Um objeto metálico e cilíndrico atingiu um carro estacionado na garagem de uma residência em Santos (SP) na última semana. Em entrevista ao portal G1, o dono do veículo, Marcel de Camargo, disse que a peça estava “fervendo”.
Ainda não se sabe a origem do item. Ele caiu tão rapidamente que amassou o teto do carro. Segundo especialistas, o mais provável é que a peça tenha se desprendido de alguma estrutura que flutua na atmosfera terrestre, como um satélite.
Helio J. Rocha-Pinto, diretor do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade Astronômica Brasileira, disse a Byte que tanto o formato cilíndrico quanto a constituição do material apontam para uma origem industrial.
“Como caiu do céu, a maior probabilidade é que seja lixo espacial”, afirmou.
Para ter a resposta concreta, no entanto, é necessário ter uma análise mais aprofundada do material, como explicou Yanna Martins, astrônoma e professora no Observatório do Valongo.
“Dependendo da função da peça e da empresa que a fabricou, ela possui um número de série ou lote que indicam sua procedência e facilitam sua identificação”, aponta. "Pelo formato do objeto, parece algo vindo mesmo de um satélite.”
Lixo espacial
A maioria do lixo espacial se forma quando antigos satélites artificiais colidem no espaço, ou quando são abandonados ao fim de sua vida útil. Outros objetos podem ser pedaços de estágios de foguetes que se desprendem durante o lançamento de carga útil ao espaço.
O entorno do nosso planeta possui cerca de 9.000 toneladas de lixo espacial em órbitas de baixa energia. A maioria desses pequenos objetos cairão sobre a Terra em alguns anos ou décadas.
De acordo com a Nasa, mais de 27 mil pedaços de detritos orbitais são rastreados pelos sensores globais da Rede de Vigilância Espacial (SSN) do Departamento de Defesa.
Rocha-Pinto afirma que os pedaços menores podem se desintegrar durante a queda. Mas, se o material que os compõem for mais rígido, eles conseguem sobreviver à travessia pela atmosfera e causar risco a regiões habitadas.
"Aqueles compostos por metal conseguem sobreviver à queda e chegam ao solo bem quentes", diz.
A expectativa, segundo os pesquisadores, é que incidentes como esse só aumentem.
"Com a maior ocupação das órbitas por parte de satélites, também aumenta a probabilidade de lixos espaciais gerados pela destruição e inatividade dessas naves cairem em regiões ocupadas do globo. Iniciativas como os satélites Starlink, da empresa SpaceX, estão gerando um montante sem precedentes de lixo espacial, contribuindo para possíveis acidentes como esse", diz Yanna Martins.
Pode matar pessoas?
Em outros anos, a grande maioria dos pedaços de equipamentos espaciais que retornavam à Terra caía nos oceanos. Incidentes do tipo em terra firme eram raros.
No entanto, o aumento de quedas de lixo espacial poderá levar também a registros de mortes e ferimentos em pessoas e animais provocados por ele. Por sorte, o único caso de alguém atingido até hoje foi o de Lottie Williams, em Oklahoma, nos EUA, em 1997.
Por incrível que pareça, ela saiu ilesa quando um pedaço de lixo espacial caiu no seu ombro. Mas o caso de Santos mostra que, caso o detrito atingisse diretamente pessoas, as chances de uma fatalidade seriam grandes.