O que seria preciso para morar no planeta Marte? 

Transferir a população da Terra para Marte vai muito além da distância e das diferenças da atmosfera; físico explica os principais desafios

16 ago 2022 - 16h44
Humanidade morará em Marte até 2027, diz pesquisador Stephen Petranek
Humanidade morará em Marte até 2027, diz pesquisador Stephen Petranek
Foto: Pixabay

A curiosidade pela vida em Marte, além da possibilidade de um dia o homem conseguir habitar o planeta, sempre fez parte dos debates sobre astronomia. Também deve ser uma das pesquisas mais desejadas da comunidade científica, e muito se fala de que a colonização vai sim acontecer em algum momento da nossa sociedade.

Em um estudo recente, foi descoberto que, em um cenário de 600 dias de viagem a Marte e 400 dias na superfície marciana, os tripulantes seriam expostos a níveis de radiação muito além do recomendado, mesmo se usassem escudos metálicos para proteção.

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A ideia de morar por lá foi bastante explorada na ficção, desde o filme "Perdido em Marte" até a série de TV "For All Mankind". Na nossa realidade, para o pesquisador Stephen Petranek, autor do livro How we’ll live on Mars (Como viveremos em Marte, em tradução livre), morar em Marte já tem data prevista: daqui a cinco anos. Em entrevista à Galileu, ele afirmou: “É algo inevitável e possível. Acredito que chegaremos lá em 2027.”

Como ele, muitas outras apostas e datas são lançadas com a expectativa de que parte da população da Terra possa migrar para lá. Mas será uma viagem longa: Marte fica a, no mínimo, 54.6 milhões de quilômetros daqui.

Porém, a distância parece ser o menor dos problemas para sonharmos em viver em terras marcianas. As diferenças de atmosfera, clima, existência de água, para citar alguns fatores, afastam as possibilidades de sobrevivência em Marte. Ainda é preciso muita pesquisa e investimento para gerarmos todas as condições para habitarmos a região em segurança.

Controlar a radiação

Para Eduardo Campos, mestre em ensino de Física e professor, o fato de já ter existido água no planeta confere uma grande vantagem, mas há muitas questões a serem consideradas. Uma delas é a necessidade de levar metais que possam produzir uma blindagem para a radiação, um dos grandes desafios para viver na superfície do planeta.

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“Como existe a dificuldade de transporte de metais pesados, como o chumbo, então a primeira necessidade seria aproveitar o subsolo de Marte para construir os habitáculos para tentar evitar a radiação, uma vez que o planeta não tem campo magnético para defletir a violenta radiação”, explica o físico.

Energia para driblar as baixas temperaturas

Outra necessidade seria a produção de painéis solares para gerar energia capaz de regular a temperatura. “Com a atmosfera extremamente rarefeita para regular o clima, as temperaturas oscilam consideravelmente ao longo do dia, sendo essencial contar com usinas de energia solar para manter os alojamentos e as bases”, pontua Campos.

Talvez um dos maiores desafios seja aprender a cultivar alimentos e tratar a água por lá, uma vez que a dificuldade logística para transportar produtos da Terra para lá, além de complexa, envolveria valores absurdos.

Sirenum Fossae, no planeta Marte; radiação é um dos maiores problemas para humanos viverem por lá
Foto: Divulgação / Nasa

Novas descobertas

Para alguns fatores, cientistas e investidores aceleram as pesquisas para que barreiras possam ser superadas. Recentemente, descobriram que um material chamado aerogel pode reter calor da luz solar em quantidade suficiente para proporcionar um ambiente favorável no Planeta Vermelho. 

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Estudos das Universidades de Harvard e de Edimburgo e da agência espacial Nasa mostram que uma camada fina de aerogel translúcido poderia aquecer o solo marciano em até 50ºC ou mais. Isso levaria a uma temperatura adequada para descongelar a água e criar um ambiente similar ao da Terra.

Respostas do corpo no Planeta Vermelho

Mas é importante lembrar que além das limitações físicas do ambiente, será necessário superar as limitações do próprio corpo humano.

A anemia espacial é uma das condições conhecidas pelos cientistas, identificada no retorno das viagens espaciais à Lua e a Marte. Há estudos que apontam a destruição de mais de 50% dos glóbulos vermelhos no espaço.

Colonizar envolve governar

Para o professor Eduardo Campos, o que quase ninguém fala é que existem as consequências políticas de uma colonização em Marte.

Questões sobre o modo como as nações se dividiriam, quem controlaria, como ficaria a supremacia e de que forma os direitos seriam regidos são grandes incógnitas. “Será um jogo de xadrez organizar a constituição sociopolítica em Marte. Poderíamos sair da Terra para tentar um recomeço e já iniciar com batalhas pelo poder”, argumenta Campos.

Segundo o professor, toda a logística e a parte física, além de investimentos, são pontos muito complexos. “Pelo meu conhecimento em Física e tecnologias, não vejo Marte colonizado neste século”, estima.

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A preocupação mais urgente na avaliação do professor é se a Terra conseguirá manter as condições para ser habitada até ser possível viver em Marte, tendo em vista o atual estágio de agravamento climático e também as questões políticas que colocam em risco toda a vida humana. “Será que sobreviveremos a nós mesmos antes de nos tornarmos uma civilização intergaláctica?”, indaga o físico.

Fonte: Redação Byte
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