Fim do Twitter? O que a era Elon Musk significa para a rede social

Rede social vem atravessando mudanças que desafiam sua existência da forma como conhecemos hoje

23 nov 2022 - 05h00
Desde que assumiu, Musk demitiu de cerca de metade dos 7.500 funcionários da rede social
Desde que assumiu, Musk demitiu de cerca de metade dos 7.500 funcionários da rede social
Foto: Oberhaus/Flickr / Tecnoblog

A chegada de Elon Musk na chefia do Twitter representa o fim da rede social como a conhecíamos. Apesar de uma série de decisões controversas, a mensagem do empresário é bem clara: ou a plataforma diversifica sua receita — mesmo que isso signifique grandes sacrifícios na qualidade do serviço — ou estará fadado a morrer. É esta a leitura geral de especialistas ouvidos por Byte.

No entanto, eles também se mantêm céticos sobre o alardeado "fim" da plataforma, pois ela tem um público fiel que deverá se acostumar às próximas mudanças.

Publicidade

Desde que o também dono da Tesla comprou o Twitter por US$ 44 bilhões (R$ 235 bilhões), demitiu de cerca de metade dos 7.500 funcionários da rede social; suspendeu o trabalho remoto; e acabou com dias de descanso dos trabalhadores impondo um formato de trabalho "hardcore".

Além disso, o selo azul de perfil verificado, que era cedido no cumprimento de determinados requisitos, poderia agora ser obtido pagando por mês US$ 8 (cerca de R$ 43). A medida permitiu que uma série de perfis falsos aparecesse passando-se pelos “oficiais”. Por conta do problema, o novo selo azul segue suspenso — ao menos até os perfis falsos serem excluídos.

Musk também afirmou que “é essencial mostrar aos usuários do Twitter publicidade o mais relevante quanto possível para suas necessidades”, reiterando que anúncios de baixa relevância são spam. Também descreveu a rede social como sendo um espaço para a livre expressão. Isso foi compreendido como um foco menor na publicidade enquanto modelo de negócios e um aceno para cobrar taxas do serviço aos usuários.

De acordo com o pesquisador sênior do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) João Victor Archegas, o bilionário quer mudar por completo o modelo de negócio atual, além de ser uma visão radicalmente diferente sobre moderação de conteúdo em relação à gestão anterior.

Publicidade

“Musk comprou o Twitter em parte por estar insatisfeito com o que julgava ser uma série de ações de censura da empresa contra vozes conservadoras. Agora no controle, o bilionário promete ser mais leniente e defende uma visão de liberdade de expressão quase absoluta. Sinal disso foi a revogação da suspensão das contas de Donald Trump e Kanye West”, disse Archegas. 

Sede do Twitter no complexo Market Square (Califórnia)
Foto: Tobias Kleinlercher / Wikipedia

Apostas de futuro da rede variam

Carolina Frazon Terra, professora em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, acredita que a mudança de Musk no comando representa, sim, uma quebra de paradigma da rede social. "O Twitter sempre foi uma rede social que visava a produção de conteúdo, mas tinha determinadas regras para ter um perfil verificado. E o Musk vem com uma proposta diferente, de livre expressão no sentido mais amplo do termo", diz.

Já a sócia e diretora de planejamento da Youpix, Rafa Lotto, pensa que a rede ainda é forte para se criar comunidades e que a aquisição do Elon Musk não mudará muito essa proposta de forma imediata.

"O que eu acho que muda é a confiança das marcas que anunciam nela, com as últimas interferências de Musk em um período de pré Black Friday, por exemplo. Algumas marcas com as quais trabalhamos estavam reticentes em investir algum dinheiro e a rede 'quebrar' pelas maluquices que Elon Musk vem fazendo”, explicou. 

Publicidade

Empresas como seguradora Allianz e a biofarmacêutica Gilead Sciences, por exemplo, pularam fora do barco assim que Musk assumiu, e outras empresas também estavam reavaliando sua estratégia na plataforma, como a General Mills, Mondelez International e a Pfizer.

O Twitter poderá ser substituído?

Redes sociais como Mastodon e a indiana Koo foram tema nos últimos dias. Esta última ganhou até versão em português após a adesão massiva de brasileiros. Porém, os pesquisadores acreditam que o Twitter ainda segue muito forte.

"Enquanto usuários temiam o 'fim do Twitter', Elon Musk estava comemorando recordes de acesso e de notícias sobre o Twitter na mídia. Na cabeça dele o 'falem mal, mas falem de mim  é o que parece governar”, lembrou Lotto. Além disso, segundo ela, redes como o Mastodon são difíceis de usar. “É mais que um login”, destacou. 

Archegas também argumentou ainda que, apesar de todo o estardalhaço, o Twitter vem batendo recordes de engajamento. “Os usuários estão usando a plataforma para debater e criticar as mudanças implementadas por Musk. A tendência, acredito, é o Twitter continuar exercendo um papel central no ecossistema de plataformas digitais pelo futuro próximo”, comentou o pesquisador. 

Publicidade
Enquanto usuários temiam o 'fim do Twitter', Elon Musk estava comemorando recordes de acesso e de notícias sobre o Twitter na mídia
Foto: Claudio Schwarz / Unsplash

Descentralização de plataformas: o fim de uma era?

Os analistas percebem que a crise não é só do Twitter. Ela acontece devido à concorrência com novos atores como o TikTok e após a Meta — dona do Instagram, do Facebook e do WhatsApp, redes concorrentes do passarinho azul — ser alvo de críticas e também promover demissões em massa

Para Rafa Lotto, a hegemonia de uma só rede não será mais vivida daqui pra frente. “A fragmentação é resultado de um usuário mais maduro, que tem apenas 24 horas em um dia e que, apesar de passar cada vez mais horas conectado, tem mais opções, portanto sua atenção está fragmentada e direcionada para aquilo que faz mais sentido para o seu uso, seus interesses, seu momento de vida”, argumentou.

“Tem redes para quem ama gastronomia, quem é prestador de serviço, quem não quer estar nas redes tradicionais. E essa descentralização das redes sociais já é um movimento que vem acontecendo independente do Elon Musk”, destacou Carolina Terra. 

Além disso, os próprios influenciadores também estariam cada vez mais independentes dessas plataformas, mesmo reclamando muito da monetização delas. Assim, buscam formas diferentes de rentabilizar, como cursos pagos e venda de produtos personalizados.

Publicidade
Fonte: Redação Byte
TAGS
É fã de ciência e tecnologia? Acompanhe as notícias do Byte!
Ativar notificações