A era da tecnologia e das redes sociais trouxe consigo um novo fenômeno que está gerando polêmica no setor de transporte por aplicativos: motoristas que realizam transmissões ao vivo de suas corridas sem o conhecimento ou consentimento dos passageiros.
Uma reportagem do UOL revou que essa prática de condutores da Uber, 99 e InDrive tem ganhado popularidade nas plataformas digitais e levanta questões de privacidade, segurança e ética, principalmente envolvendo os direitos e proteção dos usuários.
As lives chegam a durar horas e têm milhares de visualizações. Alguns dos motoristas ultrapassam 50 mil seguidores no YouTube.
Como funciona
A prática dos motoristas de aplicativos como Uber e 99 em realizar transmissões ao vivo de suas corridas no TikTok e YouTube tem sido motivada, em grande parte, pela possibilidade de obter ganhos financeiros ao cumprir desafios propostos por usuários.
Funciona assim: os motoristas, em busca de engajamento, começam a transmitir a live da corrida e aceitam desafios enviados por espectadores, que solicitam ações inusitadas ou engraçadas durante o trajeto.
Caso os motoristas cumpram os desafios, que podem ser cantar uma música ou falar algo para o passageiro, os espectadores fazem um Pix de bonificação. Um streamer disse lucrar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por mês.
Embora possam parecer divertidas para alguns, essas interações suscitam questionamentos éticos e legais sobre o consentimento dos passageiros e os limites da privacidade em um ambiente digital.
Contra a lei
O problema dessa prática é que ela infringe a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor no Brasil desde setembro de 2020.
A norma estabelece diretrizes para o tratamento de dados pessoais, incluindo informações capturadas durante corridas de motoristas de aplicativos, como localização, imagem e voz dos passageiros.
A LGPD exige que o tratamento desses dados seja feito com consentimento explícito dos passageiros, informando-os sobre a finalidade e duração do uso.
Transmissões ao vivo sem o devido consentimento podem configurar violações à lei, sujeitando os motoristas e as empresas de aplicativos a sanções legais e administrativas.
E as empresas?
À reportagem, a Uber disse que "os motoristas parceiros têm permissão para instalar câmeras ou utilizar dispositivos de gravação de imagens para fins de segurança", no entanto, ressaltou que existe "proibição expressa de gravar viagens a fim de publicá-las nas redes sociais ou em qualquer outro fórum público".
Ao UOL, a empresa afirmou ainda que as publicações das viagens nas redes sociais são uma violação do código de conduta e podem levar à desativação dos envolvidos.
A 99 também se manifestou e informou que "os motoristas parceiros são profissionais autônomos e têm liberdade de realizar atividades em seu veículo desde que sejam legalizadas, cumpram a legislação de trânsito e de privacidade".
O TikTok e o YouTube não responderam aos pedidos de comentários sobre a monetização dos motoristas. O Byte entrou em contato com todas as empresas a fim de acrescentar informações, se necessário, e até o momento desta publicação, não obteve retorno.