Nasceu um bebê com três pais "genéticos", mas o que isso significa?

Técnica, conhecida como tratamento de doação mitocondrial (MDT), utiliza tecido dos óvulos de doadoras saudáveis para criar embriões

26 mai 2023 - 05h00
Apesar do nome "bebês de três pais", mais de 99,8% do DNA nos bebês vieram da mãe e do pai
Apesar do nome "bebês de três pais", mais de 99,8% do DNA nos bebês vieram da mãe e do pai
Foto: Warren Umoh / Unsplash

Vocês devem ter lido por aí ou aqui mesmo no Terra Byte. O primeiro bebê do Reino Unido criado com o DNA de três pessoas nasceu após médicos realizarem um revolucionário procedimento de fertilização in vitro (FIV) que visa impedir que as crianças herdem doenças incuráveis.

Explicando: a técnica, conhecida como tratamento de doação mitocondrial (MDT), utiliza tecido dos óvulos de doadoras saudáveis para criar embriões de FIV sem as mutações genéticas que as mães carregam e passariam aos filhos.

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Como os embriões combinam espermatozóide e óvulo dos pais biológicos com estruturas minúsculas semelhantes a baterias chamadas mitocôndrias do óvulo da doadora, o bebê resultante tem DNA da mãe e do pai como de costume, além de uma pequena quantidade de material genético — cerca de 37 genes — da doadora. O processo levou à frase que todos os veículos chamaram de "bebês de três pais", embora mais de 99,8% do DNA nos bebês tenham vindo da mãe e do pai.

Bom, e daí? O que a gente tem a ver com isso?

Esse tratamento de doação mitocondrial representa um marco significativo na medicina reprodutiva e genética. Ele tem o potencial de prevenir a transmissão de doenças genéticas incuráveis de mãe para filho, oferecendo esperança para as famílias afetadas por doenças genéticas.

Além disso, este avanço poderia eventualmente levar a novas abordagens terapêuticas para uma variedade de outras doenças genéticas. 

Ao mesmo tempo que a manipulação genética é uma das conquistas mais impressionantes da humanidade recentes, ela traz consigo uma série de questões importantes, tanto do ponto de vista da ética quanto prática. Precisamos nos perguntar:

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  1. Equidade e acesso: quem terá acesso a estas tecnologias? Existe o risco de criar uma divisão ainda maior entre os ricos, que podem ter acesso a tratamentos e melhorias genéticas, e os pobres, que não podem.
  2. Autorização informada: como garantimos que os pacientes e/ou os pais entendam plenamente os riscos e benefícios potenciais da manipulação genética? Isto é especialmente relevante quando se considera a edição genética de embriões ou de células germinativas, que afetará todas as gerações futuras.
  3. Implicações para a diversidade humana: a edição genética poderia ser usada para eliminar certas características ou condições, potencialmente diminuindo a diversidade humana. Além disso, poderia ser usada para "melhorar" os humanos como serem mais fortes, mais inteligentes, ou terem olhos azuis — ou seja, vai muito além do tratamento de doenças. Poderemos sem querer reacender a ideia da eugenia?
  4. Riscos à saúde e segurança: ainda não entendemos completamente os efeitos a longo prazo da edição genética. É possível que a edição de um gene possa ter efeitos indesejados ou inesperados, possivelmente levando a novas doenças ou problemas de saúde.
  5. Questões de identidade e parentesco: em casos como o tratamento de doação mitocondrial, onde o DNA de três pessoas está envolvido, surgem questões complexas sobre identidade e parentesco. Poderiam trisais decidir ter filhos de três pessoas? Quatro? Como limites são estabelecidos e com base em qual critério?
  6. Questões de crença ou religiosas: alguns argumentam que a manipulação genética é uma interferência inaceitável no "curso natural" das coisas. Estas questões são especialmente sensíveis quando se trata de edição genética em embriões ou células germinativas.
  7. Possíveis implicações evolutivas: se a edição genética for usada em larga escala, ela poderia potencialmente influenciar a trajetória evolutiva da nossa espécie. 

Nenhuma dessas questões vão impedir a tecnologia de avançar — e nem deveriam. Porém, é importante que todos tenham informação para que possamos ter múltiplas vozes em um debate robusto e inclusivo sobre a manipulação genética, que envolva não apenas cientistas, mas também filósofos, éticos, legisladores e o público em geral.

Afinal, não estamos falando de algo banal — mas sim, da primeira vez que o homem está conscientemente manipulando a evolução da sua própria espécie.

Fonte: Redação Byte
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