobres trabalham em fábricas, constroem ruas e redes de infraestrutura e usam transporte público para ir ao trabalho. Eles vivem e trabalham nos ambientes mais poluídos."

As famílias de baixa renda na Índia correm maior risco de morrer de poluição do ar, apesar de não produzi-la elas próprias, de acordo com um estudo recente.

Os aparelhos criados por Angad Daryani podem limpar as partículas do ar sem a necessidade de um filtro
Foto: Angad Daryani / Praan / BBC News Brasil

"As famílias de baixa renda, apesar de não produzirem muita poluição do ar indiretamente porque não consomem muito, estão enfrentando um impacto desproporcional da poluição do ar de outras fontes", diz a autora principal do estudo Narasimha Rao, professora da Escola de Meio Ambiente de Yale, nos Estados Unidos.

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"Crianças em favelas, famílias forçadas a morar perto de áreas industriais ou rodovias sempre precisarão de inovações adicionais para reduzir os prejuízos à saúde e à produtividade", disse Shruti Rajagopalan, economista que lidera o programa Emergent Ventures, que fez dois investimentos consecutivos na Praan.

Daryani também começou a projetar um novo dispositivo que pode capturar dióxido de carbono na esperança de começar a remover o gás de efeito estufa do ar.

Ele espera ter um dispositivo capaz de remover uma tonelada de CO2 do ar instalado na Índia até o final do ano e que possa ser colocado em parques ou áreas industriais.

"As gerações futuras precisam sentir que têm um futuro", diz ele.

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