Dezenas de adolescentes, jovens e adultos estavam reunidas em frente ao São Paulo Expo Center, na capital paulista, na manhã desta quinta-feira. Alguns tinham porte de empresário, com direito a sapatos de couro e camisas sociais. Outros, não tão preocupados com a aparência, vestiam tênis esportivos antigos e camisetas de personagens de quadrinhos, videogames ou seriados de televisão. Estilo nerd cult alternativo – se é que isso existe. De qualquer forma, todos estavam ali pelo mesmo motivo: o início da oitava edição da Campus Party no Brasil.
A feira é considerada um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. Ela recebe anualmente milhares de programadores, desenvolvedores, estudantes de diversas áreas da computação e simpatizantes do ramo para uma série de palestras, exibições, workshops e discussões. Isso você provavelmente sabe. Mas vou confessar: eu não sabia. Não sou nada íntima de computadores, aplicativos, tablets, smartphones e afins e nunca havia nem mesmo chegado perto de um evento deste tipo. Até hoje.
Logo na entrada do salão, a primeira surpresa, para novatos como eu, é a concentração do público. Parte dos “campuseiros” (sim, eles são chamados dessa maneira) ouviam as palestras como se estivessem dentro de salas de aula. E salas de aula bastante comportadas. Outra parte estava vidrada nas telas de seus notebooks ou nas telas dos notebooks dos colegas ao lado. Estes, porém, não eram tão silenciosos assim. Um dos costumes dos participantes é começar a gritar sempre que o local fica muito quieto. Quando um deles solta um grito (uma simples vogal “a” ou “o”), todos os outros repetem em coro até espalhá-lo por todo o espaço. Não me pergunte por que.
O salão principal é bem amplo. Ele possui grandes mesas, espalhadas por todos os cantos, dispostas com cabos de acesso à internet. Basta sentar ali e conectar seu computador em um deles para navegar. Nos cantos ficam os palcos que recebem as discussões e as palestras. E engana-se se você pensa que somente os experts em tecnologia os frequentam.
“Não precisa saber tudo. A Campus Party está aqui para explicar o que você não entende e aumentar o que você já entende. Você vem aqui e vê uma gama de áreas da tecnologia que vão desde o princípio até o mais avançado para você conseguir se aprofundar”, disse o estudante de Engenharia da Computação Marcos Carvalho, de 23 anos, enquanto comia uma fatia de pizza da noite anterior em cima de um pequeno skate verde-limão.
O sotaque revela: ele veio do norte, mais especificamente de Belém do Pará. Ao lado de alguns amigos, viajou de avião apenas para participar do evento. Os visitantes que moram longe, ou os que simplesmente não querem arredar o pé de lá, têm a opção de alugar barracas oferecidas pelo próprio evento e passar ali todas as noites, de 3 a 8 deste mês. A estrutura conta com banheiros e praças de alimentação.
“Não é muito ‘perrengue’. Ontem pedimos pizza, sobrou um monte. Trouxe alguns sanduíches também. Não é a alimentação que minha mãe indicaria, mas dá para sobreviver (risos)”, completou o jovem.
Marcos ainda explicou que a impressão das pessoas que não conhecem a feira costuma ser diferente da realidade. Muitos pensam que ela apenas oferece diversão com a tecnologia, mas a intenção da maioria dos campuseiros é outra. Cada vez mais profissionalizados, eles buscam se aprofundar e, quem sabe um dia, conseguir abrir sua própria empresa. A opinião é compartilhada por diversos frequentadores.
“Como existem vários palcos e vários focos, tem pessoas de todos os tipos. Alguns vêm se divertir, mas muitos estão aqui buscando conhecimento e empreendedorismo. Eu sou estudante de Engenharia Elétrica, vim assistir as palestras que me interessam”, disse Rafael Pereira, de 24 anos. Para participar da sua primeira edição do evento, ele viajou 14 horas de ônibus do norte do Espírito Santos para São Paulo.
“É imprensa? Então inventa um nome para mim, vai que minha avó descobre que estou dormindo em uma barraca”, brincou a estudante de sistema de informação Giovana, de 20 anos. Ela está no local com o namorado, Daniel, estudante de neurociência da mesma idade. Os dois, principalmente ele, estavam ansiosos pela apresentação do neurologista Miguel Nicolelis, responsável pelo exoesqueleto que fez um paraplégico dar o pontapé inicial na abertura da Copa do Mundo de 2014. “E estamos nos divertindo com essa internet. Olha a velocidade! Nunca teria uma dessa em casa”, afirmou ela, não antes de reclamar da falta de conexão wi-fi.
Por fim, o último salão é dedicado a stands com empresas que oferecem workshops e (finalmente elas!) máquinas de games. São simuladores de carros de corrida, disputas de robôs e aparelhos de dança – que, diga-se de passagem, não são nada fáceis. Assim como toda a feira, parecem ser apenas brincadeiras. Mas, como aprendemos nessa visita, brincadeiras para gente grande.