O plano da BlackBerry para recuar do mercado consumidor em favor da sua tradicional força em serviços para empresas e governos é amplamente visto como um movimento desesperado, que observadores da indústria alertam que só vai acelerar a espiral descendente da companhia.
A mudança estratégica e dramática reestruturação estão alimentando temores sobre a viabilidade da companhia no longo prazo. A incerteza criada poderia facilmente empurrar um número crescente de parceiros de telecomunicações, clientes corporativos e consumidores a abandonar a plataforma.
"... Se a confiança de clientes e fornecedores continuar a cair, não importa quanto dinheiro eles tenham no balanço. As coisas poderão piorar", disse o analista da GMP Securities Deepak Kaushal.
A fabricante canadense de celulares inteligentes, que já foi líder no envio de emails por dispositivos móveis, anunciou a mudança de foco na sexta-feira, quando também afirmou que vai divulgar uma perda trimestral de cerca de US$ 1 bilhão e cortar mais de um terço de sua força de trabalho.
Em resposta a perguntas sobre a sua futura estratégia de vendas, a BlackBerry disse no domingo que vai fornecer mais detalhes no anúncio dos resultados trimestrais, em 27 de setembro.
Na sexta-feira, o presidente-executivo da companhia, Thorsten Heins, disse que a mudança estratégica para se concentrar nos chamados clientes corporativos vai jogar a favor dos pontos fortes da empresa em termos de segurança e confiabilidade.
"A segurança importa e as empresas sabem que o padrão-ouro em mobilidade corporativa é da BlackBerry", disse ele em um comunicado.
A Blackberry ainda tem uma base de clientes substancial, de 72 milhões de usuários em todo o mundo no final de junho, apesar do número ter diminuído ante os 76 milhões de clientes três meses antes.
A empresa tem lutado desde que o iPhone, da Apple, e os telefones Galaxy, da Samsung, avançaram para dominar um mercado que antes era seu.
A BlackBerry apostou forte que o smartphone Z10, o primeiro baseado em seu novo sistema operacional BlackBerry 10, irá ajudá-la a recuperar um pouco do brilho que detinha quando os usuários destes dispositivos eram em sua maioria advogados, banqueiros e políticos.
Mas a aposta ainda não vingou. Estimativas de Kaushal, da GMP, apontam que quase 3 milhões dos últimos aparelhos BlackBerry 10 estão juntando em distribuidoras que não conseguiram vendê-los. Para o segundo trimestre fiscal, a empresa disse que espera vendas de 3,7 milhões de smartphones BlackBerry para os usuários finais.
A mudança de volta para os clientes corporativos não traz uma solução clara para a empresa. Muitas grandes organizações já estão lidando com dispositivos rivais em suas redes internas e os funcionários estão cada vez mais preferindo a possibilidade de escolher o seu dispositivo, borrando a fronteira entre mercados empresariais e do consumidor.
O Credit Suisse, por exemplo, não está apoiando o Blackberry 10 e está ajudando funcionários a mudar para os dispositivos iPhone e Android.
"Nós não apoiamos o BlackBerry 10 por causa do custo adicional para os nossos servidores", disse a porta-voz norte-americana do banco Marcy Frank.
O Credit Suisse ainda dava suporte para aparelhos BlackBerry mais antigos porque muitos funcionários continuaram a usá-los, disse ela, mas acrescentou: "Nós estamos encorajando as pessoas a trazerem seus próprios dispositivos ... encorajamos as pessoas a desistirem de seu BlackBerry."
Enquanto isso, o vice-presidente de soluções de mobilidade da Citrix Systems, Phillip Redman, afirmou que teve reuniões com equipes de tecnologia de 60 empresas de vários setores e nenhuma delas tem como estratégia aumentar o número de Blackberrys. A Citrix fornece software que ajuda empresas a administrar dispositivos móveis.