Por décadas a fio, pensar que os insetos têm sentimentos era considerado uma heresia - mas, com cada vez mais evidências, os cientistas estão rapidamente reconsiderando essa ideia.
Era um agradável dia de outono em 2014, quando David Reynolds começou a falar em uma reunião importante na sede da prefeitura de Chicago, nos Estados Unidos - uma construção grandiosa, com suas belas escadas de mármore, colunas clássicas com 23 metros de altura e tetos em forma de abóboda.
Reynolds era o encarregado de controle de pragas dos prédios públicos da cidade e estava ali, entre outras coisas, para discutir o seu orçamento anual. Mas, assim que ele começou a falar, surgiu um invasor em uma das paredes: uma enorme barata, com seu corpo preto brilhante em forte contraste contra a tinta branca.
Um vereador interrompeu perguntando "Sr. Reynolds, qual é o seu orçamento anual para combater as baratas?", segundo a reportagem do jornal The Chicago Tribune. Seguiram-se altos risos e uma corrida desenfreada para exterminar o irrequieto animal.
Ninguém questionaria o cômico momento escolhido pela barata - que foi impecável, ainda que acidental. Mas o incidente é engraçado, em parte, porque pensamos nos insetos como animais robóticos, com pouco mais profundidade emocional que pedaços de pedra. Afinal, uma barata com senso de humor seria um total absurdo - mas será que é mesmo?
Na verdade, existem cada vez mais evidências de que os insetos podem experimentar uma grande variedade de sentimentos. Eles podem literalmente zumbir de prazer com surpresas agradáveis ou cair em depressão com eventos ruins fora do seu controle. Eles podem ser otimistas ou céticos, assustar-se e reagir a dores, da mesma forma que qualquer mamífero.
E, embora ninguém tenha ainda identificado um mosquito nostálgico, uma formiga angustiada ou uma barata sarcástica, a aparente complexidade dos seus sentimentos cresce a cada ano.
Quando Scott Waddel, professor de neurobiologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, começou a estudar as emoções da mosca-das-frutas, ele criou uma brincadeira favorita: "sabe, não era minha intenção estudar a ambição".
Mas, atualmente, o conceito de insetos competitivos não é tão absurdo quanto era no passado. Waddell indica que pesquisas concluíram que a mosca-das-frutas presta atenção ao que os seus parceiros estão fazendo e é capaz de aprender com eles.
Paralelamente, o governo britânico reconheceu recentemente que alguns primos próximos das moscas na evolução - os caranguejos e as lagostas - são seres sencientes e propôs leis para proibir as pessoas de fervê-los vivos.
Mas, então, como detectar emoções nos insetos? Como podemos dizer que eles não estão apenas reagindo automaticamente? E, se eles realmente são criaturas sencientes, devemos tratá-los de forma diferente?
Exigência da evolução
A classe dos insetos é um emaranhado de criaturas invertebradas com seis patas e corpos segmentados. Existe mais de um milhão de tipos diferentes, que incluem as libélulas, mariposas, gorgulhos, abelhas, grilos, traças, gafanhotos, borboletas e até os piolhos humanos.
Os primeiros insetos surgiram pelo menos 400 milhões de anos atrás - muitos anos antes que os dinossauros ensaiassem seus primeiros passos. Acredita-se que o seu último ancestral comum com os seres humanos tenha sido uma criatura em forma de lesma que viveu cerca de 200 milhões de anos antes do surgimento dos insetos e que eles vêm se diversificando desde então.
Inicialmente, eles reinavam sobre a terra como gigantes - algumas libélulas tinham o tamanho de gaviões, com envergadura de asa de 70 cm - e evoluíram até tornar-se a extraordinária variedade de artrópodes existente hoje em dia, que varia desde moscas com falsas caudas de escorpião até mariposas felpudas que mais parecem poodles com asas.
Como resultado, eles são surpreendentemente similares a outros animais, mas ainda mantêm nítidas diferenças. Os insetos têm muitos órgãos similares aos seres humanos - como coração, cérebro, intestino e ovários ou testículos - mas não possuem pulmões e estômago.
Em vez de serem ligados a uma rede de vasos sanguíneos, os corpos internos dos insetos flutuam em uma espécie de "sopa", que fornece alimento e retira os resíduos. Todo esse conjunto é rodeado por uma cobertura rígida - o exoesqueleto - feita de quitina, o mesmo material usado pelos fungos para construir seus corpos.
