Um exercício de simulação da Nasa que buscou medir o quão bem-preparados estaríamos com a eventual chegada de um asteroide ao planeta Terra acabou com uma cidade fictícia dizimada e com a previsão de milhares de mortes.
O teste, realizado pelo Gabinete de Coordenação de Defesa Planetária da Nasa, reuniu mais de 200 teóricos, cientistas e funcionários do governo de forma virtual e presencial na Universidade John Hopkins, em Washington, entre os dias 23 e 24 de fevereiro, e teve em seu relatório final a clara mensagem de que falharíamos em evitar uma tragédia frente uma ameaça espacial.
Durante dias, os participantes tiveram que representar diferentes órgãos e colaborar entre si para resolver a problemática proposta pelo organizador do exercício: a chegada de um asteroide de 70 metros de diâmetro à Terra.
Os participantes receberam um curso relâmpago de ciência de asteroides e, depois disso, tinham que debater qual seria o melhor plano de ação para impedir a chegada da rocha ou, ao menos, diminuir seus impactos.
A simulação teve como resultado o asteroide entrando na atmosfera terrestre e explodindo 13 quilômetros acima da cidade de Winston-Salem, na Carolina do Norte, com a energia de 10 megatoneladas de TNT, o que destruiria toda a cidade e a área a seu redor.
A “boa” notícia, ao menos, é que os participantes não foram necessariamente incompetentes: o teste foi feito para ser o mais difícil o possível, praticamente sem chances de vitória.
“Nós o projetamos justamente para articular as lacunas nas nossas capacidades”, afirma Emma Rainey, cientista que ajudou a criar o treinamento.
Segundo ele, os participantes não puderam fazer nada para evitar o impacto.
Treinamento contra possíveis
O principal objetivo do treinamento era analisar como agências americanas e internacionais seriam capazes de cooperar entre si em uma situação de emergência como a chegada de uma rocha espacial. A má notícia é que o exercício mostrou que os EUA não possuem capacidade de frear asteroides pequenos e velozes, tendo ainda pouca capacidade de sequer identificá-los.
O treinamento também mostrou que a desinformação, constante durante toda a linha do tempo do teste, atrapalhou (e muito) a atuação das equipes responsáveis.
“Quando propomos evacuação, ficamos sabendo que 20% da pessoas não sairiam da área por causa de notícias falsas ou por acreditare que o governo estava mentindo”, afirma August Vernon, diretor de gerenciamento de emergências dos condados de Winston-Salem/Forsyth.
“Então eu fico em dúvida, me perguntando se podemos esvaziar hospitais e prisões, quando temos todas essas pessoas que podem sair da área facilmente, mas se recusam.”
Ao final da simulação, participantes e organizadores concordaram que o que mais faltou para eles foi tempo. Para se ter uma noção, um plano levantado pelos participantes foi o desvio do asteroide.
Mas, para isso ser possível, seriam necessárias ao menos 12 naves de impacto como a que foi utilizada na DART, recente missão da Nasa que mudou o curso do asteroide Dimorphos – plano que levou mais de cinco anos para sair do papel e atingir seu alvo.
“O asteroide destruiu Winton-Salem por causa da curta janela de tempo entre sua descoberta e o impacto. Aumentar essa janela é crucial”, diz Vernon.
Há sinais promissores de que, com tempo o suficiente, a humanidade poderia criar uma resposta efetiva. A missão DART, por exemplo, já mostrou que, quanto antes começarmos a agir, melhores podem ser as chances de não acabarmos no cenário previsto pelo modelo de treinamento.