A JusBrasil, conhecida por dar acesso a processos judiciais, está implementando inteligência artificial em uma nova ferramenta para o setor jurídico. A empresa criou o chamado Jus IA, que, aos moldes do ChatGPT, pode agilizar o trabalho de um advogado.
No caso de um processo de um cliente contra uma construtora que não entregou a obra conforme o contrato, por exemplo, o advogado precisaria estudar não só esse caso, mas todos os similares para escrever a documentação do processo.
A nova IA da empresa poderá se aprofundar em processos similares, agilizando o tempo de elaboração do texto e permitindo que o advogado se apoie em casos anteriores que foram bem-sucedidos na Justiça.
Nessa área, a JusBrasil irá competir com ferramentas de IA para advogados oferecidas por empresas como Totvs e Jusfy. O produto da JusBrasil foi criada utilizando o GPT-4, da OpenAI, e também recursos da Llama, da Meta, e do Gemini, do Google.
Mas a principal tecnologia por trás do Jus IA é da empresa chamada Maritaca IA, especializada em LLMs (Large Language Model, ou Modelo de Linguagem de Grande Escala) em português.
De acordo com a líder de produto do Jus IA, Gabriela Migliorini, a ferramenta também poderá criar documentos estruturados e contextualizados para o que o advogado irá escrever. "A Jus IA também permitirá qualificar as partes de forma automatizada", afirma.
A executiva diz ainda que a ferramenta será capaz de analisar referências para evitar erros em processos.
O cofundador e CEO do JusBrasil, Rafael Costa, afirma que a IA pode ser uma ferramenta para que o direito seja uma área mais coerente, com menos assimetrias.
"O direito real é fragmentado, complexo e muitas vezes incoerente. Na prática, sabemos que nenhum profissional consegue dominar todas as referências jurídicas disponíveis. A legislação, jurisprudência e doutrina, vistas frequentemente como fontes claras e coesas, são na verdade campos abertos, discutidos e sujeitos a interpretações variadas, mesmo sobre temas já extensivamente decididos pelos tribunais", afirma Costa.
A Jus IA é uma ferramenta paga e a mensalidade custará a partir de R$ 130.
Segundo a empresa, a maior preocupação no desenvolvimento do produto foi com a precisão de informações.
Embora a empresa afirme que o grau de confiança é mais elevado do que o das demais ferramentas disponíveis no mercado, a Jus IA não é capaz de substituir um advogado. Ela é, na verdade, uma aliada desse profissional, que precisa ter todo o trabalho revisado ou editado para atingir os melhores resultados.
Para treinar a Jus IA, a companhia utilizou o seu acervo de informações jurídicas, composto por mais de 1,2 bilhão de documentos.
Diogo Cortiz, da PUC-SP e também pesquisador do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (NIC.br), diz que as IAs gerais ainda têm grande dificuldade de oferecer informações precisas, mas IAs específicas, como a Jus IA, que é treinada com documentação específica, pode ter melhores resultados.
"A partir do momento que a gente começa a especializar a inteligência artificial, a tendência é ela ficar mais precisa, porque ela vai ter mais dados, mais contextos de uma realidade ou de um uso específico", diz.
O especialista lembra que a IA não é um substituto do advogado, que ainda precisa estar envolvido no processo.
"A gente precisa do human in the loop (humano no processo) nesse processo para garantir que a inteligência artificial funcione", afirma Cortiz.
Empresa de tecnologia
Embora a JusBrasil seja uma empresa que atua no meio digital desde a sua fundação, agora ela entra em uma nova etapa ao apostar na inteligência artificial como produto.
O País ainda não tem um unicórnio do segmento jurídico. Costa, CEO da empresa, afirma estar em negociação com investidores para receber investimentos que podem levar a avaliação do negócio a mais de US$ 1 bilhão, colocando-a no patamar de empresas como QI Tech e Pismo, algumas das últimas a chegar a esse status.
"Se for pra falar disso, o que eu gosto mais é da perspectiva de ser o unicórnio da Bahia. Seríamos o primeiro e isso dá um valor especial ao Estado", diz Costa ao Estadão. O foco de atuação da empresa é no mercado brasileiro, mas uma internacionalização para países da América Latina também está em avaliação.