De roupa camuflada, Fausto diz buscar companhia para um casamento - ele ressalta que vai "em traje militar de gala". Leonardo, de coturno nos pés e metralhadora na mão, anuncia que "adora cinema e pratica artes marciais". De rosto coberto e capacete, Dan faz mistério: "[Estou] pronto para, em condições de...".
Fausto, Leonardo e Dan são donos de alguns dos perfis de policiais militares, oficiais do exército, policiais federais e guardas civis metropolitanos no Tinder, popular aplicativo de paquera para smartphones.
Além das fardas oficiais, suas armas de sedução incluem desde imagens de pistolas, fuzis e escopetas até viaturas, motocicletas, cavalos e helicópteros de guerra. Tudo fotografado e postado na rede social.
O funcionamento do aplicativo é simples: aos usuários, basta aprovar ou descartar fotos publicadas por outras pessoas. O Tinder avisa em caso de interesse mútuo e permite que os usuários iniciem conversas privadas para depois, eventualmente, se encontrarem pessoalmente.
Em frente a uma pilha de capacetes camuflados, um dos oficiais (escorpiano, 27 anos, 1,70 metro de altura, 78 quilos, fã de "cinema, barzinhos e comer fora") brinca com o fetiche militar e faz piada com a fama sisuda da corporação. "Tenho essa cara de sério e bravo, mas não mordo. A não ser que peçam."
Corporações
O volume de downloads do Tinder cresceu 50% no Brasil desde o início da Copa do Mundo, segundo porta-vozes da empresa.
O país ocupa o terceiro lugar em número de usuários, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Fetiches à parte, a superexposição traz a pergunta: oficiais podem publicar fotos pessoais em páginas de relacionamentos mostrando armamento, fardas, munição e equipamentos das corporações?
O #salasocial tentou conversar com Exército, Polícia Federal e Polícia Militar do Estado de São Paulo, cujos uniformes aparecem em diversas fotos.
O Exército respondeu por nota oficial: "é vedada a divulgação em sítios ou redes sociais de fotos, vídeos ou outras informações relacionadas à rotina de qualquer Organização Militar, ou que possam comprometer sua segurança e a imagem do Exército."
As forças armadas disseram ainda que, caso as orientações não sejam cumpridas, "providências administrativas serão tomadas."
Segundo a Polícia Federal, "a situação será devidamente apurada." Também em nota, a PF afirmou que não reconhece o uniforme vestido por um dos fardados do Tinder - mas não respondeu quando foi perguntada se a vestimenta é ou não falsa.
A PM prometeu comentar o caso, mas não respondeu aos chamados da reportagem no horário combinado.
Tumblr
A discussão explodiu na internet há menos de 48 horas, logo depois de um site começar a reunir imagens destes perfis com armas e fardas.
Criado por uma cientista social paulistana de 26 anos, o "Polícia no Tinder" já publicou mais de 60 imagens de oficiais fardados. A dona do site prefere manter o anonimato por medo de represálias.
"Eu comecei a usar o Tinder de brincadeira", contou ao #salasocial. "Mas depois de ver três perfis seguidos de policiais militares, achei que a piada já estava pronta e comecei a salvar as imagens. Quando vi, já tinha acumulado mais de 20."
Ela afirma que a ideia de expor os oficiais paqueradores tem viés crítico.
"Quis brincar com toda essa pose que eles mantém nas ruas, enquanto usam esse fetiche pela farda e armas no Tinder. Não vejo outra explicação para as armas, helicópteros, cavalos e viaturas que não seja essa de brincar com o imaginário feminino."
Entre seus perfis favoritos está o do policial cuja descrição é "verás que um filho teu não foge à luta". Além deste, há, segundo a criadora, o rapaz "que fez uma sessão de fotos na delegacia, com versões com boina e sem boina", que "também merece a visita."