Desde 2006, a Plug and Play, uma das maiores aceleradoras do Vale do Silício, presta consultoria e investe em startups. Em 2010, iniciou também parcerias com grandes companhias globais. Hoje, a Plug and Play trabalha com 220 grandes empresas, que procuram assessoria para encontrar o caminho para a inovação - no Brasil, o Hospital Albert Einstein e o Banco do Brasil são clientes da aceleradora.
Foi com os conselhos da Plug and Play e da diretora de operações da aceleradora, Jackie Hernandez, que o BB decidiu rever projetos de inovação e voltar para a prancheta para buscar ideias com mais chance de sucesso. Da mesma forma, o Hospital Albert Einstein pôde começar a trabalhar para levar seus produtos tecnológicos para o mercado internacional.
O Estado conversou com Jackie sobre como é o processo de ajudar empresas a pensar fora da caixa e também sobre o ecossistema brasileiro.
Leia os principais trechos da entrevista:
Estado: Como trazer a inovação para as grandes empresas que ainda não conseguiram se renovar?
Jackie Hernandez: As grandes corporações acham que, ao abrir uma incubadora, elas se tornam inovadoras. Elas têm seus próprios objetivos, então é preciso fazer de um jeito mais interativo, mostrando que há retorno. Tornar-se uma empresa inovadora é um combinação entre tecnologia e pessoas. Queremos ser catalisadores desse processo. As corporações sabem o que fazer, têm um ambiente seguro que permite falhar e descartar o que não funciona.
Qual é o maior desafio da área de inovação hoje?
Tendemos a ver indústrias de uma forma fechada, em "caixinhas". Olhamos para montadoras e pensamos que elas apenas produzem carros. Olhamos para lojas e pensamos que elas são apenas varejo. A realidade é que a tecnologia está se sobrepondo. As indústrias automotivas, por exemplo, estão migrando de produto para serviço. Hoje em dia, as coisas se entrelaçam: se você não está na saúde, você quer estar na saúde e, se você já está na saúde, você quer estar presente em outros lugares. O desafio é como fazer a transformação cultural dentro das empresas.
Qual é a sua opinião sobre as startups do Brasil?
Em geral, o Brasil é muito criativo e várias tecnologias estão sendo lançadas aqui. Acredito que o desafio, que não é exclusivo do Brasil, é criar empresas globais em vez de empresas regionais. O Brasil tem o benefício de ser um país muito grande, então certamente se você oferece serviços no Brasil, você tem um grande mercado. Mas pode ser maior.
Em que segmentos o País precisa investir?
As grandes corporações precisam perder o medo. O desafio que temos é que a maioria das startups que estão no ecossistema local tendem a ser muito pequenas, restritas ao estágio inicial. Ao mesmo tempo, as grandes corporações são muito reguladas e não conseguem se engajar com uma startup pequena. O que fazemos na Plug and Play é ensiná-las a como trabalhar com startups. Queremos, em um primeiro momento, que elas se exponham a startups maiores - que tenham mais de 30 pessoas trabalhando e recebido mais de US$ 20 milhões de investimento, por exemplo. O trabalho da grande corporação com uma startup maior flui mais.
É importante as startups brasileiras a manutenção do contato com o Vale do Silício?
Elas nunca devem parar de ir para lá. Quando eu fui para o Vale do Silício foi como se eu tivesse mudado da calçada para a rodovia. A forma como o mundo da tecnologia opera e a sua ambição é absolutamente inacreditável. Você não vai entender o nível que você precisa chegar. O Banco do Brasil, por exemplo, trabalhou durante meses em um produto, que achava estar pronto para ser lançado. Então, a empresa enviou o time de inovação para o Vale do Silício Lá eles perceberam que ainda estavam perdidos.
A Plug and Play pretende abrir filial no Brasil?
O Brasil está no nosso mapa para ampliação de atuação. Nosso objetivo é fazer a inovação ser acessível a todos.