A Inteligência Artificial (IA) é um conceito da tecnologia moderna que pressupõe uma "inteligência" protagonizada por máquinas — aqui, podemos incluir computadores, celulares, tablets, plataformas de internet, sistemas industriais e até pequenos objetos eletrônicos.
Na prática, a Inteligência Artificial é um conjunto complexo de programações que permite à máquina receber o mínimo de informações e instruções de humanos. Assim, a tendência é que ela opere "sozinha" o máximo possível.
Ela vem sendo importante para a tecnologia porque está transformando a sociedade em diversos campos. No uso pessoal, assistentes de voz dos celulares e alto-falantes inteligentes são um tipo já consolidado de Inteligência Artificial. Mas o conceito está cada vez mais espalhado: na geração automática de textos e imagens, nos carros autônomos já lançados e em desenvolvimento, nas redes sociais, na internet das coisas e nos games.
Apesar da excitação mundial, ainda há muita discussão sobre os impactos negativos da IA se aplicada por pessoas, empresas e governos com objetivos escusos.
O que é Inteligência Artificial?
A Inteligência Artificial é um termo amplo para vários outros conceitos da computação que, operando sozinhos ou em conjunto, transmita a noção de que está "pensando" de forma próxima à de uma inteligência humana.
O cérebro humano é capaz de raciocinar, aprender, armazenar dados e interpretá-los de acordo com o contexto e a linguagem usada. Da mesma forma, a IA tenta fazer o mesmo, de acordo com sua programação e propósitos.
Uma IA pode ter alguns ou todos esses atributos:
- Raciocínio e capacidade de resolver problemas;
- Representação do conhecimento;
- Aprendizagem;
- Processamento de linguagem natural;
- Percepção para deduzir o mundo ao redor;
- Inteligência social.
História da Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial surgiu primeiro na imaginação de artistas. Autores como Mary Shelley no clássico livro de terror "Frankenstein" (1818) ou o checho Karel Čapek na peça "R.U.R" (1920) exploravam o conceito de seres artificiais com algum grau de inteligência ou automação. Ou seja, o conceito de IA já na época flertava um pouco com o de robôs.
Alguns dos primeiros cientistas que levantaram a ideia para o mundo real foram Alan Turing, matemático britânico considerado por muitos o pai da computação; e o colega de área estadunidense Alonzo Church.
A tese de Church–Turing sugeria que uma máquina, ao lidar com versões elétricas dos símbolos "0" e "1" poderia simular qualquer processo de raciocínio formal. Tais símbolos seriam os bits que usamos em computadores hoje, que significam um impulso elétrico e a ausência dele, respectivamente. Em resumo, toda função efetivamente calculável é uma função computável; logo, passível de ser realizado por máquinas.
Mas Turing foi além nesse pensamento em 1950, quando publicou seu clássico ensaio "Computing Machinery and Intelligence" (Computing Machinery and Intelligence), considerado por muitos o marco zero da inteligência artificial.
O texto do matemático sugere um "Jogo da Imitação". Na teoria, seria assim:
- Envolve três jogadores. O jogador A é um homem, o B é uma mulher e o C, que desempenha o papel de interrogador) pode ser de ambos os sexos;
- O jogador C é incapaz de ver A ou B e pode se comunicar com eles apenas por meio de mensagens escritas ou qualquer outra forma que não forneça detalhes sobre seu gênero;
- O jogador C faz perguntas para A e B, para saber qual dos dois é o homem e qual é a mulher. O papel de A é enganar o interrogador para que tome a decisão errada, e o de B, ajudá-lo a tomar a decisão certa.
Ok, mas o que isso tem a ver com inteligência artificial? No mesmo artigo, Turing propõe que este jogo seja jogado por uma máquina hipotética. Assim, os três participantes seriam um computador em teste, um humano e um juiz também humano, que por sua vez tem que conversar com os dois digitando a mensagem em um terminal.
Desta vez, tanto o computador quanto o humano tentam convencer o juiz de que eles são o humano. Se ele não conseguir descobrir quem é quem, então o computador ganhou o jogo. Nascia aí a fagulha para que cientistas das gerações seguintes corressem atrás deste aparelho e fossem submetidos ao "teste de Turing", como ficou conhecida essa habilidade de simular o comportamento de um humano com perfeição.
