Assembleia Legislativa da Renânia do Norte-Vestfália começa a debater a proposta, que ganhou apoio imediato de ativistas. Argumento é de que, sem medicação, cetáceos são incapazes de se adaptar ao cativeiro.
"Liberdade para os golfinhos". É o que pede o Partido Pirata no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália. A legenda quer proibir que os mamíferos aquáticos sejam mantidos em zoológicos e pede que os nove exemplares que vivem num parque na cidade de Duisburg sejam reintroduzidos na natureza.
"Golfinhos não conseguem ser mantidos adequadamente em cativeiro. O suposto sorriso ilude, os animais inteligentes vivem uma vida desolada", afirma o partido na proposta enviado ao governo estadual.
A Assembleia Legislativa, em Düsseldorf, iniciou debates sobre a proposta e convocou especialistas para falar sobre o tema. Apesar da pressão de ativistas em apoio à iniciativa, uma decisão final não deve ser tomada até o fim de maio.
"Eu não tenho nenhuma preocupação em relação ao fechamento do aquário. Na política sempre houve pessoas que queriam trazer esse tema à tona", afirma a veterinária do zoológico de Duisburg Kerstin Ternes.
A sala de descanso dos funcionários do aquário fica no subsolo. De lá é possível ver a piscina dos golfinhos. Os animais parecem estar felizes. "Nossos golfinhos estão bem aqui. Eles ganham comida suficiente, brincam uns com os outros, se reproduzem. Eu não sei qual é o problema", completa Ternes.
Sem escolha
Mas, segundo Karsten Brensing, da organização de proteção a baleias e golfinhos WDC, o problema é a complexidade da vida social desses animais. O biólogo marinho, que já trabalhou em aquários na Flórida e em Israel, lembra um caso para reforçar seu argumento: um golfinho tentou arrebentar uma barreira que dividia as áreas em um aquário marinho e quase perdeu uma nadadeira.
"Esse foi um momento no qual pensei: se esse animal está tão empenhado em sair de lá, isso não pode estar certo", relata Brensing. Segundo o biólogo, golfinhos passam por diferentes fases na vida, assim como humanos. Durante a puberdade, eles conhecem outros golfinhos, entre os quais escolhem com quem querem passar a fase adulta.
Nos aquários, essa escolha não é possível. "Eles são obrigados a saber lidar com quem está lá. Isso pode funcionar, mas nós temos vários exemplos que não deram certo", conta o biólogo, acrescentando que, assim, alguns golfinhos se tornam violentos.
Segundo Brensing, nos aquários os golfinhos costumam receber medicação similar ao diazepam, que deixam os animais calmos, diminuem a agressão e previnem o mau humor.
"Essa é uma prática corrente", afirma o biólogo. Após ter acesso a documentos internos, sua organização está processando o zoológico de Nurembergue depois que cinco bebês golfinhos morrem com poucos anos de idade. Até agora o motivo da morte não é conhecido.
Os documentos mostraram que quase todos os golfinhos recebiam diazepam, afirma Brensing. Os zoológicos de Nurembergue e Duisburg são os únicos na Alemanha que possuem essa espécie de mamífero marinho.
Antidepressivos
O diretor do zoológico de Nurembergue, Dag Encke, confirmou à DW que alguns de seus golfinhos recebem o medicamento, alguns regularmente. Mas alega que o remédio não é para acalmar, e sim para estimular o apetite. Segundo Encke, os golfinhos precisam se alimentar regularmente para absorver água suficiente através dos peixes.
"Nós temos dois animais que são dependentes de água, pois seus rins não funcionam mais direito. Quando eles não comem um dia, as taxas renais aumentam imediatamente. Somente com água eles permanecem saudáveis", diz o diretor.
Porém, Encke acaba deixando escapar que em determinados casos diazepam é usado como calmante, mas somente em situações extremas – por exemplo, quando uma fêmea perde um filhote e está sofrendo.
"Afinal, é nosso dever evitar a dor dos animais", diz Encke, contando que diazepam é aplicado em outros animais, quando, por exemplo, eles têm que ser transportados.
O foco da discussão sobre os aquários é se os animais devem ou não ser enjaulados e a existência de zoológicos. Para Ternes, se um aquário tem um propósito científico, como em Duisburg, sua existência é válida.
Porém a opinião de Brensing é contrária. "Há animais que não podem ser mantidos presos, pois é muito difícil cumprir suas exigências, e os golfinhos fazem parte desse grupo."
Há um ano e meio, a bióloga marinha americana Kathleen Dudzinski observou o comportamento social dos golfinhos em Duisburg. Segundo a pesquisadora, com relação ao contato entre eles, não foi possível identificar diferenças entre golfinhos em cativeiro e selvagens.