Mares e rios com as águas turvas chamam a atenção por onde quer que estejam, e entre eles há um nome que talvez não seja tão conhecido: o rio Ruki. Afluente do grandioso rio Congo, localizado no continente africano, ele atravessa a República Democrática do Congo.
Curiosamente, o Ruki permanecia inexplorado até pouco tempo atrás, o que impedia estudiosos de terem uma real dimensão da sua composição química. Mas uma pesquisa publicada na revista Limnology and Oceanography veio para mudar a compreensão acerca de suas águas.
O estudo aponta que o rio Ruki apresenta alta concentração de matéria orgânica dissolvida em seu interior. Não é à toa que, com 105 quilômetros de comprimento, suas águas apresentam uma tonalidade escura que supera a observada no rio Negro, aqui no Brasil. É possível que ele seja o rio mais escuro do mundo.
Explorando as águas escuras do Rio Ruki
Pesquisadores mediram a descarga e o nível de água periodicamente ao longo de um ano. Foi descoberto que a concentração de materiais orgânicos do Ruki é quatro vezes maior que a do rio Congo.
É graças a isso, inclusive, que o próprio rio Congo apresenta 20% da sua composição orgânica. Vale lembrar que, nesse quesito, o rio Ruki ainda supera o rio Negro. E devido à sua menor inclinação, ele praticamente não carrega sedimentos em seu interior.
Ao explorar os motivos para essa composição incomum, a relação entre o rio e a floresta abriga uma série de dinâmicas interessantes e que fornecem explicações: periodicamente, a vegetação é levada pela chuva e conduzida até as águas, o que significa dizer que materiais ricos em carbono presentes na região acabam tendo o mesmo destino, embora a floresta apresente um maior papel.
Isso porque o rio inunda parte da área florestal durante o período das cheias. Por conta disso, o nível das águas leva semanas para baixar, o que impacta de forma decisiva na concentração de substâncias orgânicas.
Combinação de fatores
Ou seja, esse material que torna as águas tão escuras se origina de duas fontes: a vegetação florestal presente no seu entorno e das turfas, originadas da decomposição de vegetais. Ricas em carbono, elas liberam essa substância nas águas entre os meses de março e abril, que é quando termina o período das chuvas mais volumosas.
Esse material vegetal morto, como não se decompõe, faz do rio um sumidouro de carbono. Ao explorar esse aspecto em particular, os pesquisadores descobriram que a emissão de gás carbônico do Ruki é elevada, mas não o bastante para superar a de outros rios de grande dimensão. Por se tratar de um rio em que o movimento das águas ocorre mais lentamente e o material fica submerso, escapa menos gás carbônico para o ar.
Por conta dessas características tão particulares, é pequeno o risco que substâncias orgânicas sejam liberadas, o que ressalta o papel do rio para o meio ambiente. É pelo conjunto de todos esses motivos que a sua preservação, assim como a da floresta que o rodeia, permanece sendo fundamental para que o equilíbrio seja mantido.