O setor de semicondutores da China está se preparando para mais quatro anos de briga com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, aumentando compras de equipamentos de fabricação de chips e buscando oportunidades de contratação de talentos estrangeiros, além de novas alianças.
Entre as estratégias que estão sendo consideradas estão a busca de laços mais estreitos com países e empresas que podem se sentir alienados pelas políticas futuras do presidente-eleito dos EUA e reforço aos esforços de autossuficiência, de acordo com uma análise de artigos publicados por empresas chinesas de chips, associações e analistas nesta semana após a vitória de Trump.
O futuro presidente dos EUA perseguiu os conglomerados de telecomunicações chineses Huawei e ZTE, bem como a fabricante de chips SMIC, durante seu primeiro mandato, colocando-os em listas negras de comércio que restringiram acesso a hardware e software desenvolvido nos EUA.
O governo de Joe Biden, por outro lado, tem se apoiado em amplos controles de exportação, com o objetivo de impedir que a China tenha acesso a chips mais avançados fabricados por empresas norte-americanas.
Zhu Jing, vice-secretário-geral da Associação da Indústria de Semicondutores de Pequim, pediu na quinta-feira às empresas chinesas de chips que reforcem seus negócios no exterior e se expandam para mais países, dizendo que pode haver oportunidades para retomar a aquisição de certas importações de chips caso a coordenação entre EUA, Japão e Europa para mais sanções contra a China enfraqueça sob Trump.
As empresas também devem se esforçar para atrair talentos estrangeiros se o governo Trump repetir a postura de seu primeiro mandato e implementar políticas que dificultem o trabalho de estudantes e profissionais chineses nos Estados Unidos, disse ele em um artigo publicado no WeChat.
"Depois que Trump assumir o cargo, é possível que haja alguns benefícios para o desenvolvimento do setor de semicondutores da China em termos de talentos profissionais, empresas multinacionais e cooperação estrangeira. Recomendo que nos adaptemos à nova situação e às mudanças em tempo hábil", disse ele.
Muitos dos artigos também previram que o setor verá um aumento nos controles de exportação e possíveis tarifas contra ele sob Trump e que dobrar a autossuficiência é o caminho a seguir.
"O primeiro mandato de Trump nos fez perceber a importância dos semicondutores e a necessidade de localização, abrindo caminho para que o setor de chips da China se torne autossuficiente", disse a Jinan Lujing Semiconductor Co, fabricante de microprocessadores de segurança usados em dispositivos de energia, em sua conta no WeChat.
MAIS BEM PREPARADO
A China aumentou compras de equipamentos de produção de chips do exterior. Nos primeiros nove meses deste ano, as importações chinesas dessas máquinas aumentaram 30%, chegando a 24,12 bilhões de dólares, de acordo com dados do país.
Desse total, 7,9 bilhões de dólares foram gastos em máquinas de litografia, que são necessárias na fabricação dos chips mais avançados, um aumento de 35,44% em relação ao ano anterior.
A maioria (7 bilhões de dólares) desses equipamentos veio da Holanda. A ASML parou de enviar suas máquinas de litografia ultravioleta profunda (DUV) mais avançadas para a China este ano e, em alguns casos, modelos DUV mais antigos para determinadas fábricas, seguindo as regras estabelecidas pelo governo Biden no ano passado. A empresa não consegue enviar suas máquinas de litografia ultravioleta extrema (EUV) para o país desde 2019.
Duas fontes do setor disseram à Reuters que as empresas chinesas estavam maximizando os pedidos de equipamentos de semicondutores para se protegerem de qualquer impacto eleitoral.
"As empresas chinesas de tecnologia, que sofreram o impacto das tarifas durante o primeiro governo Trump, expandiram progressivamente suas capacidades de produção para mitigar riscos futuros", disse Nori Chiou, diretor de investimentos da White Oak Capital Partners, com sede em Cingapura.
"Elas estão mais preparadas desta vez e se sentem mais prontas do que com a guerra comercial de 2018 e a eleição de 2020."