Um grupo hacker que se identifica como apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificou ataques cibernéticos a páginas que apoiam a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto. Ao assumirem o controle dos sites invadidos, os hackers pedem votos ao candidato à reeleição.
As ações são reivindicadas por um grupo que se autodenomina BolsonaroCyberMafia. As invasões são registradas em um repositório digital usado por hackers para dar publicidade aos ataques e cultivar prestígio no meio do cibercrime. Não foram encontradas referências de ataques a sites ligados a apoiadores de Bolsonaro. Mas, como mostrou o Estadão, os ataques à campanha do presidente foram feitos abertamente nas redes sociais pelos petistas, sem atuação de hackers.
A campanha de Lula resgatou vídeos antigos sobre maçonaria e canibalismo para tentar minar o apoio de Bolsonaro junto aos evangélicos. A estratégia eleitoral fez com que o ex-presidente petista ampliasse o engajamento em suas páginas. O maior responsável pelo impulsionamento nas redes sociais de ataques ao presidente é o deputado André Janones (Avante-MG). Usando seu perfil pessoal, o parlamentar compartilha fotos e vídeos e ainda provoca os perfis de bolsonaristas.
Já as investidas contra as páginas por hackers consistem em substituir conteúdos dos sites por mensagens antipetistas e a favor de Bolsonaro. É um ataque conhecido por "defacement", um tipo de "pichação virtual" realizada a partir de falhas de segurança.
Um dos ataques mais recentes foi realizado na sexta-feira, 7, contra o site do PT que concentra notícias e informações sobre a atuação da bancada na Câmara. A página principal foi substituída por mensagem contrária ao partido e por um pedido de apoio a Bolsonaro acompanhado por uma foto dele sobre a bandeira do Brasil.
"O PT diz lutar pelos pobres, mas o PT só se mostrou desigual ao longo dos anos, pessoas na pobreza enquanto os engravatados estão de bolso cheio", dizia o texto. "No segundo turno vote 22?.
Nos últimos dias, os hackers também alteraram páginas dos deputados Paulo Teixeira (PT-SP), Natália Bonavides (PT-RN) e Benedita da Silva (PT-RJ). À exceção do ataque contra o site do petista de São Paulo, realizado em agosto, todos os demais foram registrados nos primeiros dias de outubro.
O site oficial do deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT-SP) também foi alvo, na última quarta, 5. "Vermelho é a cor da fome. No segundo turno vote 22?, diz a mensagem deixada pelos cibercriminosos.
O BolsonaroCyberMafia não mantém perfis que o identifique nas principais redes sociais e nenhum usuário se apresentou como líder do grupo. Entre os seus alvos, na última semana, também estão a página da deputada estadual do Rio Grande do Sul Any Ortiz, eleita para a Câmara pelo Cidadania, e a do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Congresso.
No último dia 27, o site oficial de Lula sofreu um ataque hacker e passou a exibir uma mensagem pró-Bolsonaro com uma montagem na qual o ex-presidente aparecia preso. A ação foi reivindicada por um outro grupo hacker que já esteve envolvido em ataque cibernético ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Exposto
O Brasil é um dos países que mais sofrem com ação de hackers, segundo relatórios de empresas de monitoramento cibernético. O quadro se agravou na pandemia, com mais atividades corriqueiras sendo realizadas por meios tecnológicos.
No período eleitoral os impactos também chamaram a atenção de especialistas. De acordo com relatório NSFOCUS Global Threat Hunting System, sites brasileiros sofreram mais de 225 mil ataques hackers nos meses de julho e agosto. No mesmo período de 2021, foram 150 mil.
No dia do primeiro turno das eleições, houve tentativas de ataque a páginas do TSE. Todos foram neutralizados e não houve prejuízos à navegação dos usuários nem à apuração. Os ataques são voltados ao site e não têm qualquer influência sobre o sistema de votação em si. As urnas não são conectadas à internet e é impossível que uma ação como essa afete o resultado da eleição.