Futuro ou surto coletivo: o metaverso é algo viável?

O conceito de metaverso ainda causa dúvidas; mercado se empolga, mas é preciso melhorar tecnologia, tratamento de dados e segurança

26 ago 2022 - 09h20
Selfie postada por Mark Zuckerberg no metaverso virou piada na web pela baixa qualidade gráfica
Selfie postada por Mark Zuckerberg no metaverso virou piada na web pela baixa qualidade gráfica
Foto: Divulgação / Meta

O conceito do metaverso, que desde o ano passado levanta debates sobre o futuro da tecnologia, voltou à discussão há alguns dias, quando Mark Zuckerberg, chefe da Meta (dona do Facebook), virou piada nas redes sociais por apresentar uma imagem de seu avatar no ambiente digital. A imagem trazia qualidade de detalhes muito baixa, sem sombras e bem inferior ao que vemos em jogos recentes como “Fortnite”.

Enquanto alguns parecem entusiasmados com a novidade, outros consideram que não há nada de novo e de valoroso no conceito e que o momento atual será considerado um "surto coletivo", como outras modas de tecnologia que não vingaram. Entre os dois extremos, a maioria das pessoas nem sequer entende o que significa isso.

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Defensores do multiverso afirmam que, a despeito do recente "mico" da Meta, os novos ambientes gerarão muitas oportunidades de negócios e lazer, enquanto críticos temem pelo tratamento de dados e novas brechas de segurança. Além disso, a tecnologia atual para acessar metaversos estaria um pouco longe do ideal; precisa se tornar mais barata, intuitiva e não causar danos à saúde. 

Finalmente, o que é metaverso?

Bruno Pedroza, diretor de interação na Broders, produtora brasileira que já lançou projetos em mais de 20 países relacionados ao metaverso, diz que o conceito ainda não foi fechado.

“Algumas empresas acreditam que o metaverso só vai existir se for em realidade virtual, em realidade aumentada, ou em NXR (realidade mista), ou com os óculos. Outras pessoas acham que pode existir através do áudio, ou que o 'Fortnite', por exemplo, já é um metaverso”, esclarece Pedroza.

Para Pedroza, o conceito seria uma nova era da internet onde as pessoas podem se conectar de forma “interoperável” e expandida. Visualmente, trarão mundos digitais 3D com as pessoas acessando por meio de avatares, como foi o caso de Zuckerberg na imagem viralizada. 

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Metaverso tem dividido opiniões nas redes e muitos ainda não entendem bem o conceito
Foto: Riki32 / Pixabay

“Experiências como uma viagem no tempo para aprender história, uma clínica com pacientes meta-humanos para um médico aprender uma nova técnica cirúrgica ou a operação de uma usina de geração de energia poderão ser realizadas a partir de uma sala de controle no metaverso”, explica Flávio Machado, CEO da Pixit, empresa de criação de espaços virtuais em 3D. 

Sobre a recente gafe da Meta, ele diz: "A tecnologia está no início. Existem barreiras de infraestrutura, de capacidade dos aparelhos. Você não pode criar uma plataforma mundial que demanda alta capacidade de processamento gráfico como [se cria] um game. Trata-se de tempo e alinhar expectativas."

Simone Kliass, vice-presidente da The Brazilian Extended Reality Association (XRBR), afirma que hoje temos plataformas de mundos virtuais com características bem diversas. Umas são mais centralizadas, como a Horizon da Meta e 'Fortnite', e outras são mais alinhadas à Web3 [internet descentralizada, com novas ferramentas de segurança e economia] como a SandBox e a Decentraland. "Essas plataformas imersivas virtuais vieram pra ficar e vão evoluir a cada dia”, defende.

Qual o plano das empresas e instituições para o metaverso?

Meta e Apple já investem pesado no metaverso, prevendo lucrar não apenas com negócios realizados nesses ambientes, mas também com a venda de headsets de realidade virtual. A Meta tem o Meta Quest 2, enquanto a Apple ainda faz mistério sobre seu futuro aparelho, previsto para 2023.

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O próprio Mark Zuckerberg especupla que as duas empresas vão travar uma guerra de conceitos: a Meta espera produzir um ambiente mais aberto e permissivo, enquanto a fabricante dos iPhones pode ser mais fechada, sem muita conectividade com os produtos dos concorrentes. Em resumo, um PC vs. Mac Parte 2.

