Para quem gosta de ficção científica, a criação de ambientes semelhantes aos da Terra em outros planetas não é novidade. Mas o pesquisador Paul Smith, professor do departamento de engenharia civil da Universidade de Bristol, elaborou uma proposta detalhada para tirar isso das histórias e criar uma verdadeira reserva natural em Marte.
A ideia dele é criarmos uma “bolha florestal” de mais de 20 hectares (ou 200 mil m²), de forma semelhante a um ecossistema da Terra. Além de servir como reserva natural, poderia ser um refúgio para os humanos \que se veem ameaçados em relação ao fornecimento de alimentos e matérias-primas na sua região.
A proposta de Smith foi publicada mês passado no International Journal of Astrobiology. No texto, o professor abordou conceitos básicos e desafios. A atmosfera, temperatura, radiação, clima, gravidade e luz disponíveis em Marte são muito diferentes do que vemos na Terra, mas ele sugere uma lista do que há de vida na Terra a ser adaptada para o planeta vermelho.
Micróbios do solo, fungos e invertebrados como minhocas e aranhas são alguns dos seres vivos sugeridos para participar do ecossistema marciano. Outros vertebrados não humanos, como pássaros, peixes e guaxinins, não estão na lista principalmente por questões éticas: forçá-los a um novo habitat pode fazer com que eles não prossigam com seus comportamentos naturais.
Mas Smith não pretende criar um clone das florestas na Terra. “A replicação das florestas da Terra é atualmente inviável, mas o desenvolvimento de novos ecossistemas, funcionando de maneiras inesperadas, é concebível”, diz ele.
Se poucos visitam, quantos poderiam morar em Marte?
Entretanto, o pesquisador lembra que aspectos econômicos não foram considerados em sua pesquisa. Hoje em dia, mandar pessoas ao espaço já é bem caro — tanto que apenas bilionários conseguiram realizar essa tarefa pagando do próprio bolso. Portanto, construir uma vida em outro planeta pode ser muitas vezes ainda mais caro.
Porém, questões como a alta população do mundo — que chegou recentemente à marca dos 8 bilhões de habitantes e pode ameaçar a disponibilidade de recursos e matérias-primas disponíveis — e a crise climática fazem com que Marte esteja sendo visto como uma opção viável de vida futura.
“A tarefa dos designers é assustadora, mas, se a sobrevivência da vida na Terra deve ser assegurada, os desafios devem ser superados”, lembra Smith.