Sono profundo? Por que é possível aprender um idioma enquanto você dorme

Os benefícios do sono para a memória são bastante conhecidos. Mas um novo estudo sugere que também é possível aprender novas palavras enquanto se dorme.

6 fev 2019 - 08h42
(atualizado às 15h33)
Estudo sugere que é possível aprender novas palavras e suas associações semânticas enquanto se está profundamente adormecido
Estudo sugere que é possível aprender novas palavras e suas associações semânticas enquanto se está profundamente adormecido
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Vários estudos têm demonstrado que dormir fortalece a memória e que as palavras que aprendemos quando estamos conscientes se consolidam se ouvidas durante o sono.

Mas um novo experimento publicado na revista científica Current Biology sugere que também é possível aprender novas palavras e suas associações semânticas, a partir do zero, enquanto se está profundamente adormecido.

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A chave para isso parece ser que, quando alcançamos o estágio do sono profundo, as células cerebrais ficam normalmente ativas por um curto período de tempo antes de entrarem em um estado de breve inatividade. Os dois estados se alternam a cada meio segundo.

E um grupo de pesquisadores da Universidade de Berna, na Suíça, quis comprovar se uma pessoa é capaz de formar novas associações em seu cérebro durante os momentos de atividade das células cerebrais.

Os participantes do estudo conseguiram conectar palavras enquanto dormiam
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Para testar esta hipótese os pesquisadores fizeram os voluntários ouvirem duas palavras enquanto estavam na fase de sono profundo, a primeira em um idioma inventado e, em seguida, em sua língua nativa, o alemão.

A palavra alemã para "chave" foi associada com o vocábulo "tofer", enquanto a palavra "elefante" foi associada à "guga".

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Uma vez acordados, os pesquisadores perguntaram aos participantes qual das palavras inventadas representava algo grande e qual representava algo pequeno.

Para deleite da equipe, os voluntários conseguiram associar a palavra "chave" com "tofer" e "elefante" com "guga", apesar tê-las ouvido quando estavam dormindo profundamente.

Aprender enquanto dorme

"Foi interessante ver como a área de linguagem do cérebro e o hipocampo (o centro de memória essencial do cérebro) era ativado para recuperar as associações formadas durante o sono", comentou Marc Zust, pesquisador da Universidade de Berna e um dos autores do estudo.

"Estas estruturas parecem interferir na formação da memória, independentemente do estado de consciência", disse ele.

Pesquisador alerta, no entanto, que aprender enquanto se dorme também pode ter consequências negativas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As horas que passamos dormindo normalmente são consideradas como tempo perdido. Este experimento, portanto, levanta a questão sobre se esse tempo pode ser usado de forma mais produtiva.

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Mas Züst também alerta que o sono e a memória são sistemas complexos que levaram milhões de anos para serem otimizados.

"Se pressionamos o cérebro adormecido para a aquisição de novas informações, podemos estar atrapalhando as funções que ele já está desempenhando, como descansar, se recarregar ou consolidar todas as informações que recebemos durante o dia", alertou o pesquisador.

Nova teoria do sono

O que está claro é que a noção de sono como um estado mental encapsulado e totalmente separado do ambiente físico já não se sustenta.

Züst explica que este estudo prova que o cérebro é mais receptivo a estímulos externos durante o sono profundo do que pensávamos.

O sono cumpre várias funções importantes, segundo os pesquisadores
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Teorias anteriores afirmavam que, quando entramos em fases profundas do sono, certas áreas do cérebro focam na consolidação de memórias, e, portanto, ignoram estímulos externos.

No entanto, pesquisas da Universidade de Berna indicam que na verdade existem pequenas janelas de oportunidade nas quais o cérebro está "aberto" e disposto a assimilar novas informações.

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"Em que medida e com quais consequências o sono profundo pode ser usado para a aquisição de novas informações será tema de investigação nos próximos anos", diz Katharina Henke, que também está entre os autores do estudo.

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