Irã diz que reconhecimento facial identificará mulheres sem véu

Algoritmos agora podem identificar manifestantes que protestam contra lei de vestimenta no país

10 jan 2023 - 16h42
Protestos em massa varrem o Irã após morte de jovem por violar rígidas regras do uso do véu islâmico, o hijab
Protestos em massa varrem o Irã após morte de jovem por violar rígidas regras do uso do véu islâmico, o hijab
Foto: Twitter / BBC News Brasil

Autoridades do Irã deverão usar reconhecimento facial para identificar mulheres que circulam sem hijab, véu obrigatório no país desde 1979. Especialistas acreditam, no entanto, que a tecnologia já está em uso, identificando protestantes. Tudo começou quando uma jovem foi trabalhar no Sarzamineh Shadi, ou Terra da Felicidade, um parque de diversões coberto a leste da capital Teerã, sem a vestimenta. 

Depois que uma foto dela sem hijab circulou nas redes sociais no ano passado, o parque de diversões foi fechado, de acordo com relatos na mídia iraniana. 

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No ano passado, autoridades iranianas sugeriram que o reconhecimento facial deveria ser usado para policiar a lei do hijab. Isso foi defendido pelo chefe da agência do governo iraniano que aplica a lei moral em uma entrevista em setembro de 2022. Amr Be Marouf disse que a tecnologia seria usada “para identificar movimentos inapropriados e incomuns”, incluindo “falha em observar as leis do hijab”. 

"Agora, mulheres podem ser identificadas verificando os rostos em um banco de dados de identidade nacional para aplicar multas e fazer prisões", disse ele. No entanto, nada havia sido confirmado.

A disputa sobre o hijab desencadeou protestos em todo o país
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Série de protestos

Desde a morte de uma mulher curda de 22 anos chamada Jina Mahsa Amini, detida pela polícia de moralidade do Irã por não usar um hijab apertado o suficiente, protestos históricos que buscam liberdade para mulheres tomaram conta do país. 

Até o momento, segundo o site Wired, 19 mil prisões e mais de 500 mortes foram contabilizadas. Ativistas que monitoram o protesto contínuo notaram que algumas pessoas envolvidas nas manifestações são confrontadas pela polícia dias após um suposto incidente – incluindo mulheres citadas por não usarem hijab. 

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Mahsa Alimardani, que pesquisa a liberdade de expressão no Irã na Universidade de Oxford, relatou recentemente que mulheres no Irã recebem citações pelo correio por violações da lei do hijab, apesar de não terem tido uma interação com um policial. 

Diversas mulheres afirmam que enfrentam discriminação na escola devido ao hijab
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O governo do Irã passou anos construindo um aparato de vigilância digital, disse Alimardani. Agora, ela e outros pesquisadores acreditam que a tecnologia já está em uso. Se esse for o caso, será a primeira vez de um governo usando a tecnologia para fazer cumprir a lei de vestimenta relacionada ao gênero.

O país já tem, no entanto, acesso ao recurso de reconhecimento facial em algumas vertentes do governo. As autoridades de trânsito iranianas começaram a usá-lo em 2020 para emitir multas e enviar advertências por SMS às mulheres sobre o uso de hijab quando dentro de um veículo.

Contudo, com a série de protestos em curso, tanto físicos quantos digitais, ativistas acreditam que a vigilância digital reforçará o que chamam de "revolução", com jovens e mulheres assumindo a liderança.

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Fonte: Redação Byte
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