A arquitetura do cérebro dos insetos segue padrão similar. Eles não têm exatamente as mesmas regiões cerebrais dos vertebrados, mas possuem áreas que realizam funções similares. Por exemplo, a maior parte do aprendizado e da memória dos insetos reside em "corpos em forma de cogumelo" - regiões cerebrais arqueadas que já foram comparadas ao córtex, que é a camada externa dobrada responsável, em grande parte, pela inteligência humana, incluindo o pensamento e a consciência.
Por sinal, é fascinante pensar que até as larvas dos insetos possuem corpos em forma de cogumelo e que alguns dos seus neurônios permanecem no seu interior por toda a vida do animal. Isso sugere que os insetos adultos que passaram por esse estágio poderão ser capazes de se lembrar de acontecimentos ocorridos antes da metamorfose.
Paralelos entre os insetos e os seres humanos
Existem cada vez mais evidências de que nossas configurações neurais paralelas também alimentam uma série de capacidades cognitivas comuns aos seres humanos e aos insetos.
As abelhas conseguem contar até quatro. As baratas possuem ricas vidas sociais e formam tribos que permanecem juntas e se comunicam entre si. As formigas podem até elaborar ferramentas - elas conseguem selecionar objetos apropriados no ambiente e aplicá-los às tarefas que estão tentando realizar, como usar esponjas para carregar mel para os seus ninhos.
Mas, embora o cérebro dos insetos tenha evoluído por um caminho muito similar ao nosso, existe uma diferença fundamental. O cérebro humano cresceu de tal forma que fez com que as mulheres alargassem seus quadris durante a evolução - para permitir a gestação de crianças com cérebros maiores. Hoje, o cérebro consome 20% da nossa energia.
Enquanto isso, os insetos compactaram sua inteligência em invólucros milhões de vezes menores - o cérebro da mosca-das-frutas, por exemplo, tem o tamanho de uma semente de papoula. Como eles conseguiram isso é um mistério científico que perdura até os dias de hoje.
Por tudo isso, mesmo à primeira vista, aparentemente os insetos teriam capacidade intelectual para sentir emoções. Mas faz sentido que eles tenham evoluído essa capacidade?
As emoções são sensações mentais normalmente relacionadas às circunstâncias do animal. Elas são uma espécie de programa mental que, quando acionado, pode mudar a forma como agimos.
Acredita-se que as diferentes emoções tenham surgido em momentos distintos da história da evolução, mas, de forma geral, elas servem para incentivar comportamentos que aumentem nossa capacidade de sobreviver ou reproduzir e, em última análise, maximizar nossa herança genética.
Geraldine Wright, professora de entomologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, destaca como exemplo a fome, que é um estado mental que nos ajuda a alterar nossa tomada de decisões de forma apropriada, como priorizar o comportamento de busca de alimento. Outras emoções podem ser igualmente motivadoras - ataques de cólera podem concentrar nossos esforços para corrigir injustiças e a busca constante de alegria e contentamento nos leva a alcançar feitos que nos mantêm vivos.
Tudo isso também poderá aplicar-se aos insetos. Uma tesourinha que fique feliz ao encontrar uma fenda úmida e repleta de vegetação se decompondo - que, para ela, é deliciosa - terá menos possibilidade de se desidratar ou morrer de fome. Da mesma forma, outra que entre em pânico e finja-se de morta quando molestada tem mais possibilidade de escapar das garras dos predadores.
"Digamos que você seja uma abelha que caiu em uma teia e a aranha vem vindo rapidamente na sua direção", propõe Lars Chittka, líder de um grupo de pesquisa que estuda a cognição das abelhas na Universidade Queen Mary, em Londres. "Não é impossível que todas as reações de fuga sejam acionadas sem nenhum tipo de emoção. Mas, por outro lado, acho difícil acreditar que isso pudesse acontecer sem alguma forma de medo", afirma ele.
Ideia herética
Quando Scott Waddell formou seu grupo de pesquisa, em 2001, tinha um objetivo bastante simples em mente.
Ele queria descobrir se as moscas relembravam melhor onde encontrar comida depois de algum tempo sem alimentação - ou seja, quando elas poderiam, se pudessem experimentar humores subjetivos, estar sentindo "fome". E Waddle concluiu que sim, elas podem sentir.
Para começar, Waddell teve o cuidado de optar pela palavra "motivação", em vez de "fome", para descrever o estado de espírito das moscas, sugerindo que elas ficavam mais motivadas para encontrar comida após um período de jejum. "E as pessoas acharam isso um tanto problemático", relembra Waddell.
