Recentes descobertas sobre moléculas orgânicas em Marte, encontradas pelo veículo Perseverance, acenderam ainda mais as esperanças de encontrarmos vida em outros planetas além da Terra. Há anos, missões espaciais são realizadas na busca de vida, e já conseguimos entender pelo menos uma coisa: que não veremos homens verdes e discos voadores nessas buscas.
As pesquisas normalmente observam rochas antiquíssimas, minerais e bactérias dos planetas vizinhos, em busca de amostras que indiquem a possibilidade de haver ou ter havido vida no passado. Apesar de nenhuma confirmação até hoje, já temos muitos indícios de onde pode ter existido (ou ainda existe) vida no nosso Sistema Solar. Veja alguns exemplos.
Marte
Não é à toa que a música "Life on Mars?", de David Bowie, seja um sucesso. O primeiríssimo lugar mais provável de encontrarmos vida é justamente em Marte por uma série de razões. Sabe-se que o planeta já foi habitável há bilhões de anos atrás, quando tinha rios e lagos de água líquida em sua superfície.
Além disso, na época, sua superfície deveria ser robusta para manter as coisas quentes e confortáveis. Mesmo com as mudanças com o passar do tempo, isso sugere que seu ecossistema ainda pode conter vida. Não mais na superfície do planeta, mas em seu subsolo.
Grandes estudos já usaram observações de radar para mostrar que reservatórios de água líquida provavelmente existem a quilômetros abaixo da superfície. Bactérias na Terra já foram encontradas em condições semelhantes, o que torna ainda mais possível que algo também esteja vivendo nos escombros de Marte.
Ainda que chegar lá no fundo seja bem difícil, já temos trabalhos do Rover Perseverance que procura constantemente sinais de vida antiga e garantirá amostras para serem observadas em laboratório.
Europa, a lua de Júpiter
A lua Europa, que orbita o gigantesco planeta Júpiter, tem uma concha gelada de 16 a 24,1 km de espessura cobrindo um enorme oceano subsuperficial, aquecido por forças marítimas. Acredita-se que a temperatura ajuda a criar um sistema de circulação interna que mantém as águas em movimento e reabastece a superfície gelada regularmente. Esse movimento leva o conteúdo do fundo do oceano a circular também na superfície.
Ou seja, para determinar se existe vida nessas águas, não é necessário que os instrumentos espaciais cheguem até o fundo delas: basta analisarem sua superfície. Cientistas também já encontraram depósitos de minerais semelhantes à argila associados a materiais orgânicos em Europa.
Suspeita-se até que a radiação da superfície gelada do satélite possa resultar em oxigênio, que por sua vez chegaria aos oceanos subterrâneos e seria usado para a respiração de seres vivos. Com isso, todos os ingredientes para a vida estão lá.
Missões serão realizadas no local, como a JUICE (Explorador de Luas Geladas de Júpiter, em português), e a Europa Clipper, que será lançada em 2014 e chegará na lua em 2030.
A maior lua de Saturno, Titã
Diferentemente do resto do Sistema Solar, a lua Titã possui uma das atmosferas mais robustas para um mundo rochoso fora da Terra e de Vênus.
Diferentes corpos de líquidos são encontrados na região: lagos, rios e mares. Mas que não são feitos de água, e sim de metano e outros hidrocarbonetos. Rica em matéria orgânica, a maior lua de Saturno também é rica em materiais necessários para a vida. E também pode ter um oceano subsuperficial de água, embora isso precise ser verificado em futuras missões.
A missão Dragonfly, da Nasa, enviará um helicóptero drone para explorar a atmosfera de Titã e nos dar uma noção de quão desenvolvida ela é. Lançada em 2027, ela pretende chegar a Titã em 2034.
A sexta maior lua de Saturno, Enceladus
Completamente coberta por gelo, a sexta maior lua de Saturno é um dos corpos mais reflexivos do Sistema Solar. Sua superfície, apesar de fria, registra um pouco de atividade acontecendo por baixo dela. A lua também ejeta plumas que contém uma variedade de compostos, como água salgada, amônia e moléculas orgânicas como metano e propano.
Cientistas acreditam que Enceladus tenha sido um oceano salgado global. E a Nasa também já encontrou evidências de atividade hidrotérmica no subsolo, o que poderia fornecer uma fonte de calor para dar à vida uma chance de evoluir e prosperar.
Ainda que muitas propostas de missões tenham sido feitas, não há nenhuma ainda em voga para estudá-la. A ideia, já discutida também na Nasa, é que seja feita uma investigação astrobiológica para entender se Enceladus é habitável.
Vênus
O tão conhecido “planeta do amor” pode ser também o planeta da vida. Sabe-se que Vênus tem temperaturas superficiais tão altas que são capazes de derreter chumbo, e pressões superficiais 80 vezes mais ríspidas do que na Terra. Mesmo assim, como esse seria um planeta habitável?
As teorias de que Vênus poderia ter tido vida (ou ainda ter) surgiram quando pesquisadores identificaram o gás fosfina em sua atmosfera espessa. Na Terra, a fosfina é produzida principalmente de forma natural, pela vida, em ecossistemas pobres em oxigênio.
Isso levanta a hipótese de haver vida em Vênus, que seria responsável por produzir a fosfina. O cenário mais provável seria a vida microbiana pendurada dentro das nuvens – uma vida nos ares. Atualmente, as detecções de fosfina estão sob análise, e a ideia de vida no ar não é algo que alguns cientistas acreditem.
Ainda assim, trabalhos que exploraram principalmente a história da água de Vênus renovaram a ideia de que o planeta possa ter sido habitável – ou ainda possa ser. As novas missões Rocket Lab-MIT, da empresa privada Rocket Lab, e DAVINCI+ e VERITAS, que a Nasa lançará no final desta década, buscarão entender melhor essas questões.