Durante mais de dois meses, ele não parou de expelir lava nem de sacudir a terra.
Em maio passado, o vulcão Kilauea, no Havaí, EUA, entrou em atividade e, desde então, rios de pedra derretida, fumaça e cinzas correm pela encosta no sudeste da Grande Ilha até as águas do Pacífico.
Mais de 10 mil pessoas foram evacuadas e dezenas de casas destruídas.
A magnitude da erupção fez surgir novas ilhas com a lava jogada no mar.
Quase três meses depois, o Kilauea ainda está acordado e os cientistas não veem sinais de que a atividade diminuirá a curto prazo.
"Não houve qualquer sinal de mudança: nem a quantidade de lava que emana nem os tremores de terra diminuíram...Não sabemos o quanto de magma ainda vai brotar", disse à BBC News Mundo a vulcanóloga Janine Krippner.
No entanto, de acordo com a pesquisadora da Universidade de Concord, da Virgínia Ocidental, o mais impressionante não é a erupção em si, já que o Kilauea está ativo desde 1983.
"O que acontece é que, em maio, a atividade do vulcão mudou. Agora, observamos a subsidência do lago de lava dentro do vulcão e a lava chegando a uma das áreas habitadas. Está brotando lava em novos lugares e também foram reportados novos fluxos", diz ela.
A lava que brota agora, segundo a especialista, é mais líquida e mais rica em gases tóxicos do que nos primeiros dias, o que faz com que ela se mova mais rápido e que sejam reportadas explosões maiores.
Uma "bomba de lava", de fato, feriu no início desta semana 23 pessoas que viajavam em um barco pelas costas da Ilha Grande, a dezenas de quilômetros do vulcão.
Mas como se explica que, tanto tempo depois, a erupção do Kilauea não pareça diminuir?
Vulcão jovem
De acordo com Krippner, o Kilauea é um vulcão geologicamente muito jovem, o que o torna particularmente ativo.
Mas algo o diferencia dos outros vulcões.
"A maioria dos vulcões mais ativos do mundo está em zonas de subducção (convergência) de placas tectônicas - onde uma placa se move sob a outra - mas a situação no Havaí é diferente", diz ela.
"O que acontece é que os vulcões estão sobre uma espécie de pontos quentes, uma área de fluxos a uma temperatura muito alta, onde o calor faz com que o magma suba sob pressão. E, à medida que vai subindo, vai derretendo mais rocha. Esta é uma particularidade que torna esses vulcões do Havaí especialmente ativos ", acrescenta ela.
A vulcanóloga afirma que o que torna a atual erupção do Kilauea incomum é que ela está ocorrendo perto de uma região habitada e que a quantidade de lava que emana é alta.
No entanto, ela observa que há outros vulcões em erupção por mais tempo: tudo depende da quantidade de magma que se está gerando sob o local onde eles estão localizados.
"Há vulcões que entraram em atividade há meses ou há anos. O que acontece agora é que, como está perto de uma área habitada, ele tem recebido uma cobertura maior da mídia. Mas no momento há 43 vulcões em erupção em todo o mundo e muita gente não sabe ", diz ela.
A grande questão é saber quando essa atividade toda arrefecerá.
Mas por que os cientistas acham tão difícil prever o fim da erupção de um vulcão?
"É muito difícil prever quando a erupção de qualquer vulcão vai acabar porque depende da quantidade de magma abaixo da superfície e não temos como saber isso", explica Krippner.
Ela aponta que, em geral, os vulcanólogos conseguem prever quando uma erupção chegará ao fim quando os efeitos associados a isso começam a diminuir, como pode acontecer com os fluxos de lava ou os terremotos que eles geram.
No entanto, a especialista reitera que isso ainda não começou a ser percebido no Kilauea, por isso não é possível saber quanto tempo mais essa erupção pode durar.