Consciência Negra: a jornada de um CEO preto no ramo de tecnologia

Segundo levantamento publicado em 2024, pessoas negras ocupam apenas 4% dos cargos de CEO no Brasil

20 nov 2024 - 05h00

Embora as pessoas negras representem cerca de 56% da população brasileira, segundo os dados mais recentes do IBGE, essa mesma população enfrenta uma realidade de exclusão e sub-representação em posições de liderança no mercado de trabalho. Segundo o levantamento do Instituto Ethos publicado em 2024 no "Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil", as pessoas negras ocupam apenas 4% dos cargos de CEO no Brasil.

O mesmo estudo também revela que, entre os gestores, a maioria das oportunidades de liderança de alto escalão ainda é destinada a homens brancos, perpetuando um ciclo de discriminação racial e de gênero.

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Para ultrapassar esses obstáculos, organizações como o Instituto Patuá, criado por Kwami Alfama Correia, se empenham em apoiar e habilitar profissionais negros para posições de liderança sênior, estabelecendo redes de contatos e oferecendo cursos especializados.

Correia, ex-CEO da Zeg Biogás, acredita que dar visibilidade a esses profissionais e apoiar seu desenvolvimento são passos essenciais para promover uma mudança significativa na diversidade das lideranças empresariais no Brasil. 

Inovando no setor de reconhecimento facial

Victor Gomes, fundador e CEO da Gryfo, uma startup focada em reconhecimento facial, também vem rompendo a barreira e representando os indivíduos negros em posições de liderança.

Especialista em Administração Empresarial pela FGV e mestre em Engenharia de Software pela UFSCar, Victor se dedica à administração e ao desenvolvimento de novos negócios da companhia, liderando a equipe de Criação de Produtos e os setores de Marketing e Vendas. 

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Victor Gomes, CEO da Gryfo
Victor Gomes, CEO da Gryfo
Foto: Foto: Divulgação

“Ser negro nunca foi um obstáculo direto para a construção da minha carreira, mas, como para muitos afrodescendentes no Brasil, também não foi uma vantagem. Nunca tive acesso a bolsas ou tratamento diferenciado pela cor da pele e, muitas vezes (quase sempre), fui e sou o único preto em ambientes predominantemente brancos. A experiência traz uma sensação de desconforto, algo com que aprendi a lidar ao longo do tempo”, revela o CEO.

A história de Victor iniciou-se em São Carlos, uma metrópole famosa pela sua potência tecnológica. Nascido em uma família de baixa renda e com três irmãos, ele teve que lidar com grandes responsabilidades aos 15 anos, logo após a saída do pai de casa. 

“Desde então, estudar tornou-se a forma de transformar minha vida e de inspirar meus primos e irmãos mais novos. Com esforço e dedicação, fui o primeiro da minha família a iniciar e concluir uma universidade pública, o que me abriu portas para o mercado de trabalho e permitiu avançar em minha formação com um mestrado e mais duas especializações em tecnologia e negócios".

"Ainda na faculdade, meus primeiros passos no empreendedorismo surgiram em projetos paralelos. Esse caminho de constante aprendizado e ousadia levou à criação da Gryfo, empresa que co-fundei ao lado do meu sócio Arthur, onde investimos tempo, dinheiro e dedicação para conquistar os primeiros clientes e construir nosso time”, inclui.

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A ferramenta criada por eles vai além da inovação; é um emblema do comprometimento com uma tecnologia inclusiva e de fácil acesso, algo ainda ausente no mercado brasileiro.

“Eu mesmo enfrentei problemas com ferramentas de identificação, como no gov.br, uma experiência comum entre afrodescendentes que frequentemente sentem o impacto do viés racial nas tecnologias atuais. Motivados por essa realidade, mergulhamos na pesquisa das causas e desenvolvemos uma solução que não apenas fosse inovadora, mas que respeitasse a diversidade dos usuários”, complementou.

Fonte: Redação Byte
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