Por que você provavelmente não está lavando suas toalhas com a frequência necessária

Micro-organismos presentes na pele, no intestino e suspensos no ar podem migrar para o tecido e formar, em alguns casos, biofilme que altera a aparência e tira o brilho da toalha.

16 jan 2025 - 18h38
(atualizado às 19h34)
Micróbios da toalha podem formar biofilmes que alteram aparência do tecido
Micróbios da toalha podem formar biofilmes que alteram aparência do tecido
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Será que a toalha que você usou para se enxugar hoje estava realmente limpa?

Muita gente coloca a toalha na máquina de lavar uma vez por semana. Alguns demoram mais. Um estudo publicado em 2020 com 100 participantes apontou que que cerca de um terço lavava as toalhas uma vez por mês e, em uma pesquisa no Reino Unido, entrevistados chegaram a admitir que só faziam a lavagem uma vez por ano.

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As fibras felpudas podem não necessariamente exibir sinais de sujeira, mas elas são berço de milhões de micróbios. Estudos demonstraram que as toalhas podem ficar rapidamente contaminadas por bactérias comumente encontradas na pele e até no intestino.

Parte dos micro-organismos vem de nós mesmos. Isso porque mesmo depois do banho o corpo ainda está cobertos por micróbios — e alguns deles passam para as toalhas.

Fungos e bactérias suspensas no ar também podem chegar às fibras quando a toalha está no varal e algumas bactérias vêm da água utilizada para lavagem.

No Japão, algumas pessoas chegam a usar a água residual do banho para lavar as roupas no dia seguinte, um costume que, conforme um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Tokushima, ainda que economize água, pode transferir diversas bactérias presentes na água da banheira para as roupas.

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A prática de deixar a toalha secando dentro do banheiro também é problemática. Cada vez que a descarga é utilizada, a peça provavelmente vai receber uma leve pulverização de bactérias do vaso sanitário, sem falar nas partículas de resíduos corporais de quem usa o lavatório.

Ao longo do tempo, esses micróbios podem começar a formar biofilmes com capacidade inclusive para alterar a aparência das toalhas.

Depois de dois meses, mesmo com lavagem regular, as bactérias presentes nas fibras das toalhas de algodão começarão a tirar o brilho aparente do tecido.

Especialista recomenda lavar toalhas uma vez por semana
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nesse sentido, o quanto devemos nos preocupar com as bactérias que vivem nas toalhas?

A professora de biologia Elizabeth Scott, uma das diretoras do Centro Universitário Simmons de Higiene e Saúde Doméstica e Comunitária de Boston, nos Estados Unidos, ressalta que nossa própria pele é habitat de mais de mil espécies diferentes de bactérias, ao lado de muitos outros fungos e vírus.

A maioria, ela acrescenta, faz bem ao organismo, protegendo o corpo contra infecções causadas por outras bactérias, decompondo parte das substâncias com as quais entramos em contanto no dia a dia e desempenhando papel importante no desenvolvimento do sistema imunológico.

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Muitas das bactérias encontradas nas toalhas são das mesmas espécies que encontramos na pele e que habitam os ambientes em que circulamos.

Incluem espécies de Staphylococcus e Escherichia coli, frequentemente encontradas no intestino humano, além de Salmonella e Shigella, causadoras comuns de doenças alimentares e diarreia.

Algumas são patógenos oportunistas, inócuas até atingirem um local em que possam causar danos, como um corte. Podem desenvolver a capacidade de produzir certas toxinas ou conseguir infectar pessoas com sistema imunológico enfraquecido.

A pele também é uma barreira natural contra infecções. Ela é a primeira linha de defesa contra bactérias e outros patógenos. Por isso, a transferência de bactérias da toalha para a pele não deveria causar grandes preocupações.

Mas existem evidências de que essa função de barreira pode ser comprometida dependendo do contato que o corpo tenha com a toalha.

O maior problema talvez ocorra caso micróbios potencialmente perigosos cheguem às mãos enquanto nos secamos e depois a áreas mais sensíveis ao tocarmos a boca, o nariz ou os olhos.

