Do pessimismo à grana: como criador do metaverso se rendeu à sua criatura

Escritor de "Snow Crash", de 1992, criou o metaverso e agora parece estar criando um para não ficar de fora deste promissor mercado

27 set 2022 - 05h00
Stephenson, escritor de “Snow Crash”, imaginava o metaverso como um local distópico, bem diferente do que vende a Meta
Stephenson, escritor de “Snow Crash”, imaginava o metaverso como um local distópico, bem diferente do que vende a Meta
Foto: UK Black Tech / Unsplash

Você sabe a origem da palavra “metaverso”? O termo, que se tornou palavra de ordem para as big techs – notavelmente a Meta/Facebook, que gasta bilhões no novo conceito de internet com realidade virtual – apareceu pela primeira vez no livro “Snow Crash” (1992), de Neal Stephenson. Mas quando ele inventou o conceito, não imaginava algo tão inspirador assim. 

Stephenson pensou o metaverso como um local distópico, típico de ficções científicas pessimistas — e totalmente diferente do que vendem as empresas hoje, que projetam um lugar empolgante para realizar atividades. Mesmo que o autor não tenha gostado do que as grandes empresas fizeram com sua ideia, o “plot twist” é que agora ele também está criando um.

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Agora, em parceria com um especialista em criptomoedas — Peter Vessenes, que lidera a Fundação Bitcoin — Stephenson lançará a Lamina1, companhia que pretende ajudar na criação de um metaverso aberto.

A participação de Stephenson nisso tudo não é tão estranha assim. Nos primeiros capítulos de seu famoso romance, ele descreve os detalhes mais “nerds” do metaverso, como os fones de ouvido e o que também chamamos hoje de “áudio espacial”. E além de escritor, Stephenson trabalhou com realidade aumentada por seis anos na startup Magic Leap. Ainda no quesito Vale do Silício, fez parte da empresa espacial Blue Origin, de Jeff Bezos (ex-CEO da Amazon), bem no seu começo.

O conselheiro estratégico da Lamina1 e ex-CEO da Magic Leap, Rony Abovitz, afirmou: “É como se Neal estivesse descendo das montanhas como Gandalf, para restaurar o metaverso a uma ordem aberta, descentralizada e criativa”.

Com a ideia de descentralização, a Lamina1 tenta evitar que os usuários tenham que escolher entre Microsoft ou Apple, Windows ou Mac, Apple ou Android — ou seja, evitar um monopólio de megaempresas no metaverso. Tanto Stephenson quanto Vessenes concordam que deve haver um único metaverso, assim como há uma única internet, mas ele deve ser flexível o suficiente para acomodar diferentes experiências e realidades virtuais. 

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A Meta já tem milhares de funcionários atuando na criação do metaverso, mas o plano da Lamina1 não é competir de igual para igual com a companhia de Mark Zuckerberg. Seu alvo é projetar a camada inferior de um metaverso em um sistema semelhante ao Unity, uma plataforma para jogos e outros aplicativos.

A empresa, que hoje tem apenas três engenheiros em equipe, pretende contar com 20 a 200 especialistas trabalhando em sua blockchain (rede descentralizada de dados), além de tecnologia imersiva e espacial.

Decentraland, uma das atuais plataformas de metaverso
Foto: Divulgação / Decentraland

Como era o metaverso original de Neal Stephenson?

No livro de Stephenson, “Snow Crash”, o metaverso era uma realidade digital alternativa ao mundo físico. Nele, os humanos, como avatares programáveis, interagem entre si e com softwares autônomos (como os bots de hoje em dia) em um espaço virtual tridimensional que usa a metáfora do mundo real. 

Ele é descrito como um ambiente urbano desenvolvido ao longo de uma estrada de 100 metros de largura, chamada “Street”, que engloba todo um planeta preto e sem características, totalmente esférico. Enquanto as pessoas tinham seus avatares, as empresas mantinham lojas virtuais. O comércio do sistema imobiliário digital pertence a uma empresa chamada Global Multimedia Protocol Group.

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O livro se passa no século 21, que já estava próximo quando Stephenson escreveu, e boa parte do que foi escrito ali realmente existe: carros, fones de ouvido de realidade virtual, laptops, armas, etc. Mas os governos entraram em colapso e corporações dominam o mundo, cada uma com seus exércitos. 

Se o mundo em "Snow Crash" é um lugar em que as pessoas vivem vidas miseráveis, é no metaverso que elas podem escapar e se proteger. Por não ser “real”, as pessoas precisam de um hardware para se conectar com ele, e é assim que o protagonista da história consegue ser levado para lá. 

Selfie postada por Mark Zuckerberg no metaverso virou piada na web pela baixa qualidade gráfica
Foto: Divulgação / Meta

O que Neal Stephenson achou do metaverso ter se tornado "a novidade" em tecnologia?

Em um primeiro momento, demonstrou indiferença. Em outubro do ano passado, logo após o Facebook ter lançado seu manifesto pró-metaverso, ele tuitou: "Como parece haver uma confusão crescente sobre isso: não tenho nada a ver com nada que o FB [Facebook] esteja fazendo envolvendo o metaverso, além do fato óbvio de que eles estão usando um termo que criei em 'Snow Crash'. Houve zero comunicação entre mim e o FB e nenhum relacionamento de negócios."

Em junho deste ano, em uma entrevista ao jornal The Washington Post sob o iminente lançamento da Lamina1, Stephenson apresentou mais ânimo. 

"Há uma oportunidade legítima aqui para realmente fazer algo com a exposição que o conceito do metaverso recebeu", disse. Nos últimos anos, ele ficou, nas palavras dele, entre "apenas recuar e me tornar um eremita" ou "pular na briga". No fim, decidiu que a chance de "realizar algumas ideias antigas de 30 anos atrás e algumas novas ideias que eu não poderia ter pensado naquela época" era uma boa oportunidade.

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Fonte: Redação Byte
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