Mulher cola rosto com emu doente; gesto pode criar nova doença

Apesar de a maioria das cepas do vírus da influenza não ter caráter zoonótico, mutações podem ser entrada para novas pandemias

18 out 2022 - 12h05
(atualizado em 19/10/2022 às 20h02)
Taylor Blake encosta rosto com emu Emmanuel
Taylor Blake encosta rosto com emu Emmanuel
Foto: Reprodução / Twitterr @hiitaylorblake

Um curioso caso chamou a atenção de virologistas e especialistas em saúde nos últimos dias: uma fazendeira viralizou nas redes sociais após compartilhar sua experiência e contato com um emu (ema-australiana) infectada pelo vírus da gripe aviária. Taylor Blake, da Knuckle Bump Farms, na Flórida (EUA), bombou na internet compartilhando conteúdos com a ave chamada de Emmanuel, bastante popular em vídeos do TikTok.

No dia 15 de outubro, ela compartilhou em sua conta no Twitter como 99% das aves da sua fazenda foram afetadas pela gripe aviária, doença causada pelo vírus Influenza aviária A (H5N1). 

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Mas o que chamou a atenção foi uma foto da fazendeira com seu rosto colado em Emmanuel, que foi infectado. Especialistas começaram a repercutir a imagem sobre os riscos de zoonoses.

Segundo Blake, gansos selvagens teriam trazido o vírus para os animais de sua fazenda. As contaminações por gripe aviária costumam ser assintomáticas nas aves selvagens, mas podem causar doença fatal nas aves domésticas. Outros animais, como mamíferos marinhos, também podem ser infectados pelas cepas do vírus, inclusive humanos.

Especialistas alertaram: não faça isso!

Boghuma Kabisen Titanij, médica e pesquisadora global de saúde e doenças infecciosas da Universidade de Emory, citou o tuíte de Taylor dizendo que colar seu rosto ao do bicho é uma “má ideia”. 

“Estou tão comovida por Emmanuel, o Emu, assim como muitos na internet e espero que ele se recupere, mas ficar cara a cara com uma gripe aviária de aves é uma má ideia —  é assim que ocorrem as transmissões zoonóticas, é por isso que fazendas inteiras abatem doentes pássaros. Vivemos com a ameaça da gripe pandêmica”, escreveu.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), sempre que os vírus da gripe aviária circulam em aves, há risco de infecção esporádica e pequenos aglomerados de casos humanos devido à exposição aos animais infectados ou ambientes contaminados. 

Desde 2003 a 31 de março deste ano, um total de 864 casos e 456 mortes de infecção humana por H5N1 foram relatados em todo o mundo em 18 países. No último relato, em 29 de abril de 2022, os Estados Unidos notificaram à OMS um caso humano confirmado laboratorialmente de gripe aviária em um homem do estado do Colorado. 

O virologista e professor Fernando Spilki disse a Byte que a imensa maioria das cepas de gripe que correm em aves não têm caráter zoonótico direto de transmissão para humanos. 

“Contudo, algumas dessas cepas têm potencial zoonótico relevante. Por isso, a vigilância em aves é tão importante, inclusive porque há novas cepas [do vírus] ainda desconhecidas circulando e nós não temos certeza do potencial de transmissão para humanos”, diz. 

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A transmissão pode ocorrer quando as aves infectadas espalham o vírus da gripe aviária através da saliva, mucosas e fezes e o vírus entra em contato com olhos, nariz ou boca de uma pessoa.

Relembre a gripe suína H1N1

Há 11 anos, foi descoberto no México um vírus influenza (H1N1) que causa uma doença que viria a ser conhecida como gripe suína. Ele se espalhou em questão de meses para mais de uma centena de países, entre eles o Brasil, e provocou a primeira pandemia no século 21.

Os vírus influenza do grupo A, do qual o subtipo de H1N1 identificado em 2009 faz parte, sofrem mutações frequentes e produzem novas cepas contra as quais não temos imunidade.

De acordo com Spilki, a comunidade científica esperaria uma nova pandemia de gripe, ocasionada por um vírus novo introduzido por aves, muito mais para frente. 

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“No entanto, esses ciclos estão muito acelerados no mundo. Precisamos de uma vigilância adequada, e não está afastada a possibilidade de, em algum momento nos próximos anos, a gente ter novamente a reintrodução do vírus na espécie humana — que pode levar a uma nova pandemia”, disse o virologista. 

Fonte: Redação Byte
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