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Por isso, as toalhas de rosto, que usamos com mais frequência para enxugar as mãos, merecem maior atenção. Assim como os panos de prato, que podem ser outra fonte de difusão de patógenos alimentares.

Infecções gastroentéricas resultantes de Salmonella, norovírus e E. coli "são transmissíveis pelas toalhas", segundo Scott.

Estudos também demonstraram que vírus como a covid-19 podem sobreviver sobre algodão por até 24 horas, ainda que a transmissão pelo toque de superfícies contaminadas não seja considerada a principal forma de difusão do vírus.

Outros vírus transmitidos pelo contato, como o mpox, podem representar riscos maiores, e as autoridades de saúde recomendam não compartilhar toalhas ou roupas de cama com pessoas infectadas.

Pesquisas também demonstraram que papilomavírus humanos, que costumam causar verrugas, também podem ser transmitidos por meio de contato com toalhas compartilhadas com outras pessoas.

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O risco de transmissão de infecções com lenços reutilizáveis é um dos motivos que levaram hospitais e banheiros públicos a adotar toalhas de papel descartáveis e secadores a ar.

Secar toalhas ao sol depois da lavagem pode ajudar a reduzir a quantidade de bactérias
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Claramente, quanto mais tempo a toalha for usada e quanto mais tempo ficar úmida, mais acolhedora ela será micróbios, o que aumenta a possibilidade de crescimento de organismos nocivos.

Scott diz que, para além de um bom hábito, pensar na higiene das toalhas também pode ajudar a combater um dos maiores problemas de saúde hoje no mundo, as bactérias resistentes a antibióticos, como a MRSA, que podem ser transmitidas pelo contato com objetos contaminados.

O professor de microbiologia farmacêutica Jean-Yves Maillard, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, destaca que práticas como a lavagem regular das toalhas podem ajudar a reduzir as infecções bacterianas e, consequentemente, diminuir o uso de antibióticos.

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"A higiene doméstica tem tudo a ver com prevenção, e é melhor prevenir do que remediar", pontua.

Então, de quanto em quanto tempo precisamos lavar nossas toalhas?

Elizabeth Scott sugere uma vez por semana, e diz que a recomendação não é uma regra fixa.

"Se uma pessoa estiver doente, vomitando e com diarreia, ela precisa ter toalhas só pra ela, que precisam ser lavadas todos os dias", exemplifica. "É o que chamamos de higiene dirigida, você enfrenta o risco quando ele aparece."

A higiene dirigida é uma técnica de gestão de riscos voltada para a higiene, desenvolvida por pesquisadores associados ao Conselho Global de Higiene e ao Fórum Científico Internacional sobre Higiene Doméstica.

A higiene é importante e deve ser considerada todo o tempo. Mas a higiene dirigida se concentra nos momentos e locais onde essas práticas são fundamentais.

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Scott indica que as toalhas exigem lavagem mais longa e mais quente (40-60°C) do que a maioria dos tecidos e que, muitas vezes, é preciso acrescentar detergentes antimicrobianos.

Mas é preciso lembrar que a lavagem frequente sob altas temperaturas também traz custos para o meio ambiente.

Para lavagens sob temperaturas mais baixas, aplicar enzimas ou alvejante pode ajudar a combater os micróbios das toalhas.

Um estudo realizado na Índia concluiu que lavar as toalhas com detergente, aplicar desinfetante durante o enxágue e secá-las ao sol, em combinação, reduzem a carga fúngica e bacteriana com mais eficácia.

Scott considera que a higiene doméstica é uma forma de altruísmo muito parecida com a vacinação. Cada pequena prática para se proteger irá também proteger as pessoas à sua volta.

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"Chamamos de modelo 'queijo suíço'", ela conta. "Pensamos em todos os componentes como fatias de higiene, como fatias de queijo suíço, e cada fatia de higiene cobre um daqueles buracos, reduzindo o risco de movimentação de patógenos através deles."

"As toalhas são um componente relativamente pequeno, mas elas certamente trazem riscos e é fácil lidar com eles."

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

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