Janeiro de 1994: dois jovens trabalham num projeto para a internet. Sua concepção é uma espécie de guia de viagens para a rede - pois os websites são tantos que ninguém mais consegue ter uma visão do todo. O resultado é hoje bem conhecido: o Yahoo!, ferramenta de busca que teve o auge de seu sucesso na década de 1990.
A ideia dos doutorandos Jerry Yang e David Filo era tornar a internet mais transparente. Até então, o que existia eram tentativas de compilar todos os sites existentes em um índice - uma espécie de páginas amarelas. No entanto, o que os dois jovens queriam era um mecanismo que não só mostrasse os sites à disposição, mas também ordenasse os resultados da busca.
Vinte anos mais tarde, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, enfrenta um problema semelhante. Sua rede social comporta um enorme número de páginas: são 1 bilhão de perfis de usuários, 240 bilhões de fotos, 1 trilhão de conexões.
No entanto, ainda é praticamente nula a possibilidade de triar todas essas informações de um modo funcional. Por exemplo, a partir de perguntas como "quem, dos meus amigos que moram em Porto Alegre, gosta de filmes de terror?". Mas a situação está prestes a mudar.
Cruzamento de dados
Numa apresentação em Menlo Park, sede do Facebook, Zuckerberg apresentou a chamada Graph Search, desenvolvida em parceria com a ferramenta de busca Bing, da Microsoft, empresa com a qual já colabora desde 2010. A nova ferramenta de busca possibilitará não só pesquisar uma palavra-chave, como também cruzar termos de busca, por exemplo pessoas e seu status de relacionamento ("outros solteiros em minha cidade"); interesses e lugares; lugares e amigos ("quais dos meus amigos conhecem um restaurante em Londres?"); ou imagens e datas ("fotos do ano 2009").
Essa possibilidade é um grande diferencial em relação ao Google ou o Yahoo!. "Outras ferramentas de busca não são capazes de responder a tais perguntas", resume Jo Barger, redator da revista alemã de informática c't. Ferramentas de busca de pessoas, como a alemã Yasni, também não podem ser comparadas à Graph Search, afirma Barger. "Elas não fazem muito mais do que uma busca ao pé da letra a partir do nome", continua, Nem mesmo a função de "busca social" de que dispõem os usuários da rede Google+ oferece as possibilidades prometidas pelo Facebook.
A rede social de Zuckerberg é capaz de encontrar mais informações através da nova função de busca porque parte de seus usuários revela muito sobre si. Porém, a Graph Search só fornecerá os dados que o usuário permitir. "O Facebook faz questão de enfatizar que as buscas da Graph Search sempre levarão em consideração o grau de privacidade definido pelo dono dos dados", lembra Barger.
Matéria para debates
Especialistas em proteção do consumidor e de dados pessoais veem na nova ferramenta uma possibilidade de explorar os limites das configurações de privacidade. "Justamente num país sensível à proteção de dados, como a Alemanha, essa nova visibilidade ainda vai suscitar alguns debates", escreveu o jornalista Pascal Paukner no jornal Süddeutsche Zeitung.
Por sua vez, o encarregado de proteção de dados do estado de Schleswig-Holstein, Thilo Weichert, não hesitou em advertir contra a superbusca do Facebook. "A função de busca que conhecemos da internet penetrará agora no círculo de amigos, o que significa que informações altamente sensíveis também poderão chegar a terceiros", afirmou.
Carola Elbrecht, da Confederação das Centrais de Consumidores da Alemanha (VZBV, na sigla em alemão), também enfatiza a importância de que os usuários sempre saibam o que ocorre com seus dados. "O Facebook nem sempre se comportou de forma exemplar ao introduzir novos serviços", lembra Elbrecht.
Um portal de mídia online avaliou entusiasticamente a Graph Search como potencial fonte de pesquisa para os jornalistas. A nova função será disponibilizada pouco a pouco nos perfis da rede social ao longo das próximas semanas e meses.