Pesquisadores afirmaram ter recuperado fragmentos de material proveniente do espaço interestelar, marcando os primeiros objetos oriundos de fora do Sistema Solar. O estudo faz parte do Projecto Galileo, que visa identificar a natureza desses objetos.
A equipe, liderada por Avi Loeb, físico e pesquisador da universidade Harvard (EUA), realizou em junho análises preliminares em pedaços de metal resgatados do Oceano Pacífico. Em um post no seu blog na terça-feira (29), Loeb escreveu que as primeiras descobertas sugerem que esses fragmentos têm origem extraterrestre.
Loeb e sua equipe publicaram seu estudo sobre as descobertas, que ainda não foi revisado por pares.
Segundo Loeb, a fonte desses fragmentos remonta a um evento ocorrido em 2014, quando um objeto semelhante a um meteoro (o IM1) caiu nas proximidades da costa da Papua Nova Guiné.
A origem interestelar do IM1 foi estabelecida com quase 100% de confiança com base em medições de velocidade feitas por satélites do governo dos EUA, o que foi confirmado em uma carta formal do Comando Espacial dos EUA à Nasa.
Loeb é conhecido por sua afirmação de que 'Oumuamua, outro objeto interestelar que passou pela Terra em 2017, poderia ser uma nave alienígena.
A pesquisa
Os cientistas descobriram cerca de 700 minúsculas esferas metálicas durante sua expedição, a atenção concentrou-se nas 57 esferas que foram submetidas a análises mais detalhadas.
Os resultados das análises surpreenderam os pesquisadores, já que as composições encontradas nas esferas não correspondem a nenhuma liga conhecida, seja natural ou artificial.
Essa analise, diz Loeb, mostrou que cinco das minúsculas bolinhas de gude “se originaram como gotículas derretidas da superfície do IM1 quando ele foi exposto ao imenso calor da bola de fogo gerada por sua fricção no ar” no início de 2014, quando o objeto foi detectado pela primeira vez quando caiu na Terra.
Ainda de acordo com o pesquisador, essas cinco peças “mostraram um padrão de composição de elementos de fora do Sistema Solar” que “nunca tinha sido visto antes”, diz ele – uma descoberta que, se for corroborada por especialistas independentes, poderá ter implicações históricas na compreensão do espaço.
Nem todo mundo se empolgou com descoberta no oceano
Pares da comunidade científica já comentam o possível feito, e ainda há alguma desconfiança sobre ele.
Matthew Genge, pesquisador do Imperial College London (Reino Unido), disse estar "muito cético". "O fundo do mar está repleto de esférulas, algumas naturais e outras artificiais, de detritos de satélites, exaustão de foguetes, material soprado pelo vento da indústria ou mesmo testes nucleares. Você pode encontrar todos os tipos de partículas estranhas nas profundezas", disse ele ao Daily Mail.
Mas ele acrescentou que não era possível "descartar totalmente" as descobertas porque os resultados não foram totalmente publicados.
"Eu ficaria encantado se tudo isso fosse evidência de alienígenas, seria uma das descobertas mais profundas da história humana. [Mas] a equipe tem que me convencer com evidências conclusivas publicadas em uma revista respeitável. Espero estar errado e os ETs estarem aqui... Aguardo as provas convincentes."
"Geralmente os cientistas passariam por esse processo de revisão por pares primeiro, antes de fazer alegações massivas. Avi faz as coisas de forma diferente e isso claramente irrita muitas pessoas", disse ao jornal o astrofísico Steven Tingay, da Universidade Curtin (Austrália).
"Nunca houve um meteorito recuperado de qualquer objeto que atinja a atmosfera movendo-se a mais de 28 quilômetros por segundo", disse Peter Brown, astrônomo da Universidade de Western Ontario (Canadá), ao site Space.com. "Qualquer sólido que restaria seria essencialmente do tamanho de um aerossol."
Steve Desch, astrofísico da Universidade Estadual do Arizona, foi ainda mais crítico ao falar ao New York Times. "As pessoas estão cansadas de ouvir sobre as alegações selvagens de Avi Loeb. É poluir a boa ciência – confundir a boa ciência que fazemos com esse sensacionalismo ridículo e sugar todo o oxigênio da sala."