Um antivírus para a humanidade

Vivemos nossa maior crise desde a Segunda Guerra. Muitos a previram, alertando que não havia como nos defendermos ou lidarmos com uma grande pandemia, caso acontecesse. Aconteceu.

8 abr 2020 - 05h10

SARS-COV-2 é um dos milhares de coronavírus que a ciência estima existir, ínfima parte dos 1,7 milhões de vírus que os modelos matemáticos calculam viver em animais. A destruição sistemática e agressiva do ambiente está causando uma explosão viral sem igual, o que pode levar nosso tempo a ser chamado de "século das pandemias". É quase certo que a covid-19 se originou de animais silvestres de origem ilegal, o que cria um novo senso de urgência para acabar com crimes contra a vida selvagem.

Incrivelmente, não há acordo global que trate tal ataque à natureza e, por conseguinte, à vida humana. Aqui é onde começa a nossa conversa sobre um antivírus para a humanidade. E se inicia longe, na distância e tempo: Çatalhöyük é uma das mais antigas comunidades protourbanas, datada de 7 mil anos antes de Cristo. Bioarqueólogos descobriram que três dos problemas que a levaram ao colapso foram aglomeração excessiva, degradação ambiental e... epidemias. Mais de 9 mil anos depois, ainda estamos na mesma situação - e piorando.

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Çatalhoyuk: civilização antiga que sucumbiu por epidemias
Çatalhoyuk: civilização antiga que sucumbiu por epidemias
Foto: Wikimedia Commons / Estadão

Vivemos nossa maior crise desde a Segunda Guerra. Muitos a previram, alertando que não havia como nos defendermos ou lidarmos com uma grande pandemia, caso acontecesse. Aconteceu.

Este vírus não é o último e quase certamente não é o mais agressivo e duradouro. Até aqui, tratamos epidemias e pandemias num ciclo interminável de pânico, negligência e pânico. Não podemos seguir assim. Para mudar, é preciso repensar tudo que está associado ao risco biológico da e para a humanidade. É preciso achar um equilíbrio entre humanos e o ambiente. Sem isso, o risco biológico só crescerá e seu custo pode se tornar insustentável.

Uma parte não trivial da mudança é que precisamos instalar um antivírus na humanidade. Ele está pronto e é preciso um esforço gigantesco para desenvolvê-lo. Assim como antivírus de computadores, ele nunca ficará pronto e terá de evoluir sempre. Não é só um artefato tecnológico, mas um sistema ambiental, social, econômico, tecnológico... que envolve e lida com tudo o que há no planeta. Inclusive o poder. Não será fácil.

Mas em alguma hora, dados vão mostrar que a falta de um antivírus global que teria custado "só" dezenas de bilhões por ano causou milhares, milhões de mortes, além de um prejuízo de trilhões nas economias globais. E isso no curto prazo.

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Essa crise, que foi "só" um colapso parcial do sistema operacional da humanidade, terá que acelerar, aprofundar e universalizar mudanças já em andamento em alguns países, cidades e organizações. Depois dela, não voltaremos ao normal. Haverá um novo normal, que começa a ser criado agora e terá que ser muito diferente, para diminuir radicalmente o risco de seguirmos Çatalhöyük e entrarmos em colapso, de fato, na próxima grande pandemia.

É PROFESSOR EXTRAORDINÁRIO DA CESAR.SCHOOL, FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL E CHIEF SCIENTIST NA DIGITALSTRATEGY.COMPANY

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