Este modelo, segundo Turing, trazia até mesmo questões filosóficas sobre o que é uma máquina pensante. Dizia ele no texto: "Proponho-me a considerar a questão 'As máquinas podem pensar?" em vez disso, ele substitui a pergunta por uma nova: "As máquinas podem fazer o que nós (como entidades pensantes) podemos fazer?" Ele argumentava que a nova pergunta traçava "uma linha bastante nítida entre as capacidades físicas e intelectuais de um homem".
Poucos anos depois, em 1956, os cientistas da computação John McCarthy e Nathaniel Rochester, além do cientista cognitivo Marvin Minksy e o matemático Claude Shannon, propuseram à faculdade de Darmouth (EUA) um projeto pioneiro.
Veja o que diziam: "Propomos que um estudo de dois meses, composto por dez homens, sobre Inteligência Artificial seja desenvolvido durante o verão de 1956 na Faculdade de Dartmouth, em Hannover, Nova Hampshire." Foi aí que o termo provavelmente foi cunhado.
Aliás, McCarthy concordava com Turing e não achava correto dizer que as IAs poderiam "pensar" como humanos, e sim "agir" como eles. "A inteligência artificial não é, por definição, simulação da inteligência humana", definiu.
Pouco tempo depois, duas linguagens de programação foram criadas para trabalhar especificamente com isso: a LISP, criada por McCarthy; e a Prolog, da autoria dos cientistas da computação Alain Colmerauer e Phillippe Roussel.
Outro avanço da época foi o Perceptron, um tipo de rede neural artificial testado em 1958 pelo psicólogo Frank Rosenblatt. O teste foi realizado no Laboratório Aeronáutico de Cornell e, para alguns, marca o início do "aprendizado profundo" (deep learning, em inglês), uma das subdivisões da Inteligência Artificial.
Outros trabalhos do tipo e que são considerados como as primeiras IAs foram Eliza, lancada em 1966 como o primeiro chatbot a imitar a linguagem natural dos humanos; e o Deep Blue da IBM, o primeiro computador que derrotou uma pessoa de carne e osso, o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov.
Ah, e claro qua a ficção científica continuou fascinada por isso nesse meio tempo. Nas décadas seguintes, a Maria do filme "Metropolis", os droids C-3PO e R2-D2 da saga "Star Wars" e os replicantes de "Blade Runner" são bons exemplos de inteligências artificiais tão perfeitas que agem como humanos.
Como a Inteligência Artificial funciona?
A Inteligência Artificial é aplicada em diferentes áreas hoje, como saúde, trânsito, educação, comunicações, artes e muitas outras. Normalmente ela é programada com muitos algoritmos que conseguem realizar tarefas em série, em função dos dados que recebe e envia para humanos.
Algumas das principais técnicas das IAs atuais são:
Aprendizado de máquina: ocorre quando uma máquina precisa de informações constantes para aprender com isso, na base da tentativa e erro. Na prática, pode ficar tão "inteligente" que pode superar os humanos nas mesmas tarefas a longo prazo.
Aprendizado profundo: é um aprimoramento do meio anterior. Ocorre quando uma máquina aprende as tarefas desejadas sem muita intervenção humana, por meio de suas próprias experiências.
Processamento de linguagem natural: permite que as máquinas leiam e compreendam a linguagem humana, como uma criança que gradativamente aprende todas as nuances da nossa comunicação.
Visão computacional: capacidade de analisar a entrada de dados visuais, como fotos e diagramas, de preferência em grandes volumes.
Aplicações da Inteligência Artificial
As IAs modernas têm aprendido e executado tarefas complexas, como por exemplo ouvir nossa voz, interepretar o que queremos e nos trazer uma informação ou conteúdo.
Ou vasculhar um enorme banco de dados de raios-X para saber sinais de que o exame do paciente em questão demonstre que ele tem ou terá alguma doença. Ou treinar carros para que eles se dirijam sozinhos.
Há ainda as plataforma de geração de textos e imagens, que foram alimentados com um gigantesco banco de dados de conteúdos humanos para que possam criar sozinhas com base nesses modelos.
