Parece coisa de ficção científica, mas não é. Na busca de proteção contra raios, um grupo de pesquisa internacional, liderado pelo físico Aurélien Houard, do Institut Polytechnique de Paris, em Palaiseau, na França, realizou um experimento no topo de uma montanha para desviar a rota de um raio com ajuda de um laser. Os resultados foram relatados na revista científica Nature Photonics, nesta segunda-feira (16).
Atualmente, a tecnologia mais utilizada para a proteção desses fenômenos é o clássico para-raios — um poste de metal com metros de comprimento fincado no chão. A condutividade do metal atrai raios que, de outra forma, poderiam atingir prédios ou pessoas próximas, e alimenta essa eletricidade com segurança na terra. Mas a área protegida por um para-raios é limitada pela altura do bastão.
Portanto, "se você deseja proteger uma grande infraestrutura, como um aeroporto ou uma plataforma de lançamento de foguetes ou um parque eólico, um poste de metal tão alto seria impraticável", disse Houard.
Laser condutor
Pensando nisso, a equipe desenvolveu um um laser que poderia chegar muito longe, interceptando relâmpagos distantes e conduzindo-os até hastes de metal terrestres. A equipe de pesquisa montou o dispositivo de alta potência perto de uma torre de telecomunicações com um pára-raios na ponta que é atingido por um raio mais ou menos 100 vezes por ano.
Depois, os cientistas ajustaram o laser para formar um caminho eletricamente condutor logo acima da ponta da torre — isso permitiu que o pára-raios da torre interceptasse um raio preso pelo laser antes que ele descesse até o equipamento.
A torre foi atingida por um raio quatro vezes enquanto o laser estava ligado. De acordo com a pesquisa e as imagens, relâmpagos desceram das nuvens e seguiram a luz do laser por cerca de 50 metros em direção ao para-raios da torre.
Segundo a equipe, disparar laser ioniza as moléculas de ar (reação química) para produzir um canal de gás cujas moléculas tiveram seus elétrons arrancados, chamado de plasma.
Esse canal permite que a descarga elétrica percorra livrimente e leve a uma longa cadeia chamada filamentos no céu, em que as moléculas de ar esquentam rapidamente e se afastam em velocidades altíssimas, deixando um canal de ar (plasma) ionizado de baixa densidade.
Esses canais, que duram milissegundos, são mais condutores de eletricidade do que o ar circundante e, portanto, formam um caminho mais fácil para o raio seguir.
A equipe avalia que este é um primeiro passo em direção a um para-raios de alcance quilométrico.