Outros cientistas acharam que isso tudo era antropomórfico demais e preferiram a expressão "estados internos". "Por isso, muitas vezes eu recebia questionamentos que, para mim, eram essencialmente sem sentido, porque as pessoas estavam simplesmente brincando com as palavras", ele conta.
Mas, em questão de anos, o estudo da inteligência dos insetos ficou muito mais em voga - e, repentinamente, o termo "motivação" foi abandonado, com pesquisadores defendendo que os insetos possuem "emoções primitivas", segundo Waddell. Em outras palavras, eles sentem o que aparentemente se suspeita serem emoções.
"Eu sempre havia imaginado as mudanças fisiológicas que ocorrem quando os animais se encontram em estado de privação - privados de alimento ou de sexo - como sensações subjetivas de 'fome' e 'desejo sexual'", afirma Waddell. "Eu realmente nunca me preocupei em rotular essas sensações subjetivas como 'emoções', em grande parte porque achei que isso iria me trazer problemas. Mas, de uma hora para outra, todos pareciam mais confortáveis para usar [essa palavra]."
Agora que a sugestão de que insetos têm sentimentos é um pouco menos escandalosa, a popularidade desse campo explodiu - e esse estranho grupo de animais está se tornando mais atraente a cada dia que passa. Mas provar que os insetos podem experimentar emoções permanece delicado.
Vamos analisar o caso das humildes abelhas.
Os seres humanos que passaram por traumas são muito propensos a esperar o pior - e isso também foi demonstrado em diversos outros animais vertebrados, incluindo ratos, carneiros, cães, vacas, peixes e pássaros. Mas ninguém nunca havia pensado em verificar se os insetos também sofriam isso.
Em 2011, em conjunto com colegas da Universidade de Newcastle (onde ela trabalhava na época), Geraldine Wright decidiu examinar a questão. "Quando os psicólogos estudam isso em seres humanos... eles podem verificar as expressões [do estado emocional da pessoa] antes de perguntar", afirma Wright. Mas discernir emoções em abelhas exige um pouco mais de criatividade.
Em primeiro lugar, os pesquisadores treinaram um conjunto de abelhas a associar um tipo de odor com uma recompensa em açúcar e outro odor com um líquido desagradável enriquecido de quinina, a substância que fornece o sabor amargo da água tônica.
Os cientistas então dividiram as abelhas participantes em dois grupos. Um deles foi vigorosamente agitado - uma sensação que as abelhas odeiam, embora não chegue a causar danos - para simular o ataque de um predador. Já o outro grupo de abelhas ficou livre para apreciar a bebida açucarada.
Para descobrir se essas experiências haviam afetado o humor das abelhas, Wright as expôs a novos odores ambíguos. As abelhas que haviam tido um ótimo dia normalmente se estendiam em busca de outra porção, o que sugere que elas estavam esperando receber mais. Mas as abelhas que haviam sido incomodadas foram menos propensas a reagir dessa forma - elas haviam se tornado céticas.
Curiosamente, o experimento também indicou que as abelhas não estavam sentindo nenhuma forma de pessimismo externa e não relacionada, mas sim uma sensação que poderia não ser muito diferente da nossa. Da mesma forma que os seres humanos que se sentem exasperados, os seus cérebros tinham menores níveis de dopamina e serotonina. Eles também apresentaram níveis mais baixos do hormônio octopamina, típico dos insetos, que se acredita estar envolvido em processos de recompensa.
Wright afirma que muitas das substâncias do nosso cérebro são altamente conservadas - elas foram inventadas centenas de milhões de anos atrás. Por isso, as experiências emocionais dos insetos poderão ser mais familiares que imaginamos. "Desse ponto de vista, sim, elas [as substâncias do cérebro] podem ser um pouco diferentes em termos do que sinalizam em qual espécie de animal, mas isso é muito interessante", afirma ela.
A pesquisa de Waddell com a mosca-das-frutas, por exemplo, concluiu que o cérebro do inseto usa dopamina da mesma forma que o nosso, para fornecer sensações de recompensa e punição. "Por isso, é muito interessante que essas substâncias tenham evoluído de forma convergente e são meio que similares", afirma Wright. "Isso significa que esta é a melhor forma de fazê-lo."
Wright explica que o seu experimento com as abelhas não significa, necessariamente, que todos os insetos podem experimentar otimismo ou pessimismo, pois as abelhas são muito sociais - a vida comunitária da colmeia é particularmente exigente em termos cognitivos e, por isso, elas são consideradas inteligentes para os insetos. "Mas outros insetos provavelmente também [sofrem pessimismo]", afirma ela.
