Área de software da Sun é o rabo que abana o cachorro

3 set 2009 - 13h47
(atualizado às 14h28)

Quando a Oracle fechou acordo para adquirir a Sun Microsystems, em abril, as manchetes destacaram o fato da produtora de software haver decidido entrar no mercado de hardware, com 30 anos de atraso. Representando menos de 10 por cento das vendas da empresa, os negócios de software da Sun pareciam secundários.

Mas agora eles ocupam posição central, depois que as autoridades regulatórias da competição na Europa anunciaram nesta quinta-feira que postergarão a liberação do acordo até que concluam uma investigação sobre o impacto da fusão entre Oracle e Sun no mercado de software de banco de dados.

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Essa decisão significa que a transação será retardada em pelo menos quatro meses e uma conclusão da operação deve ficar para o começo do ano que vem. O atraso custará caro para a Oracle.

As vendas da Sun despencaram porque importantes clientes financeiros, governamentais e de comunicações da empresa decidiram adiar suas compras de computadores e equipamentos de armazenagem até que a Oracle possa esclarecer quais serão seus compromissos de longo prazo para com os produtos de hardware e software da Sun.

A Comissão Européia está debatendo se, ou sob que condições, permitirá à Oracle incorporar o software para bancos de dados MySQL, da Sun. Já que essa operação só registra US$ 100 milhões em receita por trimestre, menos de 4% do faturamento da Sun, a saída mais fácil para a Oracle seria abrir mão do MySQL. Mas isso seria um erro.

O MySQL é um banco de dados gratuito ou de baixo custo que aciona a vasta maioria dos mais quentes sites, blogs e negócios de fonte aberta na web, entre os quais Facebook, Google, YouTube e Wikipedia.

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O motivo da análise aprofundada da Europa é a posição da Oracle como maior fornecedora mundial de software para bancos de dados, os programas que servem de base para muitos dos maiores repositórios mundiais de informação.

O MySQL serve como alternativa aos produtos da Oracle e de seus principais rivais, IBM e Microsoft. As três empresas, somadas, respondem pela maior parte das vendas mundiais de software de banco de dados.

O argumento de que o MySQL representa muito mais problemas do que vale é válido e a Oracle deveria vender ou entregar o código do programa. Isso ocorre em parte porque os usuários do MySQL tendem a ser desenvolvedores ferrenhos à independência, algo completamente diferente de tradicionais clientes da Oracle nos segmentos de tradicionais de grandes empresas e gestão de informações de governo.

Críticos afirmam que a Oracle não tem interesse em ver o MySQL sobreviver e que a empresa está interessada apenas em converter seus usuários em clientes pagantes de banco de dados Oracle.

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Porém, o MySQL representa um fluxo de inovação de inestimável valor para a Oracle nos próximos cinco a 10 anos, assumindo que a Oracle possa adaptar-se à lógica dos desenvolvedores da Web, que representam a ala mais independente do mundo do software.

O MySQL pode ajudar a Oracle a competir de maneira mais eficiente contra a rival Microsoft, um objetivo que as autoridades européias devem avaliar.

A linguagem de programação Java, inventada pela Sun, compõe a base da maior parte do software moderno do mundo criado fora do universo da Microsoft.

Combinada com o software da Sun para gestão de identidades de usuários de rede e ao pacote de aplicativos para escritório Open Office, a Oracle poderá lançar um ataque muito mais amplo aos pontos fortes da Microsoft nos segmentos de aplicativos para desktops e mensagens instantâneas, especialmente em um momento em que esses setores estão convergindo para a web.

Muito além de ser uma área de negócios pequena, o braço de software da Sun pode reter a chave para um novo e importante round à competição na indústria.

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