O que é o "bufo", droga proibida no Brasil feita de veneno de sapo

Participantes de grupo religioso acusam líderes de administrar droga durante rituais sem informar proibição

22 mai 2023 - 12h04
(atualizado às 12h31)
"Bufo" é extraído do Bufo alvarius, também conhecido como Incilius alvarius
"Bufo" é extraído do Bufo alvarius, também conhecido como Incilius alvarius
Foto: Por Holger Krisp/CC BY 3.0/Wikimedia Commons

O Instituto Xamanismo Sete Raios, grupo religioso que se define como xamânico, está sendo acusado de administrar uma substância psicodélica a participantes de rituais espirituais sem avisar aos envolvidos que a droga é proibida no Brasil.

Trata-se da 5-MeO-DMT, proveniente do veneno do sapo Bufo alvarius. Em entrevista ao portal G1, a advogada Gabriela Augusta Silva contou que teria procurado o grupo para um ritual de cura espiritual após passar por problemas familiares.

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  • Depois de fazer o uso do veneno, Gabriela perdeu a consciência por 30 minutos;
  • Então, começaram as crises de pânico e de ansiedade, surtos psicóticos, problemas respiratórios e pensamentos suicidas;
  • A jurista, que vive em Goiânia mas foi a São Paulo na ocasião, só soube do caráter poibido da substância após ir ao médico. Ela chegou a ser internada em um hospital neurológico, passou a frequentar o psiquiatra e tomar remédios controlados.

O que é o "bufo"?

O sapo da espécie Bufo alvarius (hoje chamada de Incilius alvarius), também conhecido como sapo do Rio Colorado ou do Deserto de Sonora, é encontrado nos Estados Unidos e no México. Tornou-se popular nos últimos anos devido às suas características psicoativas, segundo o Instituto Butantan.

Com a coleta ilegal, a espécie corre risco de entrar na lista de animais ameaçados de extinção.

Conhecida popularmente como “bufo”, a substância é secretada pelo animal quando ele é ameaçado, a partir da pressão nas glândulas de sua pele. Ela seca quando é extraída e, depois, é fumada em rituais e cerimônias, liberando o psicodélico 5-MeO-DMT e outras substâncias.

“O consumo de 40 mg da substância já gera um efeito anestésico e, a partir de 100 mg, pode causar alucinações", diz o diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan, Carlos Jared, em um informativo no portal da instituição.

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“É evidente que, como se trata do principal instrumento de defesa do animal, o objetivo do veneno é causar danos no predador ou agressor, ou até mesmo matá-lo – como acontece, em maior número, com cães".

Boa parte dos compostos presentes no veneno do Incilius alvarius faz parte de nosso metabolismo cerebral, como a adrenalina e a própria bufotenina.

Nos últimos anos, estudos científicos identificaram níveis elevados de bufotenina na urina de pessoas com esquizofrenia e com Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o pesquisador. 

Uma pesquisa publicada em 2010 apontou uma correlação entre altos níveis de bufotenina e a gravidade do TEA.

A droga está na lista de substâncias proscritas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Material sobre a droga

O grupo Xamanismo Sete Raios disponibiliza, em seu site, informações imprecisas sobre o bufo e a 5-MeO-DMT em seu site, sem fazer qualquer citação à proibição da Anvisa.

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Material com informações sobre produto proibido ainda está no site da instituição
Foto: Reprodução

"O Bufo alvarius não é uma substância aditiva ou que oferece qualquer risco de dano neurológico ou físico. Muito pelo contrário. Trata-se de uma experiência de efeito terapêutico-espiritual de grande pureza", afirma o material de divulgação.

No texto, é dito que o veneno, ao ser fumado, libera a 5-MeO-DMT, "uma molécula neurotransmissora que alcança rapidamente o cérebro e leva ao estado ampliado de consciência".

Instituto Sete Raios

Além de Gabriela, o G1 teve acesso a outras pessoas que relataram terem participado de rituais com o suposto uso do veneno. A advogada relatou que recebeu um pedido de desculpas de Felipe Rocha, sócio fundador do instituto xamânico, após expor o caso nas redes sociais

Em um áudio, ele diz que Gabriela não pode perder a confiança e sugere que ela acenda velas e tome um banho de ervas. Além disso, Rocha afirma que o grupo iria reconsiderar o uso da substância em seus rituais. 

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O grupo Xamanismo Sete Raios é alvo de inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura possível crimes de tráfico de drogas.

A defesa do instituto informou ao G1 que “jamais teve ou tem como objetivo incentivar ou promover o uso social ou terapêutico de substâncias ou, ainda, a substituição de práticas de saúde, tratando-se exclusividade de abordagem de caráter ritualística e religiosa, com finalidades espirituais”.

O instituto também disse que está sendo vítima de perseguição religiosa. “A denunciante claramente está utilizando a estrutura judiciária e os veículos de mídia para empreender uma cruzada pessoal contra uma instituição religiosa, motivada por questões de ordem pessoal e por restrições de crença. No mais, toda e qualquer falsa acusação será tratada devidamente perante à Justiça.

Byte tentou contato com o grupo Xamanismo Sete Raios e a Polícia Civil de São Paulo para saber mais sobre o caso e aguarda o retorno de ambos. Também busca contato com a advogada Gabriela Augusta Silva, mas até o momento ela não foi localizada.

Fonte: Redação Byte
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