O conflito entre Israel e o Hamas, que já deixou milhares de pessoas mortas, traz à tona — além de questões históricas, geográficas e humanitárias — o poder bélico de Israel impulsionado por tecnologias.
Israel é um dos países mais tecnológicos do mundo e, justamente por isso, possui armamento de ponta. O país, conhecido como um dos berços de startups, ainda conta com equipamentos financiados pelos Estados Unidos e investimentos em soluções digitais que são usadas pelo exército israelense.
Uma nova onda de tecnologias chegou setor armamentista, trazendo drones, robôs e inteligência artificial (IA), desde o início da guerra entre Ucrânia e Rússia. Recentemente, foi revelado que a IA também está sendo utilizada no conflito na Palestina, por meio de softwares de reconhecimento facial e de voz.
Estes programasA estão ajudando os israelenses na localização dos mais de mil desaparecidos, conforme explica a especialista em cibersegurança Sylvia Bellio, CEO e Co-fundadora da itl.tech, empresa especializada em soluções de armazenamento de dados.
“Hoje, para ajudar na localização dos desaparecidos e reféns do grupo Hamas, os especialistas estão verificando imagens e vídeos à procura de informações relevantes que possam identificar essas pessoas. Temos a IA, que está desempenhando papel importantíssimo e é essencial para ajudar na busca por qualquer detalhe, como uma peça de roupa ou algum objeto, por exemplo”, disse Sylvia.
Consultor de tecnologia e CEO da ExímiaCo, Elemar Júnior explicou ao Byte como Israel desenvolveu ao longo dos anos diversas inteligências para tratar informações militares, lidar com as restrições de informação e no desenvolvimento de interceptação de comunicação.
“Em termos de segurança, Israel acaba desenvolvendo os softwares mais utilizados no mundo para detectar padrões e sequências de ameaças”, disse.
“É um país onde, na falta de recursos naturais, a comunidade aprendeu a usar a inteligência. É um país que vende inteligência e soube transformar a inteligência em produto. Talvez essa seja a grande vantagem”, completou o especialista.
Como as tecnologias são usadas na prática
- Inteligência Artificial: tecnologia que usa algoritmos e sistemas de aprendizado de máquina para processar dados e identificar padrões, pode ser utilizada em duas frentes principais: vigilância e tomada de decisões;
- Reconhecimento facial: utiliza algoritmos e softwares de inteligência artificial para identificar características de um sujeito, traçando padrões nos rostos das pessoas. O reconhecimento facial verifica se os padrões biométricos condizem com a identidade;
- Reconhecimento de voz: é realizado a partir da análise das ondas sonoras produzidas por uma pessoa. As ondas são individuais e formam um espectrograma, um tipo de foto da sua voz, criada por cálculos matemáticos. Através da IA, as informações da base de dados são comparadas com as novas que desejam analisar;
- Drones ou Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs): podem desempenhar um papel fundamental em três setores: reconhecimento e vigilância; ataques precisos; e redução de riscos humanos;
- Robôs: cada vez mais utilizados em áreas de conflito, estes dispositivos autônomos são fundamentais para substituir os humanos em situações de risco, como desativar dispositivos explosivos.
“Além da desminagem, você pode ter esses robôs em áreas de difícil acesso, seja para transportar suprimentos ou fornecer assistência médica”, exemplifica a especialista em cibersegurança Sylvia Bellio.
Investimento em tecnologias bélicas
A especialista Sylvia Bellio cita também a integração de sistemas de comunicação e sensoriamento para melhorar a coordenação no campo de batalha, o investimento em tecnologia cibernética e guerra eletrônica.
Israel não é a única nação utilizando a tecnologia a seu favor no campo de batalha. Muitos países possuem tecnologia de ponta dentro do departamento de serviços militares.
“EUA, China, Rússia, e vários países do continente europeu investem pesado em tecnologia militar avançada. Os EUA e a Rússia estão sempre em busca de programas de pesquisa e desenvolvimento avançados para manter ou melhorar suas capacidades no campo de batalha”, disse a CEO da itl.tech.
Essas tecnologias utilizadas em guerras são desenvolvidas por uma variedade de profissionais, como engenheiros, cientistas, militares, e empresas do setor (hardware, software, aplicações, serviços).
“É um mercado em ascensão, felizmente e infelizmente, pois a demanda por inovação militar e segurança continua a crescer em todo o mundo, infelizmente sendo impulsionada por conflitos e ameaças globais”, disse a especialista em cibersegurança.
A maioria das legislações não conseguiu acompanhar os avanços tecnológicos e, por isso, em muitos casos não existem regulamentações internacionais devidas, segundo ela.
“Guerra cibernética”
A ascensão em tecnologia traz vantagem na guerra física, além disso, a chamada cyber war, ou guerra cibernética, impulsiona o poder de inteligência de Israel, com acesso à informação.
Este poder de inteligência cibernética é traduzido, muitas vezes, em no emprego de profissionais de ponta como matemáticos, pessoas de desenvolvimento de software, de robótica e automação, explica o consultor de tecnologia Elemar Júnior.
“Tem uma série de tecnologias desenvolvidas a princípio para você poder ganhar na guerra, mas que acabam sendo depois traduzidas para outras coisas. Por exemplo, boa parte dessas técnicas que se utiliza hoje para detectar fraude em cartão de crédito são desenvolvidas a partir da detecção de comportamento suspeito em ataque, nisso Israel acabou se especializando”, afirma.
Há também as parcerias estabelecidas, cita Júnior, ressaltando o fato que Israel acaba fornecendo tecnologia para os Estados Unidos e, em contrapartida, os norte-americanos acabam também financiando Israel e apoiando militarmente o país.
Domo de ferro
Esta tecnologia utilizada pelas forças de Israel na guerra identifica foguetes inimigos e consegue detoná-los ainda no ar. O sistema foi desenvolvido com a ajuda dos Estados Unidos.
A tecnologia do Domo de ferro detecta mísseis lançados em um alcance de quatro a 70 quilômetros e responde disparando um míssil interceptor Tamir contra os projéteis que se aproximam.
É composto por três elementos: um radar de detecção e rastreamento; um sistema de controle de armas e gerenciamento de batalha (BMC); e uma unidade de disparo de mísseis (MFU).