Como o governo vai restaurar obras danificadas na invasão a Brasília

De acordo com especialistas ligados ao Palácio do Planalto, a recuperação da maioria das obras é possível

14 jan 2023 - 05h00
Destruição contou com urina em tapete, quebra de vidros e furos em obras de arte
Destruição contou com urina em tapete, quebra de vidros e furos em obras de arte
Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado

Após a destruição de obras como “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 8 milhões, e “O Flautista”, de Bruno Giorgi, que vale R$ 250 mil, com a invasão aos prédios dos Três Poderes no último domingo (8), agora o trabalho será o de reconstrução. 

Os convidados para a missão de fazer o diagnóstico das obras danificadas foram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), a pedido do Ministério da Cultura. 

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No entanto, ainda que os prédios dos Três Poderes sejam tombados como patrimônio cultural do Iphan, as obras dentro deles não estão tombadas, e portanto, a restauração delas é de responsabilidade de cada um dos prédios. 

De acordo com especialistas ligados ao Planalto, a recuperação da maioria das obras é possível, mas algumas delas serão bem difíceis de restaurar. Na terça (10) e na quarta-feira (11), profissionais do Iphan efetuaram uma vistoria dos danos causados ao patrimônio público. 

A chefe de serviço do Segam, Maria Cristina Silva Monteiro, afirmou que o estrago ainda poderia ter sido pior
Foto: Mariana Alves / Agência Senado

O relatório descritivo-fotográfico com o levantamento foi publicado pela instituição na quinta-feira (12) e contém 50 páginas com todos os detalhes sobre os itens deteriorados. Os estragos vão desde manchas de fogo no piso a câmeras de seguranças removidas, além de arranhões, furos e fragmentações das peças artísticas.

Na sexta-feira (13), equipes do museu do Senado Federal e do Laboratório de Restauração concederam entrevista sobre a situação. A chefe de serviço do Segam, Maria Cristina Silva Monteiro, foi a responsável por listar as áreas e objetos vandalizados, e admitiu que “o estrago poderia ter sido ainda maior”.

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Quanto aos prédios do STF e do Planalto Nacional, Byte não obteve retorno sobre o andamento do processo.

Alguns itens demandam apenas técnicas de higienização por partes; outros pedem aquecimento de metais e novas peças de madeira
Foto: Mariana Alves / Agência Senado

Técnicas da restauração

Alguns itens, como a Tapeçaria de Burle Marx e o tapete persa (veja relação completa abaixo), deverão apenas ser higienizados parte por parte, pois foram sujos de urina. A tapeçaria também foi rasgada, o que provavelmente demandará uma recostura, embora esta não tenha sido anunciada pelo Senado. 

Já outros precisam de um trabalho maior. O quadro “Ato de assinatura do Projeto da 1ª Constituição”, por exemplo, precisará que a pintura seja retirada da moldura e colocada sobre uma plataforma de madeira, para que seja remontada com a ajuda de uma estrutura de ferro.

Já o tinteiro de bronze, que foi amassado e dobrado ao meio, o aquecimento do metal permitirá a manipulação dele para que volte à forma ideal. 

Objetos como a mesa de trabalho do século 19 ainda não têm previsão. Como ela foi totalmente danificada, será preciso recolher todas as suas peças para tentar recompô-la com novos pedaços de madeira. 

De acordo com a conservadora e restauradora portuguesa Marta Palmeira, em depoimento ao blog 360 Medianos, quando há lacunas numa pintura deve-se preencher o espaço com matéria apenas nesses locais. Assim, nesses espaços que estavam vazios, a cor é reintegrada igual à original sem nunca pintar por cima da obra.

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Normalmente essas "zonas vazias" podem ser completadas com gesso ou cola. Em pinturas em tela, a restauração pode fazer uso de aquarela. 

Itens de arte destruídos no Senado:

  • Tapeçaria de Burle Marx
  • Quadro Ato de assinatura do Projeto da 1ª Constituição, de Gustavo Hastoy
  • Quadros de Urbano Villela na galeria dos presidentes
  • Tinteiro de bronze da época do império
  • Vitrine com fotos e réplica da Constituição
  • Mesa de centro vinda do Palácio Monroe
  • Painel vermelho de Athos Bulcão
  • Tapete persa de decoração do dispositivo de receptivo dos chefes de estado
  • Quadro de Guido Mondim
  • Mesa de trabalho do século 19, que pertenceu aos palácios dos Arcos e Monroe
  • Cadeira que pertenceu ao Palácio Monroe

Obras deterioradas no Palácio do Planalto

  • Pintura sobre tela As mulatas, de Emiliano Di Cavalcanti, por perfurações contínuas na parte central da tela; 
  • Escultura em bronze O flautista, de Bruno Giorgi, fragmentada em toda sua extensão; 
  • Escultura em madeira, de Frans Krajcberg, com a estrutura rompida em quatro pontos (em um deles houve completa separação do suporte); 
  • Relógio de Balthazar Martinot, fragmentado em toda sua extensão, apresentando fissuras, deformações e perdas.

Obras deterioradas no Supremo Tribunal Federal

  • A Justiça (Recepção), que foi removida e arremessada do Palácio;
  • Painel de Mármore de Athos Bulcão (Plenário), com um arranhão na peça de mármore próxima ao Brasão da República;
  • Escultura A Justiça (Praça dos Três Poderes), com pichações;
  • Parte do acervo do Museu (subsolo) encharcado, devido ao acionamento dos sprinklers;
  • Salão Branco: peças de arte quebradas, furadas ou danificadas;
  • Peças de porcelana estilhaçadas;
  • Peças do acervo danificadas por exposição ao fogo e à água, com danos que podem ser irreversíveis.
Fonte: Redação Byte
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