Mensagem clara
Mas seria surpreendente se os insetos pudessem sentir emoções sem expressá-las de nenhuma forma. E é fascinante que existam algumas indicações que os insetos podem ser mais expressivos do que imaginamos.
Essa questão foi levantada pela primeira vez por Charles Darwin no final do século 18. Quando não estava refletindo sobre a evolução ou comendo a "estranha carne" da fauna exótica que ele descobriu, Darwin passava grande parte do seu tempo analisando como os animais comunicam seus sentimentos e escreveu suas descobertas em um livro pouco conhecido.
Em A expressão das emoções no homem e nos animais, Darwin argumenta que - como em qualquer outra característica - as formas em que os seres humanos expressam seus sentimentos dificilmente teriam surgido do nada na nossa espécie.
Ao contrário, as nossas expressões faciais, ações e ruídos provavelmente evoluíram em um processo gradual ao longo de milênios. Isso significa que provavelmente existe certa continuidade entre os animais, em termos das formas em que demonstramos o nosso estado emocional para os demais.
Darwin observou, por exemplo, que os animais muitas vezes emitem ruídos altos quando estão animados. Entre as conversas em voz alta das cegonhas e o chocalhar ameaçador de algumas cobras, ele menciona as "estridulações", ou vibrações altas, que muitos insetos fazem quando estão sexualmente excitados.
Darwin também observou que as abelhas mudam seus zumbidos durante o cruzamento. Tudo isso sugere que você não precisa ter cordas vocais para expressar como está se sentindo.
O besouro-de-ouro, por exemplo, parece uma tartaruga em miniatura que foi banhada a ouro. Na verdade, ela não foi realmente revestida com esse elemento, mas consegue sua aparência glamourosa refletindo a luz de ranhuras cheias de fluido embutidas na sua carapaça.
Mas basta pegar uma dessas joias vivas na mão - ou estressá-la de alguma forma - para que ela se transforme na frente dos nossos olhos, adquirindo tom vermelho-rubi até relembrar uma grande e brilhante joaninha.
A maior parte das pesquisas realizadas com o besouro concentrou-se na física utilizada para realizar a mudança de coloração, mas, curiosamente, acredita-se que a reação seja controlada pelo inseto, que pode decidir mudar de cor dependendo do que está acontecendo ao seu redor. Não é algo que simplesmente aconteça de forma passiva.
Existe também o caso da abelha melífera asiática. Todos os anos, por volta de outubro - durante o que é chamado, de forma sinistra, de "estação do abate" -, entram em ação as gangues de vespas gigantes decapitadoras de abelhas, também adequadamente denominadas "vespas assassinas".
As vespas vivem em grande parte da Ásia, da Índia até o Japão, mas os cientistas suspeitam que elas estejam lentamente invadindo outras regiões, sendo avistadas ocasionalmente até na América do Norte. A sua caça às abelhas pode durar horas e varrer colônias inteiras. As vespas primeiro cortam as abelhas trabalhadoras em pedaços e depois saem em busca das ninhadas.
Mas as abelhas não morrem em silêncio. Em uma pesquisa publicada neste ano, cientistas revelaram que elas gritam, usando uma versão amplificada e desenfreada do seu zumbido habitual. E, embora ninguém tenha relacionado conclusivamente os gritos a uma reação emocional das abelhas, os autores do estudo observaram no seu trabalho que esses "zumbidos antipredadores" possuem características acústicas similares aos gritos de alarme de muitos outros animais, desde primatas até aves e suricatos, e podem sugerir que elas estão com medo.
Uma verdade desconfortável
O aspecto mais controverso das vidas internas dos insetos deve ser a dor.
"Existem muitas evidências em larvas de moscas-das-frutas que elas sentem dor mecânica - se nós as apertamos, elas tentam escapar - e o mesmo também acontece com as moscas adultas", afirma Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney, na Austrália.
Como sempre acontece, comprovar que essas experiências desagradáveis são interpretadas como dor emocional é outra questão. "O problema realmente é o aspecto de ordem superior", afirma Neely.
Mas existem cada vez mais evidências de que elas podem, de fato, sentir dor como a conhecemos - e não apenas isso, elas podem ter dores crônicas, da mesma forma que os seres humanos.
Uma indicação básica disso é o fato de que, se você treinar moscas-das-frutas a associar um certo odor a algo desagradável, elas simplesmente correrão para longe sempre que você apresentar o odor a elas.
