Uma fábrica construída em um hub de inovação na cidade de Julich, na Alemanha, promete produzir combustíveis para aviação a partir do gás carbônico (CO2) presente na atmosfera e do calor do sol.
A iniciativa da startup suíça Synhelion ganhou o nome de Dawn e será a primeira usina do mundo a produzir combustível sintético em escala industrial.
O empreendimento ocupa um campo de 1.500 metros quadrados e deverá funcionar 24 horas por dia. Segundo a startup, a partir de mais usinas usando a tecnologia, o mundo seria capaz de produzir, a cada ano, até 875 milhões de litros de combustível por meio da luz solar a partir de 2030.
A primeira demonstração do sistema foi feita na sede do Instituto de Tecnologia de Zurique, em 2019. Agora, com a construção do projeto piloto, já existem até companhias aéreas na fila para voar com o querosene solar da Synhelion, como a Swiss Airlines.
O diretor Synhelion, Patrick Hilger, espera que o sucesso do empreendimento possa dar exemplo a outros participantes no mercado de combustíveis.
“A usina demonstrará que os combustíveis solares não são apenas uma construção teórica, mas em breve contribuirão ativamente para descarbonizar a aviação e o transporte de longa distância”, diz.
E como a produção funciona?
A usina funciona em um campo coberto por heliostatos – aparelhos formados por espelhos giratórios que direcionam raios de sol para uma torre. Dentro dela, um reator de 12 toneladas, cheio de CO2 e água, recebe o calor dos raios refletidos e alcança uma temperatura de 1.500 graus.
Adicionando pressão ao processo, o CO2 e a água com hidrogênio (H2) dentro do reator termoquímico são convertidos em monóxido de carbono (CO), que então é processado quimicamente para se transformar em querosene de aviação sintético, substituto para o combustível tradicional.
Apesar de novo, a produção inspira-se em um processo químico velho conhecido da indústria. O método Fischer-Tropsch, desenvolvido pelos alemães Franz Fischer e Hans Tropsch, em 1923, ajudou a produzir combustível de avião e petróleo a partir do calor advindo da queima de carvão durante a Segunda Guerra Mundial.
A grande diferença é que, por se tratar da combustão de carvão, o processo era extremamente poluente. A versão do processo usada pela Synhelion tem temperaturas bem mais altas e as matérias-primas são outras: energia solar e CO2 da atmosfera. A companhia promete, assim, um produto classificado como “neutro em carbono”, cuja produção retira da atmosfera a mesma quantidade de CO2 que libera quando é queimado.