Inteligências Artificiais mais conhecidas
Já falamos aqui das assistentes de voz, que conseguem "conversar" conosco trazendo dúvidas de conhecimentos gerais, previsão de trânsito e tempo, tocar músicas específicas e outras atribuições. É o que ocorre com os assistentes de voz como Google Assistente, Alexa ou Siri.
Também citamos os carros autônomos, que em tese podem dirigir sozinhos ou com o mínimo de intervenção humana. Um exemplo disso são os da Waymo, subsidiária da Alphabet, dona do Google. Empresas como Uber e Didi também já testam seus próprios auotmóveis.
No ambiente corporativo, uma das mais Inteligências Artificiais usadas é a Watson, da IBM. A plataforma lançada em 2011 como um teste contra um especialista humano no game show Jeopardy é especializada em linguagem natural e tem sido usada em uma série de finalidades, como atendimento a clientes, análise de imagens, soluções de saúde e muitas outras.
Mas poucas IAs se tornaram tão festejadas nos últimos tempos quanto o ChatGPT. É uma plataforma de geração de texto capaz de muita coisa: escrever códigos de programação, ensaios complexos, decorar sua casa e até apresentar ideias inovadoras de marketing. Ele também consegue resolver questões de matemática e criar poemas. Há ainda IAs que fazem o mesmo com imagens, como Midjourney e Stable Diffusion.
Pontos positivos do uso da Inteligência Artificial
Deu para notar, a essa altura do texto, que IAs poderão nos levar a caminhos interessantes no futuro ou já no presente. O reconhecimento facial, que por trás tem algoritmos, já está nos ajudando a desbloquear celulares mais rápido ou agilizar a vistoria de imigração em aeroportos. Na saúde, podem detectar doenças e encontrar novos remédios.
No marketing, uma IA de texto ajuda o redator a ter novas ideias e evitar palavras repetidas, por exemplo. Também traz traduções mais precisas e ajudam bancos e lojas a prevenirem golpes.
Pontos negativos da Inteligência Artificial (IA)
Para se ter uma ideia, o ChatGPT conseguiu ser "aprovado" na prova da primeira fase da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o que mais uma vez provocou temores sobre as capacidades das IAs de superarem os humanos e provocarem desemprego em massa.
No mundo jurídico, por exemplo, a inteligência artificial consegue criar petições, redigir contratos e minutas, levando advogados e estudantes a se questionarem sobre como será o futuro do direito.
Outra polêmica constante é o debate sobre a atribuição da palavra “arte” àquilo que é feito por IAs de imagem.
A obra “Théâtre d'Opéra Spatial” (“Teatro de Ópera Espacial”) foi eleita em 2022 a primeira colocada no concurso artístico da Feira Estadual do Colorado (EUA), na categoria “artistas digitais emergentes”. Quem fez a inscrição na competição foi Jason M. Allen, mas o autor da obra não era humano, e sim a IA Midjourney.
Ele é um sistema que cria imagens a partir de frases. O algoritmo é treinado com um banco de dados de milhões de obras feitas por artistas reais, que acusam as IAs tanto de plágio quanto de competição injusta.
Essa discussão já é antiga e se trata, basicamente, do conceito de arte: o que ela é, afinal? Ela depende necessariamente da habilidade e da sensibilidade humanas? E humanos também não se inspiram em outras obras, como estão fazendo as máquinas?
No estagio atual, a IA também pode errar. A própria OpenAI, criadora do ChatGPT, diz que ele pode dar respostas incorretas, pois todo o seu conhecimento vem da internet como um todo. E, ao contrário do Google, ele não informa suas fontes.
Pessoas também podem usar IAs para o mal. A solução de inteligência artificial Beta, da ElevenLabs, permite a criação de áudios personalizados a partir de amostras de voz de uma pessoa. Mas com isso, o uso da tecnologia foi desde vozes clonadas com comentários impróprios, com tons machistas ou homofóbicos, até tentativas de enganar pessoas se passando por celebridades.
Por fim, outra polêmica é o quanto devemos confiar às IAs decisões importantes de nossas vidas. A IA é programada para evoluir e aprender a partir das interações reais. Então se for alimentada com informações enviesdas, a ferramenta invariavelmente será “contaminada” e tomará decisões ruins, como acusar pessoas negras de crimes.