- Guilherme Justino
No lugar de páginas, órgãos humanos; em vez de fotos, brinquedos - ou até mesmo armas de fogo. As impressoras 3D permitem que qualquer pessoa - com um pouco de prática - reproduza o que imaginar, quando quiser. Antes de difícil acesso ao usuário doméstico, essa tecnologia foi simplificada, ficou mais barata e conquista novos adeptos diariamente; o processo, ainda que recente, está se popularizando, e deve revolucionar o sistema de produção industrial em favor da fabricação caseira, descentralizada. Transformar desenhos virtuais em objetos físicos está ao alcance de todos.
Infográfico: Como funciona uma impressora 3D? Veja passo a passo e conheça modelos
Assim como impressoras tradicionais, esses equipamentos materializam arquivos de computador através de um comando do usuário. A diferença está no resultado - produtos reais, tangíveis, tridimensionais; peças construídas em casas ou pequenos escritórios com eficiência, a partir de modelos digitais. Projetos antes somente possíveis na imaginação ou realizados apenas em ambiente virtual - portanto, próximos da ficção científica - começam a surgir de forma prática e até econômica: uma tendência que deve aumentar nos próximos anos.
Impressoras 3D não são novidade: máquinas assim têm sido utilizadas para fazer protótipos de engenharia há mais de 25 anos. Desde 2007, porém, com o fim de algumas patentes que impediam sua disseminação, a tecnologia ficou mais acessível e vem sendo aplicada por consumidores e pequenas empresas - inicialmente para consumo próprio e produção em baixa escala - em diversos países, inclusive no Brasil. Em geral, os produtos são fabricados em plástico, mas a evolução no processo já permite a criação de itens com metais, madeira, borracha, cerâmica, vidro e até açúcar. Em breve, a variedade de materiais disponíveis deve aumentar, assim como a qualidade dos itens produzidos.
"Com uma máquina dessas, você pode ter uma fábrica dentro de casa", afirmou ao Terra Rodrigo Rodrigues da Silva, um dos fundadores da Metamáquina - ao lado de Felipe Sanches e Filipe Moura. A empresa, com sede em São Paulo, começou como uma startup dos então estudantes de engenharia, nasceu a partir de financiamento colaborativo e hoje está com excesso de demanda e estoques esgotados. "Estamos recebendo muitos pedidos: é quase um interessado por dia", comemora Rodrigo. Seus principais clientes são pessoas físicas e pequenas empresas: público diferente daquele que procurava a tecnologia em seus primeiros anos - o que altera toda a lógica empresarial do setor.
Com a mudança de foco da indústria para o consumidor, os fabricantes de impressoras 3D foram recompensados com aumento nas vendas - e garantem aos clientes a perspectiva de revendas lucrativas. Aparelhos capazes de produzir itens simples - como chaveiros, porta-garrafas e peças de jogos de tabuleiro perdidas - são comercializados a preços cada vez mais acessíveis. Sua crescente popularidade se reflete na economia: as ações de empresas que negociam nas bolsas de valores, como as americanas Stratasys Inc e Rock Hill, duas das maiores companhias do mundo nesse segmento, mais que dobraram desde o início do ano.
O poder dos pequenos
Não apenas as grandes empresas do ramo estão obtendo sucesso. A impressão em três dimensões abre oportunidades para inventores e empresários criarem seus pequenos negócios - ou apenas manter um ritmo de produção caseiro, sem pretensões industriais. A possibilidade de materializar ideias mobiliza entusiastas que, com frequência, não se limitam a criar objetos para consumo pessoal e acabam se tornando microempresários, produzindo e revendendo as partes que fabricam. Sinal de um mercado atraente e em constante expansão.
Ao reduzir as barreiras à entrada da concorrência, a impressão 3D promove a inovação ao mesmo tempo em que atrai consumidores. Cada comprador se torna um fabricante em potencial, e a comunidade envolvida com essa tecnologia é engajada: proprietários costumam compartilhar suas realizações e incentivar outros a obterem o melhor desempenho possível de suas máquinas, assim alimentando ideias e contribuindo para a evolução dos produtos. Em números, essa expansão é animadora para o mercado: pesquisa divulgada neste semestre pela Global Industry Analysts projeta ganhos de US$ 2,99 bilhões até 2018, tornando a indústria da impressão 3D uma das mais lucrativas nos Estados Unidos nos próximos anos.
"Daqui a 10, 15 anos, toda casa poderá ter uma impressora 3D", acredita Rodrigo Krug, fundador da Cliever, empresa fundada no ano passado em Porto Alegre (veja a Cliever CL-1 em funcionamento no vídeo acima). Em entrevista ao Terra, ele contou que "não imaginava" a demanda que tem recebido. O estoque que tinha também foi esgotado em poucos meses. "Subestimamos o mercado. A procura tem sido muito maior do que esperávamos e a situação está muito boa: temos encomendas até o final do ano", afirma Krug, reproduzindo mais uma história de sucesso das - por enquanto, pequenas - empresas de impressoras 3D.
A expectativa é que a impressão 3D de baixo custo evolua a ponto de itens produzidos em casa rivalizarem com objetos simples que se costuma comprar. Atualmente, máquinas como o Replicator 2, da MakerBot (lançado em setembro e comercializado a cerca de US$ 2 mil), levam algumas horas para imprimir produtos mais complexos; mas e quando esse tempo for reduzido para apenas alguns minutos, e a qualidade aumentar consideravelmente? Tudo indica que esse futuro está bastante próximo. Empresas que trabalham com impressão 3D doméstica têm enfrentado problemas com a demanda - muito alta - e cada nova geração desses equipamentos torna seu uso mais fácil e produz resultados melhores, a preços cada vez mais baixos.
A qualidade dos produtos impressos melhora rapidamente, o tamanho dos objetos fabricados em casa está aumentando, o número de empresas trabalhando com impressão 3D cresce a cada dia e o manuseio fica mais e mais simplificado. "Estamos trabalhando muito para tornar a tecnologia cada vez mais acessível a pessoas não ligadas às áreas técnicas, facilitando-a ao máximo", afirma Rodrigo Krug, da Cliever, que pretende lançar até o final do ano um equipamento de simples operação, capaz de imprimir objetos com apenas um clique. O futuro está logo ali.