Ao passo que uma imunização ou um tratamento medicamentoso para a covid-19 não chega, o isolamento social continua sendo uma das recomendações mais eficazes para evitar a disseminação do novo coronavírus (Sars-Cov-2) e o colapso do sistema de saúde. Mas, como determinar quem precisa sair de casa e procurar atendimento médico?
Na expectativa de responder essa pergunta, os médicos Aline Okita e Ariovaldo da Silva Júnior desenvolveram a plataforma CoronaBr, que oferece uma “triagem digital”, realizando perguntas sobre o quadro clínico do paciente e dando pesos para os sintomas declarados. O portal foi lançado no dia 19 de março deste ano e alcançou números expressivos de visitações desde então.
Nas primeiras 24 horas após colocar o portal no ar, a plataforma registrou 1 milhão de acessos. Com mais 12 horas de funcionamento, esse número teve um salto e se multiplicou em quinze vezes. Agora, um pouco mais de quatro meses depois, já são 22 milhões de visitas realizadas por pacientes que procuraram ajuda no portal.
Os primeiros dias após o lançamento foram promissores para a plataforma, que foi concebida e desenvolvida em pouco tempo. “Fizemos o site em apenas quatro dias. Mas, foram quatro dias em que trabalhamos de madrugada”, conta a médica Aline. “Pensávamos muito em como ajudar a diminuir a sobrecarga no sistema de saúde. Era nossa motivação para terminar o portal logo.”
Donos do projeto, Aline é dermatologista e Ariovaldo, neurologista. Ambos são sócios da startup Axxon Health Tech, que desenvolve sistemas de tecnologia para o setor da saúde. Para dar suporte ao conteúdo sobre o novo coronavírus dentro da plataforma, ambos contaram com a assessoria do infectologista Lucas Chaves Netto, que atua no Hospital Sírio Libanês.
A questão fundamental do CoronaBr está em seu trabalho de teleorientação, isto é, utilizar uma plataforma digital para dar direcionamento a pacientes a partir da descrição do quadro de saúde. Sendo assim, ao fim dessa espécie de “triagem virtual” desenvolvida pelo projeto, o intuito não é realizar diagnósticos ou prescrever medicações.
Apesar de o site não oferecer consultas com especialistas, e nem se propor a isso, para o usuário, o fluxo do portal é bem simples e lembra um pouco aqueles primeiros minutos de atendimento médico, em que o profissional de saúde faz uma bateria de perguntas sobre o quadro clínico do paciente, como, por exemplo: “Você teve febre?” ou “Você tomou algum medicamento para seus sintomas?”.
Todas essas perguntas, dentro do processo de teleorientação do CoronaBr, são feitas por um enfermeiro virtual chamado Pedro, e as respostas são realizadas por meio de cliques em botões e caixas de seleção. À medida em que o usuário conta seus sintomas, o sistema do portal usa uma combinação matemática para escolher qual direcionamento dar, podendo ir desde dicas para aliviar sintomas permanecendo em casa até o aconselhamento de buscar o atendimento médico.
A empatia que o enfermeiro virtual causa nos usuários, conta Aline, é um dos principais motivos para o sucesso de engajamento e retenção da plataforma. “Quando tiramos o Pedro do site para fazer um teste, percebemos que o volume de acessos caiu drasticamente.” Com o retorno do personagem, o número de visitas continuou a crescer rápido, o que fez a iniciativa procurar ajuda e parcerias.
“Nós tiramos dinheiro do nosso bolso para colocar o CoronaBr no ar, com a intenção de ajudar, não queríamos nada em troca e continuamos sem querer monetizar o projeto”, afirma Aline. “A partir do momento que o site começou a ter muito acesso, eu achei que ia falir, porque o custo de infraestrutura para deixar o portal funcionando ia chegar a US$ 40 mil.”
Para auxiliar não só com parte dos custos, mas também com o desenvolvimento da plataforma, a empresa americana de computação IBM convidou tanto Aline quanto o seu sócio Ariovaldo para participar do programa “Startup with IBM”. Com isso, os dois tiveram acesso não só aos mentores da corporação de tecnologia, mas também às suas ferramentas de segurança cibernética e análise de dados. Além disso, a parceira também possibilitou que a infraestrutura do CoronaBr fosse construída no serviço de nuvem pública da IBM, podendo suportar até 184 mil acessos por hora.