Cientistas descobriram pela primeira vez um reservatório de água líquida em Marte, nas profundezas da crosta rochosa mais externa do planeta.
As descobertas vêm de uma nova análise de dados da sonda Insight, da Nasa, que pousou no planeta vermelho em 2018.
A sonda carregava um sismômetro, que registrou quatro anos de tremores nas profundezas de Marte.
A análise dessa movimentação revelou "sinais sísmicos" de água líquida.
Embora haja água congelada nos polos marcianos e evidências de vapor na atmosfera, esta é a primeira vez que água líquida foi encontrada no planeta.
As descobertas foram publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Em 2018, uma equipe italiana anunciou que havia descoberto um lago no planeta. Entretanto, por volta de 2021, essas evidências foram questionadas por artigos científicos, os quais indicaram que provavelmente os italianos haviam encontrado argila, e não água.
A missão Insight terminou em dezembro de 2022, depois que a sonda ficou em silêncio capturando "o pulso de Marte" por quatro anos.
Nesse período, a sonda registrou mais de 1.319 tremores.
Ao medir a velocidade com que as ondas sísmicas viajaram, os cientistas descobriram por qual material elas têm mais probabilidade de terem se movido.
"Na verdade, essas são as mesmas técnicas que usamos para prospectar água na Terra ou para procurar petróleo e gás", explica o professor Michael Manga, da Universidade da Califórnia em Berkeley, um dos autores do estudo.
A análise revelou reservatórios de água em profundidades de 10 a 20 km na crosta marciana.
"Entender o ciclo da água em Marte é fundamental para entender a evolução do clima, da superfície e do interior [do planeta]", disse o autor principal, Vashan Wright, da Universidade da Califórnia em San Diego.
Michael Manga acrescenta que a água é "a molécula mais importante nas condições de evolução de um planeta".
Essa descoberta, diz ele, responde à grande questão de "para onde foi toda a água marciana".
Estudos da superfície de Marte, com seus canais e ondulações, mostram que, antigamente, havia rios e lagos no planeta.
Mas há três bilhões de anos, o planeta é um deserto.
Parte dessa água foi perdida para o espaço quando Marte perdeu sua atmosfera.
Entretanto, Manga adverte: "Boa parte da nossa água está no subsolo e não há razão para que isso não aconteça em Marte também".
A sonda Insight só conseguiu registrar a área sob seus pés, mas cientistas esperam que haja reservatórios semelhantes em todo o planeta.
No entanto, a localização dessa água subterrânea marciana não é necessariamente uma boa notícia para bilionários com planos de colonização de Marte.
"Perfurar um buraco a 10 km da superfície em Marte, mesmo para [Elon] Musk, seria difícil", diz Manga à BBC News.
A descoberta também pode contribuir para a contínua busca por evidências de vida em Marte.
"Sem água líquida, não tem vida", aponta. "Então, se houver ambientes habitáveis em Marte, eles podem estar agora no subsolo profundo."