'Eu uso o Snapchat para vender vídeos sexuais'

Jodie Carnall fala sobre o que chama de 'negócio próprio', o comércio de imagens íntimas por meio das redes sociais.

27 nov 2018 - 18h43
(atualizado em 28/11/2018 às 11h58)
Jodie Carnall chama a si mesma de 'garota Snapchat Premium'
Jodie Carnall chama a si mesma de 'garota Snapchat Premium'
Foto: BBC News Brasil

Jodie Carnall diz ganhar 4 mil libras por mês (cerca de R$ 20 mil) vendendo imagens e vídeos sexuais no Snapchat. "É como um negócio próprio", diz a jovem de 26 anos ao programa da BBC Victoria Derbyshire.

"É como pessoas que cantam, que fazem shows, ou artistas que vendem suas próprias pinturas. Eu só estou vendendo fotos e vídeos de mim mesma."

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Carnall chama a si mesma de "garota Snapchat Premium".

Por uma mensalidade entre 20 e 200 libras (R$ 99 a R$ 990), ela envia a seus assinantes fotos e vídeos sexualmente explícitos por meio do aplicativo.

Esse tipo de material é proibido e removido quando encontrado, diz o Snapchat, mas Jodie vem fazendo isso desde 2016.

Ela usa outras redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram, para anunciar o serviço que oferece.

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O negócio, afirma, também tem um custo para sua vida pessoal. São os abusos online aos quais está sujeita.

Segundo Carnall, sobram "comentários ofensivos" online, de internautas que desaprovam o que faz para ganhar a vida.

Jodie envia o conteúdo que produz para assinantes que pagam mensalidades
Foto: BBC News Brasil

"Me chamam de 'vagabunda' e coisas do tipo. E isso me irrita", diz ela.

Em 20 minutos de filmagem com o programa Victoria Derbyshire, ela recebe a mensagem de um homem com quem nunca tinha falado antes, em que se lê: "Você é uma piranha. Você é linda, não me leve a mal, mas deveria se envergonhar de vender seu corpo ou suas fotos. Infelizmente, não existe moral nesse mundo".

Ela explica: "Eu recebo uma mensagem dessas por hora, ou a cada meia hora, o dia inteiro".

"Hoje à noite, um amigo vai dizer: 'Como foram as filmagens?' ... e então eu vou desabar".

"Mas", reflete ela, "eu estava infeliz no meu 'trabalho de escritório', e eu amo o dinheiro".

Manter sua conta no Snapchat virou trabalho em tempo integral, explica ela, muitas vezes porque seus cerca de 40 assinantes demandam material extra.

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O conteúdo pode variar de um strip-tease a vídeos em que aparece se masturbando.

Advogados dizem que nenhuma lei está sendo infringida por aqueles que vendem esse tipo de conteúdo, desde que não comercializem as imagens para menores de 18 anos ou façam upload de material especialmente depravado.

Mas, com as informações que o programa Victoria Derbyshire apurou reveladas ao Instagram, a rede social bloqueou todas as hashtags associadas ao Snapchat Premium que estavam sendo usadas por usuários para anunciar seus serviços.

O Snapchat disse em um comunicado que não permite que "conteúdo pornográfico seja promovido ou distribuído" por meio da plataforma.

"As contas que distribuem conteúdo pornográfico de forma privada violam intencionalmente os termos de serviço da nossa plataforma", acrescentou a rede social no texto.

"Nós os removemos quando denunciados."

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'O custo'

Jodie Carnall vê o Snapchat como um ambiente seguro para ganhar dinheiro, já que nunca precisa ficar cara a cara com seus clientes.

"Eu não sou uma acompanhante. Já me ofereceram milhares de libras para encontros e eu digo que não", diz ela.

Mas admite que o que faz também "tem um custo" para sua vida pessoal.

Ela não tem namorado há meses e diz que muitos homens a julgam.

"Eles não querem nada sério comigo depois [que eu digo a eles qual é o meu trabalho]. Ou até querem, mas pelas razões erradas", diz ela.

E ela admite que sua família está preocupada com as implicações de longo prazo.

Carnall autoriza os assinantes que pagam a mensalidade mais cara a salvar o material que ela envia para os telefones deles.

Isso significa que ela perde o controle do conteúdo e não sabe como ele será usado.

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'Futuras carreiras arruinadas'

Laura Higgins, que fundou a Revenge Porn Helpline - serviço britânico dedicado a apoiar adultos que foram vítimas de abuso íntimo relacionados a imagens - argumenta que mais proteções são necessárias.

Ela diz que a instituição recebe ligações rotineiras de pessoas como Carnall, que foram chantageadas ou tiveram suas futuras carreiras arruinadas pelo ressurgimento de conteúdo sexual que eles originalmente haviam vendido online.

E ela diz que os vídeos que eles produzem podem até ser usados por terceiros para uma espécie de extorsão sexual - a criação, com as imagens, de uma personagem falsa que induza homens a enviarem fotos íntimas de si, deixando-os vulneráveis a chantagem.

Um porta-voz do Departamento de Digital, Cultura, Mídia e Esporte do governo britânico disse esperar que "plataformas online garantam que os serviços que eles oferecem sejam adequados à idade" dos usuários.

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E acrescentou: "Trabalhando com empresas de tecnologia, instituições de caridade para crianças e outras partes interessadas, estamos desenvolvendo novas leis para ajudar a tornar o Reino Unido o lugar mais seguro do mundo para estar on-line".

O Snapchat diz que remove perfis que compartilham esse tipo de conteúdo por meio da plataforma, quando denunciados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Jodie Carnall explica que continuará vendendo material no Snapchat "até que não seja mais conveniente" para ela.

Ela diz que o dinheiro - quatro vezes o que ganhava antes - faz valer a pena, lembrando de dificuldades que enfrentava dois anos atrás até mesmo para comprar comida.

O que ganha hoje, afirma, permite que tenha um estilo de vida flexível.

Mas ela não esconde o lado ruim do trabalho.

"Quando [comentários sexualizados são] a única atenção que você recebe como mulher, isso pode fazer com que você se sinta completamente desvalorizada", diz ela.

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"Tudo o que eu recebo é tipo 'me mostre seus peitos' ou 'eu quero ver você de calcinha agora', ou 'você é indecente, você é imunda'."

"Às vezes, eu choro. É muito perturbador."

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