Steven Choi já passou por dois dos principais projetos de desenvolvimento de carros autônomos do mundo - o do Google e o do Uber. Agora, porém, o engenheiro americano se prepara para um desafio diferente: ele será o novo líder da área de produto, inteligência artificial e aprendizado de máquina da Olivia, fintech fundada por dois brasileiros - Lucas Moraes e Cristiano Oliveira - no Vale do Silício. Dona de um app que ajuda usuários a economizar com monitoramento financeiro e dicas de consumo, a empresa já levantou aportes de nomes como a gestora de investimentos XP e o fundo BR Startups, que tem participação de empresas como Microsoft, Votorantim e Monsanto.
Choi será o responsável por comandar um time de cerca de 12 pessoas em Palo Alto, na Califórnia - a cidade também hospeda empresas como HP, Tesla e recebeu a primeira sede do Facebook. Segundo o executivo, seu time será responsável por cuidar de áreas como enriquecimento de dados e aprendizado de máquina, enquanto a equipe de desenvolvimento de tecnologia da Olivia no Brasil cuidará das áreas de infraestrutura e experiência do usuário. "Vamos fazer refinamentos de tecnologia que só são possíveis no Vale", diz Choi.
De acordo com o executivo, seus principais esforços estarão na área de "conversação com os usuários" - hoje, a interface da Olivia se assemelha à de um robô de conversa, que dialoga com o usuário explicando sobre suas estatísticas financeiras. Segundo ele, é aí que entra sua expertise. "Boa parte do que faz um carro autônomo funcionar é entender o contexto ao seu redor. O mesmo vale para a maneira como uma pessoa gasta seu dinheiro, é uma questão de hábito", avalia Choi. "Se conseguirmos, por exemplo, ajudar o usuário a economizar R$ 2 em cada viagem de Uber, será ótimo. Isso será possível ao entender o contexto em que ele gasta dinheiro."
Outra complexidade que o sistema terá de superar será linguística - afinal, hoje a Olivia tem usuários no Vale do Silício e faz seus primeiros testes para atender o mercado brasileiro, onde há uma lista de espera de 13 mil pessoas interessadas na assistente financeira. "Cada língua tem especificidades e complexidades", ressalta Choi. Segundo ele, o interesse em trabalhar em uma fintech veio por conta da "capacidade de auxiliar o comportamento de muitas pessoas ao mesmo tempo, em uma área em que há barreira de entrada tecnológica menor que a de carros autônomos."
Entenda como funciona o sistema da startup
A Olivia é um app que pretende se tornar parte do planejamento financeiro das pessoas. Para isso, pede "licença" para ter acesso aos dados de conta bancária e cartão de crédito do usuário. Assim, consegue entender um padrão de ganhos e gastos.
Na sequência, por meio de um chat (que pode até incluir GIFs e piadinhas), a ferramenta faz perguntas e dá sugestões, informando o usuário sobre sua situação financeira e incentivando-o a economizar pelo menos uma pequena fatia de sua renda - dando dicas sobre as compras do mês, as refeições fora de casa e até em tarifas bancárias.
Nos EUA, a ferramenta já é capaz de fazer pesquisas de preços em supermercados nas regiões próximas ao usuário e propor a ele um novo padrão. "Com base na lista de compras, ela consegue dizer se a pessoa deve ir a outro estabelecimento ou mudar o dia de ir ao mercado para aproveitar melhor as ofertas", explica Oliveira.
Com o tempo, a ideia da empresa é que o usuário consiga economizar cada vez mais dinheiro. Nos EUA, um usuário médio poupa 0,8% da renda familiar por mês, quando começa a usar o serviço. Segundo a empresa, em 60 dias após o início do uso do app, esse percentual salta para 5,7%.
Para faturar, a empresa aposta em parcerias: à medida que a Olivia fechar acordos - que podem ser feitas com redes de varejo de diversos tipos, restaurantes e até mesmo bancos, que poderão ofertar empréstimos e investimentos pelo app -, a ferramenta começa a se dirigir rumo à "monetização". Ou seja: deixará de ser uma solução curiosa para se tornar um negócio rentável. Nos EUA, os primeiros acordos já estão em andamento.
Moraes e Oliveira explicam que a intenção é não fazer a cobrança diretamente do usuário. A estratégia envolve oferecer a ele uma vantagem - como um desconto de 10% para uma determinada rede de fast-food, por exemplo. Nesse momento, a Olivia vai propor ao cliente que divida com ela a vantagem, dando-lhe uma "comissão" de 25%. Se conseguir um desconto de 10% - ou R$ 10 - numa conta de R$ 100, por exemplo, o usuário vai repassar R$ 2,50 para o app.