Um estudo recente revelou alterações generalizadas no cérebro materno durante a gravidez, mapeando essas mudanças com detalhes. Publicada na Nature Neuroscience, a pesquisa acompanhou uma única participante, que realizou 26 exames de ressonância magnética antes, durante e após a gestação. Este é um marco para a neurociência da "matrescência", que propõe que a gravidez é uma fase de transformação tanto física quanto mental na vida adulta.
No estudo, a pesquisadora Laura Pritschet e colaboradores observaram diminuições no volume da substância cinzenta e na espessura do córtex cerebral, contrastando com aumentos na integridade estrutural da substância branca e no volume de fluido cerebrospinal. Essas alterações indicam uma remodelação neuronal profunda, possivelmente preparando o cérebro para o parto e os desafios da maternidade.
Transformações anatômicas e hormonais
A gravidez provoca um aumento significativo na produção de hormônios como estrogênio e progesterona, responsáveis por impulsionar uma reorganização do sistema nervoso central. Esse processo, já observado em modelos animais, também ocorre em humanos, promovendo mudanças em circuitos cerebrais associados a comportamentos maternos.
Os resultados demonstraram que a gestação é um período de notável neuroplasticidade, incluindo remodelações no hipocampo e outras áreas subcorticais, como o tálamo e o putâmen. Além disso, houve aumento na integridade dos tratos neurais, sugerindo maior eficiência na conectividade cerebral.
"Evidências convergentes entre espécies de mamíferos apontam para a gravidez como um período notável de neuroplasticidade, revelando a capacidade do cérebro de passar por mudanças neuroanatômicas adaptativas, impulsionadas por hormônios, além da adolescência", cita o estudo, incluindo que tais mudanças podem permanecer por dois anos após o parto.
Legado neural da gravidez
Estudos anteriores já haviam identificado alterações no volume da substância cinzenta que persistem anos após o parto, destacando a permanência dessas adaptações. A pesquisa agora fornece um mapa detalhado das mudanças que ocorrem durante a gravidez, expandindo o entendimento sobre como o cérebro materno se transforma.
Com quase 140 milhões de mulheres engravidando anualmente, os resultados reforçam a importância de compreender os impactos da gravidez no cérebro humano. O estudo também oferece dados de acesso aberto para a comunidade científica explorar mais a fundo as complexidades da "matrescência".