Além das big techs, pequenas e médias empresas de comunicação, marketing, engenharia de design e vários outros ramos veem o metaverso como uma “corrida pelo ouro”, segundo Pedroza. Há expectativa para negociação de inúmeros bens virtuais, como terras, móveis, serviços, itens de games e arte digital. Criptomoeadas e NFTs, ativos digitais que podem ser comprados e vendidos com dinheiro real, estão sendo cotados para mover essa nova economia.

Big techs e pequenas e médias empresas tendem a "brigar" por espaço no metaverso
Foto: Gerd Altmann / Pixabay

A aposta é alta: esse mercado deve movimentar entre US$ 8 trilhões e US$ 13 trilhões até 2030, segundo relatório do banco Citi. Apenas nos primeiros cinco meses de 2022, de acordo com um estudo da McKinsey, já foram investidos mais de US$ 120 bilhões em negócios ou ativos no metaverso.

Para Machado, cada empresa lutará para reafirmar seus parâmetros. “Não restará apenas um metaverso. Como hoje existem diferentes redes sociais, haverão múltiplas plataformas centralizadas e descentralizadas, atendendo diferentes perfis de usuários e para diferentes finalidades”, defende.

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Apesar de inicial, metaverso já é criticado

Apesar da animação do mercado, o metaverso já é alvo de críticas. O inventor do videogame PlayStation, Ken Kutaragi, afirmou que os óculos de realidade virtual na verdade iriam isolar ainda mais as pessoas. “Estar no mundo real é muito importante. O metaverso é tornar algo quase real no mundo virtual. Não vejo sentido em fazer isso. Você prefere ser um avatar polido em vez do seu verdadeiro eu?”, comentou Kutaragi. 

Outra preocupação é em relação ao tratamento de dados no metaverso. Embora os entusiastas afirmem que haverá cuidados, o histórico da Meta não é lá dos melhores. O escândalo da Cambridge Analytica, em 2018, mostrou que as informações de 87 milhões de pessoas do Facebook foram usadas de forma indevida. 

"O metaverso continua apresentando os mesmos riscos que as outras plataformas apresentam. E pode ser que apresente riscos adicionais, que tenhamos mais informações disponíveis. Que possam ver pra onde você olhou, com quem você interagiu… apesar de os celulares hoje já conseguirem fazer isso de forma bastante detalhada", diz Pedroza.

Decentraland, uma das atuais plataformas de metaverso
Foto: Divulgação / Decentraland

Um estudo da empresa de cibersegurança Trend Micro alertou sobre a possbilidade de surgir um “Darkverso”, metaverso que pode alimentar crimes cibernéticos. O documento alerta para outros riscos de segurança, como comprometer os “gêmeos digitais” (réplicas de pessoas e lugares físicos) de operadores de infraestrutura crítica, com o objetivo de sabotagem ou extorsão de sistemas industriais. Ou ainda causar, via malware, danos físicos a pessoas que estejam acessando o metaverso com trajes que revestem o corpo e que interagem fisicamente com seu portador. 

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O site The Verge contou, em dezembro do ano passado, o caso de uma mulher que foi assediada sexualmente por um estranho na plataforma beta de mídia social em realidade virtual da Meta. Vivek Sharma, vice-presidente da Horizon, chamou o incidente de "absolutamente infeliz" e a empresa disse que a testadora beta não usava os recursos de segurança da plataforma, que incluiam a capacidade de bloquear alguém de interagir com você.

Por fim, existem desafios sobre equipamentos a serem usados. Os óculos imersivos existentes ainda causam desconfortos, de acordo um recente estudo feito na Coburg University, na Alemanha. Além de serem muito caros e, segundo Machado, “ainda primários”, porque a tecnologia tem que evoluir para garantir usabilidade por longos períodos.

Mesmo com tudo isso, a expectativa das empresas é de que o metaverso esteja mais “maduro” em um período médio de dez a 15 anos. Resta saber se a empreitada vai vingar mesmo ou se sucumbirá em meio aos desafios já vistos.

Fonte: Redação Byte
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