"Elas relacionam o contexto sensorial ao estímulo negativo e o rejeitam - por isso, elas fogem", afirma Neely. Quando as moscas-das-frutas são impedidas de escapar, em algum momento elas desistem e exibem comportamento de desamparo, muito similar à depressão.
Mas talvez os resultados mais surpreendentes tenham surgido da própria pesquisa de Neely, que concluiu que moscas-das-frutas feridas podem sentir dores persistentes, muito tempo depois da cura das suas feridas físicas.
"É quase como um estado de ansiedade, no qual, após sermos feridos, queremos ter certeza de que nada de ruim acontecerá de novo", afirma Neely. Acredita-se que as reações das moscas-das-frutas espelhem o que pode acontecer em seres humanos, quando uma lesão gera dores "neuropáticas" crônicas.
E, embora a dor ainda não tenha sido estudada em grandes variedades de insetos, Neely acredita que é provável que ela seja similar entre as diversas espécies.
"Se observarmos a arquitetura geral da configuração do cérebro - os receptores, os canais iônicos e os neurotransmissores -, tudo é muito similar", afirma Neely. Ela indica que é possível encontrar exemplos de insetos que não percebem esses sinais sensoriais, como as larvas que estão no meio da sua transição para a fase adulta, mas isso não é comum.
Questão de números
Todas essas pesquisas possuem implicações perturbadoras.
Atualmente, os insetos estão entre os animais mais perseguidos do planeta e são mortos rotineiramente em números quase incompreensíveis. Esses números incluem 3,5 quatrilhões - 3.500.000.000.000.000 - de insetos envenenados anualmente por inseticidas nas áreas agrícolas dos Estados Unidos, mais 2 trilhões esmagados ou atingidos por carros nas estradas holandesas e muitos mais que não são contados.
Embora não existam muitos dados sobre o alcance total dos nossos inseticidas, é amplamente aceito que estamos matando em números tão imensos que estamos vivendo um "Armageddon dos insetos" - uma era em que os insetos estão sendo varridos dos campos em velocidade alarmante. Prova disso é que três quartos dos insetos voadores das reservas naturais da Alemanha desapareceram nos últimos 25 anos e um relatório científico concluiu que 400.000 espécies podem estar à beira da extinção.
A descoberta das emoções dos insetos também apresenta um dilema um tanto desconfortável para os pesquisadores, especialmente aqueles que dedicaram suas carreiras a pesquisá-las.
A mosca-das-frutas é um modelo de animal de pesquisa, estudado com tanta intensidade que os pesquisadores sabem mais sobre ela que sobre a maior parte dos outros insetos. Existem atualmente cerca de 762 mil estudos que mencionam seu nome científico, Drosophila melanogaster, no mecanismo de busca Google Acadêmico.
Da mesma forma, a popularidade dos estudos sobre abelhas está crescendo, devido aos conhecimentos que elas podem fornecer para tudo, desde epigenética - o estudo da forma em que o ambiente pode influenciar como os nossos genes são expressos - até aprendizado e memória.
Por tudo isso, as abelhas e as moscas-das-frutas já ultrapassaram sua quota razoável de experimentação.
"Gosto de observar as abelhas e estudei muito o comportamento delas na minha carreira, de forma que já tenho muita empatia por elas", afirma Geraldine Wright, que é vegetariana há décadas.
Mas as quantidades utilizadas em estudos são minúsculas em comparação com os insetos sacrificados de outras formas, o que torna mais fácil justificar as pesquisas. "É esse tipo de desprezo à vida em geral [que Wright considera mais problemático] - sabe, as pessoas gratuitamente tiram, destroem e manipulam a vida... de seres humanos e [outros] mamíferos, de insetos até plantas", afirma ela.
O uso de insetos para pesquisa ainda é muito controverso, mas a descoberta que eles podem pensar e sentir levanta uma série de enigmas implacáveis para outros campos.
Já existe um precedente histórico de proibição de pesticidas para proteger certos insetos - como o embargo de nicotinoides pela União Europeia para proteger as abelhas. Poderá haver motivação para abandonar outros?
E, embora os insetos sejam cada vez mais promovidos como alternativa nobre e ecológica à carne de vertebrados, esta seria realmente uma vitória da ética? Afinal, você precisaria matar 975.225 gafanhotos para conseguir o mesmo volume de carne de uma única vaca.
Talvez uma razão pela qual nós não costumamos pensar em insetos como seres emotivos é porque isso seria insuportável.
Zaria Gorvett é jornalista sênior da BBC Future
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