Representantes da Microsoft se mostraram discretamente satisfeitos na quarta-feira enquanto autoridades de defesa da concorrência na Europa preparavam acusações contra a rival Google por abuso de poder de mercado.
A gigante do software, uma das principais partes que se queixam contra o Google na UE, defende há anos uma atenção regulatória mais acirrada sobre a rival.
Funcionários antigos da Microsoft, ainda com cicatrizes das batalhas da própria empresa com reguladores dos Estados Unidos e da Europa nas últimas duas décadas, não expressaram simpatia ao Google que passa por um processo similar.
"Eles têm que passar pelo que têm que passar", disse um diretor da Microsoft que esteve envolvido de perto com a área de relações públicas da companhia na época do julgamento antitruste do Departamento de Justiça dos EUA contra a Microsoft, que começou no fim de 1998 e se arrastou até o começo de 2000.
O juiz desse julgamento decidiu que a Microsoft abusou de seu poder no mercado de sistemas operacionais ao forçar fabricantes de PCs a instalarem seu navegador, o Internet Explorer, junto a seu sistema operacional. No entanto, a solução proposta por ele de dividir a Microsoft em duas partes foi mais tarde revogada e as partes entraram num acordo em 2001.
Para adicionar um pouco de ironia, um dos principais incentivadores para que o Departamento de Justiça dos EUA processasse a Microsoft por abuso de monopólio do Windows nos anos de 1990 era o então presidente-executivo da Novell, Eric Schmidt, que, atualmente, é presidente do conselho de administração do Google.
"O que vai, volta, não é?" disse um ex-executivo sênior da Microsoft, que lembra dos efeitos da prolongada batalha com o Departamento de Justiça norte-americano.
A posição oficial da Microsoft sobre a ação proposta da UE diz que a investigação da Comissão Europeia contra a empresa é bem-vinda.
A Microsoft tem afirmado que a o Google torna difícil para seu site de buscas Bing acessar dados do YouTube e que a empresa se recusa a compartilhar dados de publicidade com o Bing, entre outras práticas anticompetitivas.
Na quarta-feira, vários funcionários disseram que o dia era como qualquer outro na sede da companhia, em Redmond, Washington, e não um dia para comemoração.
Isso pode ser um reflexo do fato que muitos dos funcionários mais jovens da Microsoft não se lembram dos problemas da empresa com autoridades de defesa da concorrência há 15 anos e também que a cultura da companhia mudou no ano passado.
O ex presidente-executivo da Microsoft Steve Ballmer era conhecido por sua postura claramente contrária ao Google, enquanto seu sucessor Satya Nadella, que assumiu há 14 meses, tem feito de relações mais amenas com rivais do Vale do Silício um foco importante de sua gestão.
"As pessoas aqui são focadas em um mercado mais justo", disse outro funcionário da Microsoft. "As pessoas não estão comemorando. Elas estão observando com interesse."