O diretor-geral da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), Keith Alexander, disse nesta quarta-feira que os programas de vigilância que foram revelados recentemente, todos baseados em registros de ligações e dados de usuários de internet, já evitaram "dúzias e dúzias" de potenciais ataques terroristas.
Em uma audiência do Comitê de Apropriações do Senado, Alexander afirmou que as equipes de inteligência dos EUA "estão fazendo exatamente o correto" para proteger os cidadãos de possíveis ameaças à sua segurança.
Questionado pelo senador democrata Patrick Leahy, Alexander assegurou que sua agência está "tentando ser transparente, proteger as liberdades civis e a privacidade, mas também a segurança do país".
Diante dos legisladores e em uma audiência dedicada a ciberespionagem, o diretor-geral da NSA tentou atenuar as críticas que vieram à tona nesse último escândalo, iniciado depois que Edward Snowden, um ex-técnico da CIA (agência de inteligência americana), revelou à imprensa detalhes secretos do programa de vigilância dos EUA.
O senador democrata Dick Durbin perguntou diretamente a Alexander sobre Snowden e questionou o fato de que alguém como ele, com baixo nível de educação, pudesse ter acesso a documentos classificados e tão relevantes para o país.
O diretor da NSA explicou que pessoas como Snowden possuem habilidades extraordinárias como técnicos das agências federais, mas confessou que também tem perguntas a respeito e que a conduta de seu ex-funcionário, de 29 anos, será investigada.
O engenheiro informático trabalhou durante quatro anos para a NSA como funcionário de várias companhias adjudicatárias de contratos de Defesa, sendo que a última delas foi a Booz Allen Hamilton, na qual teve acesso às informações secretas.
O ex-funcionário da NSA esteve uma década relacionado com a inteligência americana, primeiro como técnico informático da CIA, em Genebra, e depois como consultor em várias empresas externas de Defesa que colaboram com a NSA, como ele mesmo revelou ao jornal britânico "The Guardian".
Com relação à recopilação de dados, Alexander insistiu que os programas de vigilância divulgados por Snowden não são voltados para a observação de identidades, mas sim para localizar conexões entre dados mais amplos com o objetivo de tentar detectar hipotéticos complôs terroristas.
Na última semana, Snowden revelou aos jornais "The Guardian" e "The Washington Post" que a NSA e o FBI têm acesso a milhões de registros telefônicos amparados no Ato Patriota, aprovado após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Posteriormente, os jornais revelaram um programa secreto conhecido como PRISM, que permite a NSA ingressar diretamente nos servidores de nove das maiores empresas de internet nos EUA, incluindo Google, Facebook, Microsoft e Apple, para espionar contatos de suspeitos de terrorismo no exterior.
Após saber do escândalo em torno do programa citado, a comissária de Justiça da Comissão Europeia - órgão executivo da União Europeia (UE) -, Viviane Reding, pediu hoje às autoridades dos EUA "respostas concretas" sobre a proteção de dados dos cidadãos europeus.
No entanto, horas mais tarde, o jornal "Financial Times" informou que Washington conseguiu persuadir a UE no último ano para que a mesma desprezasse uma lei "anti Fisa", a Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira dos EUA, que ampara os registros secretos de dados digitais.
Se esse projeto "anti Fisa" tivesse sido proibido, os Estados Unidos não poderiam ter acesso à informação privada dos usuários europeus.
Também hoje o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, defenderam os programas de espionagem cibernética.
Kerry indicou em entrevista coletiva com seu colega britânico em Washington que os programas de vigilância eletrônica da NSA foram "aprovados pelo Congresso e votados várias vezes" e estão submetidos às salvaguardas dos três poderes do Estado.
"Acho que conseguimos um notável equilíbrio com os valores de nossa nação, com o respeito à privacidade, à liberdade e à Constituição... com o tempo, o povo entenderá", assegurou Kerry.
Já Hague defendeu a cooperação bilateral do Reino Unido e dos EUA nestes dois programas de espionagem e garantiu que essa colaboração seguirá "no marco da lei" e na luta contra o terrorismo.
Por sua parte, Snowden, que segue em paradeiro desconhecido desde a última segunda-feira, quando deixou o hotel em que estava hospedado em Hong Kong, concedeu outra entrevista exclusiva, mas, desta vez, ao jornal "South China Morning Post".
Nesta entrevista, o ex-técnico da CIA assegurou que os EUA espionam a China há anos e também assegurou que fontes de sua confiança relataram que Washington "está intimidando as autoridades de Hong Kong" para autorizar sua extradição, embora ainda não haja informações confirmadas sobre tal pedido.
O jovem, que na entrevista afirmou não ter se "atrevido" a ligar para seus familiares, poderia optar por recorrer à extradição (se a mesma for confirmada) ou pedir um status de refugiado no escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) em Hong Kong.